SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Raquel Davidowicz pega algumas peças da arara de roupas femininas e pendura na masculina –uma calça larga com o gancho baixo, uma jaqueta bomber com dois bolsos extragrandes na frente, um tricô com a gola e a barra puídas. Ela repete a operação com outras roupas, desta vez no sentido inverso.

A ideia, diz a estilista e fundadora da UMA, grife paulistana conhecida pela sua alfaiataria esportiva, é mostrar como não é mais preciso tachar o que é para homem ou para mulher. “Sempre gostei de fazer essa roupa mais andrógina, como eu gosto de me vestir. Essa fluidez que tem na marca. Todo mundo compra de tudo.”

Marca autoral mais centrada no público feminino com uma história de quase 30 anos na moda brasileira, a UMA volta esta semana a lançar coleções masculinas, depois de cerca de uma década sem uma linha com modelagens pensadas especificamente para o corpo dos homens, que, mesmo assim, nunca deixaram de comprar as criações de Davidowicz em São Paulo ou no Rio de Janeiro, onde a etiqueta tem lojas.

Artistas, publicitários, arquitetos, designers, psicólogos e psicanalistas, que a criadora de moda afirma serem os principais clientes, procuram a estética minimalista e utilitária da UMA, de linhas mais retas e modelagens mais amplas. Estas características formam a identidade da marca, assim como os tecidos leves e maleáveis que flertam de leve com o esportivo.

Falta um pouco de modernidade no mercado de moda masculina, diz Davidowicz, lacuna que a UMA quer suprir. Davidowicz conta também que os homens gostam dos tecidos menos comuns que ela oferece. Na coleção que chega às araras nesta quinta-feira (7), há, por exemplo, uma camisa clássica com um bolso duplo de proporções avantajadas, elemento que dá charme à peça feita de algodão, poliamida e elastano.

O tecido, fresco o suficiente para ser vestido no verão, aparece também numa sobrecamisa. As camisetas de manga curta, num algodão orgânico levíssimo, tem corte assimétrico que deixa a gola com um degrau de tecido. Mesmo as calças jeans básicas, confeccionadas em algodão puro, sem elastano, trazem detalhes fora do esperado, como bolsos extragrandes.

Segundo a estilista, a mentalidade era mais engessada há uma década, mas hoje os homens se permitem mais criatividade na hora de vestir, e por isso ela tem tantos clientes que compram das araras femininas. Esta foi uma mudança de pensamento que ela diz ter visto desde quando lançou a coleção masculina pela primeira vez, que acabou saindo de linha porque a conta da produção e das vendas não fechava.

Outra mudança, conta, foi a tomada de consciência dos consumidores em relação a temas como durabilidade do vestuário e sustentabilidade. Davidowicz cria e faz as modelagens e os pilotos das peças no ateliê da marca na Vila Madalena, em São Paulo. Depois, contrata oficinas para produzirem as roupas e acessórios como bolsas e sapatos, antes de vender para multimarcas pelo Brasil e para clientes do exterior.

Seu maior orgulho é ter mantido a coerência no seu design. “Tenho um DNA que não abandonei durante 30 anos. Começaram a aparecer termos como ‘quiet luxury’, e eu faço isso desde que comecei a UMA –não tem grifes aparecendo, é a pessoa que faz a coisa acontecer”, ela diz. “Quando você tem essência, as pessoas reconhecem.”