da redação

Entrou em vigor nesta quarta-feira (6) um conjunto de tarifas que impõe um novo obstáculo às exportações brasileiras. Assinada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a medida estabelece uma taxa de 50% sobre mais de um terço dos produtos brasileiros destinados ao mercado norte-americano, afetando cerca de 4% do total exportado pelo país. A decisão impacta diretamente itens como café, frutas e carnes — produtos tradicionalmente relevantes na pauta de exportações do Brasil.

Ficaram de fora da nova taxação itens estratégicos para a economia dos EUA, como suco e polpa de laranja, combustíveis, minérios, fertilizantes, aeronaves civis (e suas peças), polpa de madeira, celulose, metais preciosos e produtos energéticos.

Contexto geopolítico e retaliação política

As tarifas fazem parte de uma ofensiva comercial mais ampla da Casa Branca, que sob a gestão de Trump tem adotado medidas protecionistas para conter a perda de competitividade frente à China. Desde abril, os EUA passaram a aplicar tarifas com base no saldo comercial bilateral. Naquele momento, o Brasil recebeu uma taxa mais branda (10%), já que os norte-americanos têm superávit comercial com o país. No entanto, essa taxa foi drasticamente elevada para 50% em julho.

De acordo com analistas, o aumento foi uma retaliação direta: Trump estaria respondendo tanto às decisões brasileiras envolvendo grandes empresas de tecnologia dos EUA, quanto ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro — acusado de tentar um golpe de Estado após as eleições de 2022. Especialistas ouvidos pela Agência Brasil avaliam que a medida também tem um forte componente geopolítico, mirando o fortalecimento do Brics e as articulações do bloco para reduzir a dependência do dólar no comércio internacional.

Resposta do governo brasileiro

Em pronunciamento recente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que o Brasil não aceitará ser tratado como um país de segunda categoria. Ele reafirmou a defesa de uma política externa soberana, inclusive mantendo a estratégia de usar moedas alternativas ao dólar em acordos comerciais.

Para minimizar os impactos das tarifas, o governo federal prepara um plano emergencial com linhas de crédito e contratos públicos que visam compensar perdas de empresas brasileiras afetadas pelo tarifaço. As primeiras medidas devem ser anunciadas nos próximos dias.

Abrindo caminho para o diálogo

Apesar da retórica dura, os canais diplomáticos entre Brasília e Washington seguem abertos. Logo após a confirmação das tarifas, o Tesouro dos EUA procurou o Ministério da Fazenda para iniciar conversas bilaterais. O próprio Donald Trump também sinalizou disposição para dialogar diretamente com Lula.

Enquanto isso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, aposta no potencial estratégico do Brasil para estabelecer contrapartidas. Ele mencionou a possibilidade de acordos envolvendo minerais críticos e terras raras — insumos essenciais para a indústria de tecnologia e uma das peças-chave na disputa entre EUA e China.

“O Brasil tem potencial para cooperar com os Estados Unidos na produção de baterias mais eficientes e outros produtos de alta tecnologia”, afirmou Haddad em entrevista à TV. O ministro também acredita que o café brasileiro, hoje alvo das tarifas, pode ser excluído da lista com base em acordos comerciais — especialmente após a China autorizar recentemente 183 empresas brasileiras a exportar café para seu mercado.

As negociações seguem em curso, e o desfecho ainda é incerto. Por ora, produtores brasileiros e o governo buscam alternativas para enfrentar o impacto imediato e estratégico do novo capítulo da disputa comercial internacional.