da redação

Entidades ligadas à caça têm intensificado críticas à política nacional de controle do javali (Sus scrofa) e defendem que a responsabilidade pela gestão da espécie invasora seja repassada aos estados. Segundo essas organizações, o modelo atual, coordenado pelo Ibama, tem se mostrado ineficaz tanto na contenção dos danos ambientais quanto na proteção das lavouras brasileiras.

Daniel Terra, presidente da Associação Nacional de Caça e Conservação — que reúne cerca de 4 mil caçadores no país — é um dos principais porta-vozes desse movimento. Para ele, o Ibama perdeu o controle da situação. “O próprio órgão admitiu que não tem mais condições de gerir esse problema. A expansão dos javalis virou uma ameaça fora de controle”, afirmou, citando informações solicitadas ao órgão pelo deputado federal Daniel Agrobom (PL-GO).

O relatório enviado pelo Ibama, segundo Terra, revelou lacunas preocupantes: o órgão admite indícios de solturas ilegais de javalis híbridos, mas não dispõe de dados sobre prisões ou responsáveis. Além disso, não há levantamento oficial sobre o tamanho da população da espécie no país. “Como o caçador pode ser acusado de agravar o problema, se o próprio governo nunca produziu um estudo técnico confiável sobre a dispersão desses animais?”, questionou Terra.

O Ibama, por sua vez, nega que haja comprovação científica de que a caça contribua para o avanço da espécie, embora reconheça a necessidade de melhorar o sistema de monitoramento e ampliar o diálogo com os estados.

Goiás quer avançar em legislação própria

Enquanto isso, em Goiás, a Assembleia Legislativa discute um projeto de lei que pode tornar o combate ao javali mais flexível. De autoria do deputado Amauri Ribeiro (UB), a proposta autoriza o manejo da espécie ao longo de todo o ano, sem limite de abates, desde que respeitadas as normas ambientais. A iniciativa também libera o uso de armadilhas e caçadas em propriedades rurais, com o objetivo de reduzir os prejuízos ao setor agropecuário e os riscos à saúde pública.

A expectativa é que a matéria seja votada ainda em agosto. Se aprovada, seguirá para sanção do governador Ronaldo Caiado (UB).

Dados imprecisos e falta de incentivos

Desde 2013, o controle do javali no Brasil depende do registro de ações em sistemas do Ibama. Entre 2019 e abril deste ano, caçadores declararam ter abatido cerca de 1,5 milhão de animais.