SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – No momento em que o presidente dos EUA, Donald Trump, arrocha a pressão tarifária sobre a Índia e o Brasil, empresários dos dois países se reúnem em Mumbai nesta semana para sinalizar interesse na expansão dos negócios entre si como alternativa ao mercado americano.
A aproximação acontece durante uma missão empresarial organizada pelo grupo Lide, do ex-governador de São Paulo João Doria, evento que já estava previsto antes da investida trumpista, mas ganhou um ar de emergência diante dos desdobramentos da guerra comercial declarada por Washington.
Nesta quarta-feira (6), quando o tarifaço contra o Brasil entrou em vigor, Trump determinou a aplicação de uma taxa adicional de 25% sobre as importações da Índia para retaliar a aquisição de petróleo da Rússia. A nova ordem amplia para 50% a sobretaxa imposta aos indianos.
A repercussão da medida nos debates promovidos no encontro empresarial do Lide em Mumbai apareceu já na fala de abertura apresentada por Doria, que criticou a sobretaxa americana contra a Índia e defendeu o incremento das relações bilaterais.
“Não se trata de buscar confronto com os EUA ou com Trump, mas de buscar oportunidades de negócios para a Índia, o Brasil e outros países. A mesma situação de sofrimento imposta por sobretaxas vem acontecendo no México, Canadá, União Europeia e países da África. Por que não colocar todos os países juntos para estabelecer uma nova força global, incluindo a China, para termos mercados que superem decisões equivocadas da maior nação do mundo economicamente?”, disse Doria.
Kenneth Nóbrega, embaixador do Brasil na Índia, que participou do evento, disse que o interesse entre os dois países já vinha crescendo nos últimos dois anos, ele diz ter recebido mais de 70 missões comerciais do Brasil, mas no momento em que ambos enfrentam a elevação das tarifas, é natural que busquem alternativas em parceiros com os quais já tenham longas relações.
Ele mencionou um potencial de US$ 30 bilhões na corrente de comércio entre os países, além dos novos investimentos mútuos, como a recente abertura de um escritório da Embraer em Nova Delhi, o anúncio de cerca de US$ 120 milhões da Embraco no estado de Maharashtra para produzir compressores de refrigeração, e uma expansão dos negócios da TCS (Tata Consultancy Services) em Londrina.
“Acho que, neste momento, temos que olhar mais para o fluxo de investimentos nos dois sentidos do que para a balança comercial, que deve se refletir mais adiante. A pauta exportadora é concentrada em commodities, e os preços variam, já chegou a US$ 15 bilhões há dois anos. Mas o que estamos vendo é que o movimento mútuo de investimentos produtivos vai criar um ganho maior das cadeias produtivas e o comércio vai aumentar”, afirmou Nogueira.
Segundo o embaixador, a visita do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi a Brasília, em 8 de julho, mostrou o forte compromisso político com a parceria. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem uma ligação para Modi agendada para esta quinta-feira e deve realizar uma visita de Estado à Índia no início de 2026.
Entre os setores que podem ter incremento estão as áreas de energia, agricultura, defesa, farmacêuticos e digitalização.
Para Sergio Longen, presidente da Fiems (Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul), o tarifaço chacoalhou o mercado nacional e tirou as empresas da zona de conforto.
“As tarifas nos deram uma orientação muito clara de que devemos buscar outros mercados e estarmos atentos a outros países que também podem nos surpreender com ações parecidas. Aqui na Índia, hoje, nós já demos o primeiro passo e eu entendo que é nessa linha que devemos conduzir a produção nacional”, disse.
Longen ressalva que ainda é preciso insistir nos esforços de negociação com os EUA tanto pelo governo como pelos empresários nas câmaras setoriais americanas.
Após a agenda em Mumbai, a Fiems viaja para outros mercados na Ásia. “Nós vamos para o Japão, para Cingapura e temos uma passagem breve pela China. Nessas oportunidades também vamos tentar tratativas”, disse ele.
Outro representante empresarial que participou do evento, Delton Batista, presidente da aceleradora de negócios On Business, afirma que a ofensiva de Trump despertou lideranças empresariais para a necessidade de diversificação.
“O paradigma mudou não só para as empresas exportadoras. Se os EUA, que são uma nação com tamanho apreço por segurança jurídica, rompem contratos e reveem suas políticas, imagine o que pode acontecer com outros países e clientes. No futuro, vamos ver algo de bom deste momento, que é o estímulo à busca por novas fronteiras, regiões e segmentos de atuação”, afirmou Batista.
Eduardo Riedel (PSDB), governador de Mato Grosso do Sul, que também discursou na conferência, disse que o estado já tem parcerias com a Índia nas áreas de produção de etanol e açúcar com tecnologia brasileira, além da exportação direta de produtos, mas é possível incrementar o processo de celulose para tecidos.
“Estive com o governador da província de que Mumbai é capital e estamos discutindo apoio mútuo das universidades do Mato Grosso do Sul com as universidades daqui com intercâmbio de conhecimento e de alunos com tecnologia agrícola e provavelmente vamos assinar um termo de cooperação”, disse Riedel.