RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O MP-SP (Ministério Público de São Paulo) deflagrou nesta quinta-feira (7) uma operação contra um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro que teria desviado recursos milionários da saúde pública. As investigações apontam que o grupo movimentou sob suspeita mais de R$ 1,6 bilhão por meio da gestão fraudulenta de uma OS (Organização Social) com sede em Catanduva (SP).
Até a tarde, nove pessoas foram presas na cidade e uma em Santa Catarina. Mandados de busca, apreensão, afastamento de funções e bloqueio de bens também foram cumpridos nos municípios paulistas Arujá, Carapicuíba, Piracicaba, Viradouro e Bauru.
A Operação Duas Caras também esteve em estados como Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
A investigação aponta que membros da OS ligada ao Hospital Psiquiátrico Mahatma Gandhi contratavam empresas de fachada e prestadoras terceirizadas que pertenciam ao próprio grupo, emitindo notas fiscais frias e superfaturadas.
A FVS Administração e Gestão Judicial, que está à frente da entidade por determinação judicial, afirmou que assumiu a administração da associação e da OS Mahatma Gandhi após o afastamento da antiga diretoria, com o objetivo de “regularizar a situação da entidade” e manter a prestação dos serviços.
A Justiça determinou a intervenção na OS por 30 dias para garantir a continuidade do atendimento e evitar prejuízos a pacientes e trabalhadores.
Segundo o Ministério Público, o grupo chegou a criar um “departamento extraoficial” para manter contabilidade paralela, lavar dinheiro e viabilizar pagamentos indevidos com o objetivo de expandir contratos em outros estados. O esquema teria reflexos diretos no atendimento: foram registrados casos de mortes e ações trabalhistas em unidades administradas pela OS.
“Identificamos duas frentes: prestadores de serviço, como empresas que treinavam médicos e enfermeiros, e fornecedoras de produtos, além de um superfaturamento na folha de pagamento”, afirmou o promotor João Paulo Gabriel de Souza, do Gaeco, em entrevista coletiva.
Em Santa Catarina, foram cumpridos nove mandados de busca e apreensão e um de prisão. O Ministério Público local disse que apreendeu R$ 91 mil em espécie, moedas estrangeiras, sete celulares e dois computadores.
OPERAÇÃO PARALELA DA PF
No mesmo dia, a Polícia Federal cumpriu mandados contra o ex-prefeito de Bebedouro (SP) Fernando Galvão Moura. Ele é suspeito de ligação com a OS de Catanduva em um contrato de R$ 13,2 milhões. Segundo a PF, empresas de fachada ligadas a dirigentes da organização desviavam recursos destinados à rede pública de saúde local.
A Operação Descalabro cumpriu 15 mandados de busca e apreensão e sequestrou bens e valores. A defesa de Moura nega participação e afirma que ele só foi citado porque os desvios teriam ocorrido enquanto ele era prefeito, mas sem seu envolvimento.
Os investigados poderão responder por peculato, corrupção, associação criminosa, lavagem de dinheiro e fraudes em licitações.