SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As divergências entre o governo de Israel e a cúpula militar do país a respeito da tomada da Faixa de Gaza, como quer o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, levaram membros do governo, o mais à direita da história do Estado judeu, a tentar intimidar publicamente o Exército nos últimos dias.
Nesta quarta-feira (6), foi a vez de o ministro da Defesa, Israel Katz, afirmar que os militares vão executar as ordens do gabinete. “É direito e dever do comandante do Estado-Maior expressar sua posição nos fóruns apropriados”, afirmou o político na rede social X. “Mas, depois que as decisões forem tomadas na esfera política, o Exército as executará com determinação e profissionalismo como tem sido feito até agora em todas as frentes.”
Katz se refere indiretamente à discordância entre Netanyahu e o chefe do Estado-Maior, Eyal Zamir, sobre os rumos da guerra em Gaza. Em uma reunião nesta terça-feira, o premiê defendeu que Tel Aviv assuma o controle de todo o território palestino, mesmo que isso coloque em perigo os reféns sob o poder do Hamas, segundo reportagens da imprensa local com base em funcionários que pediram anonimato.
Zamir, por sua vez, teria afirmado durante o encontro que a ocupação total de Gaza seria uma armadilha, de acordo com o canal de televisão público Kan 11. Já o jornal Maariv afirma que o general alertou sobre a possibilidade de morte de reféns caso os combates se intensifiquem e reiterou sua oposição a conquistar Gaza, que Israel já ocupou entre 1967 e 2005.
Publicamente, o gabinete do primeiro-ministro se limitou a dizer, nesta terça, que Netanyahu participou de uma “discussão de segurança” com duração de cerca de três horas, durante a qual o chefe do Estado-Maior, Eyal Zamir, “apresentou as opções para continuar a campanha em Gaza”.
Os relatos motivaram críticas diretas da extrema direita israelense e até do filho mais velho de Netanyahu, Yair, que insinuou nas redes sociais uma suposta tentativa de rebelião e golpe contra seu pai.
Itamar Ben Gvir, ministro da Segurança Nacional e um dos mais extremistas membros do governo, também mandou um recado para Zamir no X. “O chefe militar deve deixar claro que cumprirá integralmente as instruções da cúpula política, mesmo que seja tomada a decisão de ocupar e derrotar”, escreveu.
Já o líder da oposição, Yair Lapid, criticou a possibilidade de conquista de Gaza. “O caminho que o governo está seguindo levará à morte de todos os reféns por fome, agressões e tortura”, disse no X. “Controlaremos 2 milhões de palestinos financiaremos sua eletricidade e água e construiremos escolas e hospitais com o dinheiro de cidadãos israelenses. (…) Este é o preço do regime militar, é isso que a anexação nos custará.”
Uma nova reunião sobre os planos para o conflito está agendada para esta quinta-feira (7).
Em guerra contra o Hamas em Gaza desde o ataque do grupo terrorista no dia 7 de outubro de 2023, o governo de Israel enfrenta uma pressão cada vez maior para encontrar uma solução para o conflito que já matou mais de 60 mil palestinos, de acordo com a facção.
Em Israel, Netanyahu é cobrado pela situação de 49 reféns que ainda estão em Gaza, dos quais 27 teriam morrido, segundo o Exército; no resto do mundo, há pressão pelo sofrimento de mais de dois milhões de palestinos que vivem amontoados no território, devastado e ameaçado por fome generalizada, segundo a ONU.
A tensão aumentou ainda mais após o Hamas e o Jihad Islâmico divulgarem vídeos de dois reféns israelenses, Evaytar David e Rom Braslavski, debilitados e desnutridos.
Caroline Willemen, uma diretora da organização Médicos Sem Fronteiras, denunciou novamente a crise de fome em Gaza e insistiu que a situação no território é devastadora. “Continuamos vendo pacientes sendo baleados ou esmagados em locais de distribuição de ajuda”, afirmou nas redes sociais.
Israel impôs um bloqueio total em Gaza em 2 de março e suspendeu parcialmente a medida em maio, autorizando a entrada apenas de quantidades muito limitadas de suprimentos, consideradas insuficientes por organizações que atuam no local.