BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) disse ter apresentado ao encarregado de negócios dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, nesta quinta-feira (7) os argumentos do governo brasileiro contra as tarifas impostas pelo governo de Donald Trump ao país.

Entre os argumentos, já apresentados aos negociadores americanos meses atrás, Alckmin reforçou que a tarifa efetiva aplicada pelo Brasil a produtos americanos é de 2,7% e que, dos dez produtos que os EUA mais vendem ao Brasil, oito possuem tarifa zerada.

“Ele é o representante dos Estados Unidos no Brasil. […] E ele veio conversar, nós dissemos claramente os nossos argumentos”, afirmou Alckmin, defendendo o diálogo nas negociações com os americanos.

“Se tem problema não tarifário, vamos sentar, conversar e resolver”, disse. “Questões não tarifárias, data center, big tech, minerais estratégicos, você pode construir aí uma pauta de conversa, entendimento para superar esse problema”, acrescentou. “Nós não criamos [o problema], mas vamos trabalhar para resolver.”

Como mostrou a Folha de S.Paulo, a guerra comercial provocou um expressivo salto no valor da tarifa aplicada a produtos brasileiros. Antes do início do embate comercial, os Estados Unidos adotavam uma tarifa efetiva média de 1,9% para os produtos importados do Brasil. Com a entrada em vigor da sobretaxa de 50% a produtos brasileiros, essa média subiu para 32,2%, segundo levantamento realizado pela equipe de economistas da LCA Consultoria.

Procurada, a embaixada dos EUA apenas confirmou o encontro de Escobar com Alckmin, mas disse não divulgar o conteúdo de reuniões privadas.

Segundo Alckmin, o Brasil trabalha para diminuir a alíquota cobrada do país e aumentar o número de exceções, hoje a lista conta com quase 700 itens. “É perseverar, [ter] resiliência, mostrar que, se é um perde-perde, é uma coisa ruim também para os Estados Unidos, que vai encarecer os produtos americanos, rompe cadeias produtivas”, disse.

Ficarão isentos do aumento de tarifas, por exemplo, derivados de petróleo, ferro-gusa, componentes de aviação civil e suco de laranja. Por outro lado, carnes, café e pescado não escaparam da sobretaxa.

Em paralelo, o vice-presidente falou sobre o plano de contingência para socorrer as empresas exportadoras mais atingidas pelo tarifaço. “Você tem setores que 90% é [para] o mercado interno, e a exportação é 5%, no máximo 10%. Tem setores que metade do que produz é para exportar. Tem setores que, do que exporta, mais da metade é para os Estados Unidos, estão muito expostos”, afirmou.

Alckmin confirmou que a proposta já foi apresentada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e que as medidas do plano devem ser anunciadas até a próxima semana. “O presidente vai bater o martelo e aí vai ser anunciado. Se não for amanhã [sexta, 8], provavelmente na segunda [11] ou terça-feira [12]”, disse.

O plano de contingência prevê, entre diversas medidas, liberação de crédito para empresas e aumento de compras governamentais, de acordo com os ministros. Representantes dos setores afetados pelo tarifaço pedem mais urgência ao governo para atenuar o impacto previsto sobre produção e empregos.

Segundo reportagem da agência de notícias Reuters desta quinta, o governo brasileiro estuda destinar cerca de R$ 30 bilhões em crédito com condições diferenciadas para apoiar empresas impactadas pelo tarifaço.

Os recursos viriam do Fundo de Garantia às Exportações (FGE), administrado pelo BNDES, que tem cerca de R$ 50 bilhões e é superavitário.

O plano prevê que os tomadores dos empréstimos com condições especiais terão que manter os empregos, como contrapartida para o acesso aos recursos, segundo a Reuters. A expectativa é que o crédito seja oferecido com juros reduzidos e prazo de carência.