SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O governo brasileiro acredita que haverá uma escalada nas tarifas e sanções dos Estados Unidos contra o Brasil se houver condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF (Supremo Tribunal Federal), decisão considerada a mais provável.
O STF deve iniciar o julgamento da trama golpista em setembro. As tarifas de 50% sobre aproximadamente metade das exportações brasileiras para os EUA entraram em vigor na quarta-feira (6). Além disso, foram impostas sanções decorrentes da Lei Magnitsky contra o ministro do STF Alexandre de Moraes.
O Planalto também considera possível que o presidente americano, Donald Trump, imponha tarifas adicionais sobre o Brasil em retaliação à importação de produtos da Rússia (sanções secundárias), como o diesel -a exemplo do que foi feito com a Índia, que foi taxada em decorrência de suas importações de petróleo russo.
Nesse caso, no entanto, integrantes do governo afirmam que ainda há espaço -houve adiamento de 20 dias das taxas à Índia e Trump vai se reunir com o líder russo Vladimir Putin, o que pode mudar, mais uma vez, a política americana em relação ao Kremlin por causa da guerra na Ucrânia.
De qualquer maneira, segundo uma pessoa do governo brasileiro, está fora de cogitação um telefonema do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para Trump. Na interpretação do governo, a ligação seria uma armadilha, porque Trump exigiria o perdão a Bolsonaro e Lula não poderia aceitar. Dessa maneira, a ligação poderia sair pela culatra -Trump teria uma desculpa para aumentar, ainda mais, as tarifas sobre o Brasil.
Além disso, o governo considera que o Brasil obteve uma vitória no campo político ao resistir a Trump, com figuras influentes como os economistas Paul Krugman e Joseph Stiglitz e o cientista político Steve Levitsky destacando a dignidade da reação brasileira às chantagens de Trump.
Na visão do governo brasileiro, tentar agradar a Trump também não resolveria a situação -é citado o comportamento do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, que teve reunião amigável na Casa Branca, bom relacionamento com o americano, e ainda assim seu país foi alvo de tarifas pesadas.
A avaliação é a de que é muito difícil um recuo do governo Trump, com remoção de tarifas sobre café, carnes e frutas. Isso só ocorreria em duas circunstâncias. Uma possibilidade seria o presidente americano afirmar que recebeu uma ligação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e, graças a ele, iria remover as tarifas -isso ajudaria o trumpismo e o bolsonarismo.
Outra possibilidade seria uma redução geral de tarifas sobre certos produtos que os EUA não produzem, como já ocorreu. Nesse caso, a redução da tarifa seria para todos os países que exportam determinados produtos, e não apenas para o Brasil.
O governo brasileiro admite que não tem havido muitos avanços nas negociações com o governo dos EUA, a partir de contatos do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, do vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, e do chanceler Mauro Vieira com seus contrapartes americanos. Na visão do Planalto, a negociação está congelada por causa da não abertura do governo americano para discutir outros temas que não sejam Bolsonaro.
O Planalto descarta a possibilidade de uma reação coordenada do BRICs às tarifas de Trump -alguns países do bloco se opõem a um enfrentamento com Trump.