FOLHAPRESS – Se dependesse só da comida, o Broca estaria entre os melhores restaurantes da Vila Madalena, com pratos criativos, bem-executados e saborosos. Com a vantagem de ser daqueles lugares onde ingredientes e preparos de diferentes culturas se encontram em combinações surpreendentes.
O chef Cadu Evangelisti aposta em criações para compartilhar que colocam num mesmo prato molho coreano e cambuci, missô e tahine, marinada peruana e tempero argentino, mandioca e togarashi. Receitas autorais com influência árabe, asiática e latino-americana tiram a refeição do comum e a transformam em assunto entre os clientes.
Bastava olhar para as mesas em volta para observar comentários sobre cada prato que chegava. Comensais surpresos, tentando entender a alquimia por trás do preparo de ingredientes por vezes desprezados, que ali ganhavam destaque em versões atraentes. Cabe contar dois exemplos emblemáticos.
O primeiro é a língua (R$ 54, o espeto). Até os mais avessos a ela correm o risco de se render. Marinada em uma salsa anticuchera (conhecida pelo uso nos espetos de coração de boi da comida de rua do Peru), as finas fatias são finalizadas na brasa e servidas com chimichurri. Quem estiver à espera do sabor marcado e da textura característica do prato pode estranhar. Mas nem dá para reclamar, porque o resultado é tão bom que você fica ocupado apenas em comer mesmo.
Também não é preciso ser um amante de dobradinha (R$ 52) para se arriscar pela versão da casa, com mocotó, bacon e paio. Quem gosta, manda ver. Quem não gosta, pode atacar o untuoso (e saborosíssimo) caldo e as batatas fritas que vêm em cima.
Já o guioza da casa (R$ 62) é figura conhecida. Recheado com frango assado e requeijão de milho verde, vem num molho picante e faz bonito. Amantes de receitas apimentadas ficarão especialmente felizes com as asinhas e sobrecoxas fritas e glaceadas com molho coreano, melado de cana e cambuci (R$ 58), feitas para se lambuzar.
O gohan (arroz japonês) que acompanha este prato neutraliza um pouco da picância. Pena que a porção seja vergonhosamente pequena. Por mais que você economize, ela termina muito antes do frango. Aliás, vale a dica de pedir essa opção apenas no final, para a ardência que fica na boca não comprometer as outras receitas.
A sobremesa foi a Pede um Café (R$ 42). Chegou com fudge de chocolate branco caramelizado com missô, musse amarguinha e bem aerada de chocolate, gel de laranja e um delicado sorvete de tahine. Equilibrada e gostosa.
No fim, a experiência gustativa no Broca foi ótima. Pena que o serviço, desatento e antipático, anda em descompasso com a qualidade da cozinha. Os pratos que acabavam só eram retirados depois de o atendente ser chamado uma, duas, três vezes. O vinho não foi reposto nenhuma vez. O café, pedido com a sobremesa, chegou bem depois. E aqui vale dizer que o conceito de “restaurante com ambiente de boteco” não deve servir de desculpa. Botecos que se prezam têm garçons bem treinados.
Outro detalhe chato: a coifa da cozinha aberta não dá conta do recado, e a clientela que senta no salão principal corre o risco de voltar para casa defumada.
Broca
Avaliação Bom
Onde R. Aspicuelta, 429, Vila Madalena. região oeste, @broca.sp