SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar caía na manhã desta quarta-feira (6), conforme os investidores reagiam à entrada em vigor da tarifa de 50% dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, com comentários do presidente do Banco Central também no radar.

Às 10h40, a moeda norte-americana tinha uma queda de 0,53%, a R$ 5,476. No mesmo horário, a Bolsa disparava com alta de 1,25%, a 134.827 pontos, com as ações da Petrobras, Embraer e Itaú subindo 1,52%, 3,16% e 3,05%, respectivamente.

A sobretaxa de 50% imposta por Donald Trump a exportações brasileiras para o mercado americano entrou em vigor à 1h01 (horário do Brasil) desta quarta. A tarifa atinge 36% dos produtos exportados pelo Brasil aos EUA e inclui itens como máquinas agrícolas, carnes e café.

Desde abril, o país já sofria uma sobretaxa de 10% imposta pelos EUA a uma série de países. No mês passado, Trump adicionou mais 40% devido a questões políticas por meio de um decreto. Com isso, produtos brasileiros que estão fora da lista de exceções passam a pagar sobretaxa de 50%, além das tarifas que já incidem normalmente.

O texto do decreto menciona diretamente o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que é réu em inquérito que apura tentativa de golpe em 2022. A Casa Branca afirma que a medida visa “lidar com ameaças incomuns e extraordinárias à segurança nacional, à política externa e à economia dos Estados Unidos”.

Entretanto, graças a cerca de 700 exceções previstas no decreto (leia a íntegra), 43% do valor de itens brasileiros exportados para o país escapam das novas alíquotas, como mostrou levantamento feito pela Folha de S.Paulo. Estão isentos deste tarifaço, por exemplo, derivados de petróleo, ferro-gusa, produtos de aviação civil —o que livra a Embraer— e suco de laranja.

Segundo Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, “o ambiente de negócios não é pessimista, mas sim de cautela” durante o dia.

“Os cenários mais pessimistas [do tarifaço] foram afastados, porque não serão todos os produtos brasileiros que vão sofrer um choque tarifário, o que diminui o impacto total sobre a economia”, afirma.

Entre esses setores afetados, o agronegócio brasileiro é um dos mais temerosos, já que já é um dos mais afetados pela sobretaxa do governo norte-americano. O setor também está preocupado de que a ameaça de uma nova retaliação se concretize em um dos pontos mais frágeis de sua cadeia produtiva: os fertilizantes.

Conforme informações obtidas pela Folha de S.Paulo, representantes do agro, tanto de empresas quanto da bancada ruralista no Congresso, fizeram chegar o alerta ao Itamaraty sobre possíveis sanções que o Brasil pode sofrer, a partir da sexta-feira (8), devido às negociações que detém com a Rússia, que hoje é o maior vendedor de fertilizantes ao Brasil.

Como a Folha de S.Paulo mostrou, o Brasil também está na rota de sanções pela compra de diesel. Mais de 60% desse combustível que foi importado neste ano veio do país de Vladimir Putin.

Ainda no ambiente doméstico, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) afirmou nesta quarta que o governo deve editar uma MP (medida provisória) com o plano de contingência à sobretaxa americana e priorizar os pequenos produtores.

Haddad afirmou também que foi agendada uma reunião para a próxima quarta (13) com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, em continuidade às negociações com os americanos.

“Nós vamos ter um plano muito detalhado para começar a atender sobretudo aqueles que são pequenos [produtores] e não têm alternativas à exportação para os EUA, que é a preocupação maior do presidente”, disse o ministro.

Segundo o chefe da equipe econômica, o texto está pronto e será encaminhado pela Fazenda ainda nesta quarta, mas o anúncio das medidas cabe ao Palácio do Planalto.

Na terça (5), o dólar fechou sem alteração, cotado a R$ 5,506, e a Bolsa avançou 0,13%, a 133.151 pontos.

O movimento ocorreu a despeito da prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do subsequente temor de uma escalada tarifária entre os EUA e o Brasil. Investidores também reagiram à ata da mais recente reunião do BC (Banco Central) e a dados da economia dos Estados Unidos.

Réu em processo sobre a trama golpista no final de seu governo, Bolsonaro teve a prisão domiciliar decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), na última segunda-feira (4).

O magistrado afirmou que o ex-presidente descumpriu determinação anterior ao aparecer em vídeos exibidos por apoiadores durante manifestações no domingo (3).

Horas depois da prisão domiciliar ser decretada, o governo Donald Trump disse condenar a decisão de Moraes e que responsabilizará aqueles que ajudarem em “condutas sancionadas” do ministro.

O posicionamento foi feito por meio de post no X (ex-Twitter) na página do Escritório para o Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado, que trata da diplomacia americana.

A decisão de Moraes promete acirrar os ânimos no âmbito doméstico. Integrantes do governo Lula (PT) admitiram, sob reservas, a possibilidade de a decretação da prisão domiciliar de Bolsonaro irritar o presidente Trump e intensificar as sanções anunciadas por ele contra o Brasil —até o momento, nenhuma tarifa adicional foi anunciada.

No cenário internacional, outros países também continuam buscando vias para negociar com os EUA, já que Trump pretende impor mais tarifas sobre parceiros na quinta-feira (7).

Investidores ainda esperam a indicação de Trump para uma vaga aberta na diretoria do Fed, após a renúncia antecipada da diretora Adriana Kugler na semana passada.

O movimento da moeda seguiu o registrado no exterior, com o índice DXY —que mede a força do dólar em relação a seis outras divisas fortes— caindo 0,39% na manhã desta quarta, a 98.396 pontos.