BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Lula (PT) disse nesta quarta-feira (6) que os ataques do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não afetam a atuação do STF (Supremo Tribunal Federal).
“A Suprema Corte nossa não está dando a mínima para o que fala o Trump e nem pode dar. Como a Suprema Corte americana não vai dar a mínima se eu estiver fazendo uma crítica a eles”, declarou, em entrevista à Reuters.
Os processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foram citados por Trump na carta em que ele anunciou a sobretaxa de 50% aos produtos do Brasil. De acordo com o americano, o ex-presidente brasileiro está sengo perseguido pela Justiça, citando nominalmente o ministro Alexandre de Moraes, responsável por julgar o caso e decretar a prisão domiciliar de Bolsonaro.
“A Suprema Corte está julgando Bolsonaro com base nos autos e nas falas das pessoas que trabalharam com Bolsonaro. Não é a oposição que está acusando Bolsonaro, não é o Exército de outro país, são os militares que trabalharam com ele que estão fazendo a delação”, declarou Lula sobre o tema.
“É importante citar que no governo Bolsonaro ele tinha arquitetado matar a a mim, ao Alckmin e o juiz que esta cuidando do caso dele”, disse.
Ao comentar a perspectiva de ligar para Trump para falar do tarifaço, afirmou que um presidente não deveria “se humilhar para outro”.
“Um presidente da República não pode ficar se humilhando para outro. Eu respeito todo mundo, exijo respeito comigo. Adoro respeitar as pessoas e adoro ser respeitado”, disse.
Na véspera, Lula disse, em discurso, que não iria ligar para Trump porque o governo “não quer”. Dias antes, Trump fez o primeiro gesto de abertura desde que anunciou as medidas, ao dizer que Lula poderia ligar para ele “quando quisesse”.
Na manhã desta quarta, o governo brasileiro acionou os EUA na OMC (Organização Mundial do Comércio), em reação às tarifas. O chamado pedido de consulta foi entregue na missão dos EUA junto à organização.
Apesar da alta probabilidade de não ter efeito prático, já que a consulta precisa ser aceita pelos americanos e a última instância da organização está paralisada, o movimento é visto no Palácio do Planalto como um gesto simbólico importante para marcar posição do Brasil em defesa do sistema multilateral de solução de disputas comerciais.
A Índia, país parceiro do Brasil no Brics, também recebeu uma sobretaxa de 50%. Até agora, o país comandando por Narendra Modi estava com uma taxa de 25% em seus produtos.
Lula deve ligar para o primeiro-ministro indiano na quinta-feira (7). O telefonema que já estava marcado antes do tarifaço de Trump, mas os dois líderes devem abordar o tema. Modi fez uma visita de Estado ao Brasil no início de julho.
Desde o anúncio da sobretaxa aos produtos brasileiros, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, tem se reunido com empresários e demais representantes de setores industrial, tecnológico e agrícola para tratar dos impactos.
A crise comercial entre o Brasil e o governo americano já dura meses, quando Trump anunciou um primeiro aumento das sobretaxas para diversos países, incluindo o Brasil. A partir daí, o governo brasileiro enviou cartas pedindo esclarecimentos aos Estados Unidos -inicialmente, sem retornos.