RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Eventuais sanções dos Estados Unidos e da Europa a compradores de petróleo russo não devem afetar o abastecimento de combustíveis no Brasil, segundo especialistas, mas jogarão pressão sobre o preço do produto.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vem prometendo anunciar em breve maiores tarifas de importação sobre países que compram a produção da Rússia, mas ainda não detalhou os valores. Nesta semana, o republicano determinou a aplicação de uma taxa adicional de 25% sobre as importações da Índia em retaliação pela compra de petróleo da Rússia.
O Brasil é grande cliente de diesel russo, que representa cerca de 60% das importações de combustíveis pelo país. Também importa gasolina e nafta petroquímica, mas em volumes menos relevantes.
A avaliação de autoridades e empresas do setor é que o diesel russo pode ser substituído pela oferta de outros países, caso Trump, de fato, aumente as tarifas.
Responsável por garantir o abastecimento de combustíveis no país, a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) diz que as importações brasileiras de diesel representam menos de 10% do comércio internacional do produto.
“Isto, somado à informação sobre o peso dos principais países de origem do produto, leva a crer que há espaço razoável para um remanejamento de fluxos internacionais de produto capaz de mitigar riscos de abastecimento”, afirmou, em nota à Folha.
Mesma visão tem a Petrobras: “A importação do Brasil não é significativa em termos globais. Mesmo que haja alguma restrição ao diesel russo, distribuidoras poderão buscar outras frentes de mercado”, disse nesta sexta-feira (8) o diretor de Comercialização, Logística e Mercados da Petrobras, Cláudio Schlosser.
Ele cita entre alternativas as refinarias americanas, de onde a própria estatal compra parte do diesel que importa, e fornecedores no Oriente Médio. “A gente entende que esses importadores vão buscar outra origem.”
“Até 2022, a principal fonte de diesel importado eram os Estados Unidos. A Rússia nem é um importador natural”, acrescenta a analista de combustíveis da consultoria Argus, Gabrielle Moreira. “Os Estados Unidos são a principal alternativa, em 15 dias dá para trazer diesel para um porto brasileiro.”
O principal impacto esperado pelo mercado, portanto, está no preço das importações, já que o diesel russo tem hoje grande desconto em relação à produção de outros países.
Gabrielle diz que o diesel russo custa entre US$ 0,04 ou US$ 0,05 por galão a menos do que o americano. Se a importação for feita de refinarias já sancionadas da União Europeia, o desconto é ainda maior.
Importadores privados, porém, avaliam que a importação de diesel sem desconto nesse momento é inviabilizada pela elevada defasagem nos preços praticados pelas refinarias da Petrobras.
Na abertura do mercado desta sexta, a Petrobras vendia diesel em suas refinarias com desconto de R$ 0,21 em relação à paridade de importação medida pela Abicom (Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis). A defasagem chegou a bater R$ 0,53 por litro no fim de julho.
Nesse cenário, dizem executivos de médias distribuidoras, apenas a estatal e grandes empresas conseguem importar, já que conseguem diluir preço mais alto do produto importado com o preço do produto comprado da Petrobras, obtendo um valor final mais competitivo.
Uma das principais importadoras de diesel russo para o Brasil, a Nimofast avalia que os preços sofrerão ainda com uma “guerra” pela oferta americana. “No médio prazo, o preço vai subir. E vai subir muito”, diz um dos sócios da empresa, Ramon Reis.