SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A prisão domiciliar de Jair Bolsonaro (PL), criticada até por ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), reanimou aliados de Tarcísio de Freitas (Republicanos) quanto à possibilidade de ser o candidato à sucessão do bolsonarismo à Presidência em 2026.
O movimento ainda é tímido e ocorre na esteira de semanas de desânimo com uma potencial candidatura. Até a semana passada, a avaliação que Tarcísio fazia sobre o cenário eleitoral era de um momento negativo para seu grupo político, segundo interlocutores.
O governador foi alvo de críticas, de diferentes lados do espectro político, por sua tentativa de atuar no tarifaço, por não se manifestar sobre sanções dos Estados Unidos contra Alexandre de Moraes, do STF, e por não ter feito qualquer gesto a respeito dos atos bolsonaristas no domingo (3).
Aliados calculavam que, mais do que em qualquer outro momento, ele mais perdia do que ganhava ao entrar nessa disputa.
Na manifestação pró-Bolsonaro em que ficou ausente, recebeu duro ataque do pastor Silas Malafaia, que disse: “Estão com medo do STF? Por isso não chegaram até aqui? Arrumaram desculpa”.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) também criticou governadores de direita, como Tarcísio, por não terem participado dos atos bolsonaristas de domingo (3), classificando como um “erro estratégico grande”. O movimento, assim como a insistência de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) em se colocar como sucessor, ainda que vivendo nos Estados Unidos, são vistos como disputa interna pelo espólio eleitoral do pai.
Com a antecipação da já esperada prisão de Bolsonaro, na última segunda (4), pessoas próximas disseram ter havido um novo movimento de pressão para que Tarcísio se mantenha no rol de sucessores. Nesta quinta (7), o governador esteve em Brasília e pediu autorização do STF para visitar o padrinho político em prisão domiciliar.
Tarcísio foi ministro da Infraestrutura no governo Bolsonaro e, na pasta, endossou a postura negacionista do então presidente sobre a Covid. Estava ao lado dele na live em que o ex-presidente riu ao comentar um suposto aumento de suicídios na pandemia.
Um dos fatores de desânimo em Tarcísio, segundo aliados, é a falta de disposição de comprar briga com o clã Bolsonaro. O governador tem o hábito de barrar conversas de aliados e subordinados sobre sua eventual candidatura presidencial.
O único cenário em que o governador toparia abrir mão da reeleição ao Governo de São Paulo para concorrer ao Planalto, de acordo com eles, seria caso Bolsonaro publicamente o indicasse como sucessor.
O gesto é considerado por aliados como a única forma de dissipar os ruídos no campo político. Por isso, também, apesar de ser alvo frequente de bolsonaristas, ele faz questão de manter canal direto com Bolsonaro, com quem se encontrava periodicamente e falava com frequência.
Interlocutores do ex-presidente dizem que ele tem consciência da dificuldade eleitoral que seus filhos enfrentariam numa disputa presidencial, e que Tarcísio teria maiores chances de prosperar. Contudo, segundo relatos, até a semana passada, o governador dizia que, se concorresse contra Lula, perderia.
Tarcísio argumentava que a sobretaxa de 50% aos produtos do Brasil, imposta pelos Estados Unidos, prejudicou seu campo político, diante dos prejuízos econômicos para o eleitorado sobretudo porque ele mesmo apoiou a eleição de Donald Trump.
Afirmava ainda que o campo adversário havia aprendido a usar redes sociais e que Lula, vencedor de cinco eleições, segundo suas contas (considerando também as vitórias de Dilma Rousseff), jamais poderia ser subestimado.
Mesmo sua reeleição estaria em risco, segundo o relato de interlocutores. Tarcísio avaliava que o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), que governou São Paulo quatro vezes, havia ganhado protagonismo entre empresários nas discussões para atenuar a crise e que poderia se animar a voltar ao Palácio dos Bandeirantes.
Nessas avaliações, contudo, o governador diminuía a importância do trabalho do vice-presidente, dizendo que as próprias empresas afetadas haviam acionado fornecedores e compradores para negociar melhores termos com o governo norte-americano, algumas delas com sucesso, como a Embraer (que foi poupada do tarifaço).
Além disso, Tarcísio destacava que ainda havia tempo para reverter o cenário adverso e que o campo adversário também poderia se desgastar até a eleição, que será em outubro do ano que vem.
Publicamente, o governador havia acionado um modo defensivo. Evitou agendas públicas na capital passou a primeira semana após o início da crise no interior do estado, distante da imprensa nacional, e a semana seguinte apenas em despachos internos no Palácio dos Bandeirantes e reduziu postagens nas redes sociais.
Além disso, sem saber como seria a manifestação da avenida Paulista no último domingo, ele marcou um procedimento médico simples para o mesmo horário, o que o fez ser criticado no palanque.
Tarcísio, contudo, marcou pontos entre bolsonaristas tanto por ter reagido de forma rápida à prisão do ex-presidente, com um vídeo publicado horas após a prisão, quanto pelo tom enérgico da mensagem.