SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, elevou ainda mais a pressão para que Vladimir Putin aceite um cessar-fogo na Guerra da Ucrânia. Disse estar pronto para se encontrar com o russo e com o ucraniano Volodimir Zelenski, após passar a quarta-feira (6) sinalizando mais punição a Moscou.

O encontro com o russo poderia ocorrer na semana que vem, segundo o jornal New York Times, que revelou a hipótese, seguido de uma reunião tripartite. De acordo com a Casa Branca, a ideia surgiu após Putin sugerir uma reunião com Trump durante encontro que teve na manhã desta quarta com o enviado do americano para a guerra, Steve Witkoff.

Já o canal Fox News, alinhado ao trumpismo, disse que o encontro pode ser apenas entre o russo e o republicano. O local da reunião não foi definida, disse a Casa Branca. Ainda não há uma resposta russa, até pelo fuso horário mais avançado.

Zelenski, por sua vez, não deu detalhes sobre isso, mas disse que “a Rússia está mais inclinada a um cessar-fogo” após ser informado do teor da conversa de Witkoff com Putin, num telefonema com Trump do qual participaram líderes europeus não identificados.

À rede americana Fox News, o secretário de Estado Marco Rubio afirmou nesta quarta que, após o encontro de Witkoff com Putin, o governo Trump pode ter pela primeira vez “exemplos concretos” das demandas de Moscou para o fim da guerra. Rubio disse ainda que qualquer acordo envolveria questões territoriais, e que os dois presidentes poderiam conversar ainda nesta semana, mas que não haveria nada marcado.

Mais tarde, em entrevista coletiva na Casa Branca, Trump afirmou haver “boas chances” de que Zelenski e Putin vão concordar em se reunir em breve, embora tenha dito que nada sobre o potencial encontro estaria determinado.

O republicano disse ainda que não quer dizer se está próximo de chegar a um acordo para o fim da guerra. “Eu já me decepcionei com este aí”, disse, em referência a Putin.

A aceleração do processo antecede o prazo dado por Trump em um ultimato a Putin pela trégua, que expira na sexta-feira (8). A tensão está ainda mais alta desde que o republicano deixou a aproximação com o russo de lado para pressioná-lo -até uma ameaça velada de ataque nuclear foi feita na semana passada.

“Houve grande progresso! Depois, eu informei alguns de nossos aliados europeus. Todos concordam que essa guerra precisa acabar, e vamos trabalhar por isso nos dias e semanas à frente”, escreveu Trump na rede Truth Social. A Casa Branca, contudo, disse que as sanções ainda são esperadas para a sexta.

A reunião entre Putin e Witkoff começou por volta das 11h30 (5h30 em Brasília) e acabou três horas depois. Diferentemente das outras duas ocasiões em que se encontraram, ao chegar, Witkoff carregava ostensivamente um pequeno caderno com o selo presidencial americano, emprestando gravidade à conversa.

O assessor presidencial russo Iuri Uchakov, que estava presente, disse que a conversa foi “útil e construtiva”, e que tanto Putin quanto Witkoff enviaram o que chamou de sinais sobre a crise. Mas ninguém explicou do que se tratavam.

O prazo dado por Trump foi adiantado na semana passada para a próxima sexta. A partir daí, serão aplicadas sanções renovadas contra a Rússia e, mais importante, aumento de impostos de importação para países que compram petróleo e derivados de Moscou.

Isso atinge potencialmente uma linha importante de financiamento da guerra, e Trump parece ter escolhido os indianos para mostrar que está falando sério. Nesta quarta-feira, puniu Nova Déli com 25% adicionais aos 25% que já havia determinado de sobretaxa aos produtos do país asiático, citando o fato de que ele é o segundo maior comprador de petróleo russo.

Até aqui, a Índia dizia que iria continuar negociando com Moscou. A China, maior rival estratégica dos EUA, é a maior compradora do óleo russo.

O Brasil é alvo potencial também, já que 60% do óleo diesel que consome vem da Rússia. Se eventuais retaliações forem para outros setores econômicos, o agro brasileiro terá problemas -31% dos fertilizantes empregados no país são de origem russa.

Mais cedo, a Casa Branca havia confirmado que o plano de implementação de sanções estava valendo. Isso foi feito feito de forma anônima a veículos como a agência Reuters. Não há detalhes acerca do que estará no pacote, ou se há a possibilidade de alguma reversão no quadro, como os sinais de Trump e Zelenski insinuam.

Além disso, há considerações econômicas que podem ter entrado na equação em Moscou. Witkoff foi recebido às 7h (1h em Brasília) no aeroporto de Vnukovo pelo czar dos investimentos da Rússia, Kirill Dmitriev.

Ele é um entusiasta da reaproximação dos países no campo dos negócios, e os russos têm algumas cartas na manga a oferecer, como no setor de energia nuclear e extração de minérios estratégicos.

Os dois negociadores foram filmados conversando durante uma caminhada em um parque no centro moscovita antes do encontro de Witkoff com Putin. O americano deixou a capital russa logo após a reunião.

NEGOCIAÇÕES ESTÃO PARADAS

Após três rodadas de conversas diretas, há impasse na negociação direta entre Moscou e Kiev. Putin apresentou uma lista de exigências inaceitáveis para Zelenski, que quer primeiro um cessar-fogo e depois discutir -o que o russo descarta.

Poucas horas antes antes da reunião em Moscou, as forças russas fizeram um ataque cheio de simbolismo contra um dos principais terminais de gás do país invadido em 2022.

Localizada perto do porto sulista de Odessa, a instalação compressora de Orlovka retira de navios o gás natural liquefeito, como foi estabelecido recentemente num acordo com o Azerbaijão, desenhado após a interrupção do recebimento do produto russo por gasodutos. Um grande incêndio irrompeu no local.

Zelenski acusou Moscou de tentar dificultar os preparativos para o inverno deste ano no hemisfério Norte -segundo a consultoria ucraniana ExPro, as reservas de gás do país estão em seu menor nível em 12 anos, com pouco menos de um terço dos depósitos cheios.

Nos campos de batalha, o avanço lento e gradual de Putin seguiu nesta quarta, com mais uma vila conquistada na região de Donetsk, seu principal objetivo na campanha de verão em curso.

Joia da coroa do leste ucraniano, a província tem pouco mais de 60% de seu território sob controle russo, e é 1 das 4 áreas anexadas ilegalmente em 2022 que estão na lista oficial de demandas do Kremlin para encerrar a guerra.