SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar à vista rondava a estabilidade ante o real nas primeiras negociações desta quarta-feira (6), conforme os investidores reagiam à entrada em vigor da tarifa de 50% dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, com comentários do presidente do Banco Central também no radar.

Às 9h06, o dólar à vista caía 0,04%, a R$ 5,5037. Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha baixa de 0,04, a R$ 5,540 na venda.

O Banco Central fará nesta sessão um leilão de até 35.000 contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 1º de setembro de 2025.

Na terça (5), o dólar fechou sem alteração, cotado a R$ 5,506, e a Bolsa avançou 0,13%, a 133.151 pontos.

O movimento ocorreu a despeito da prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do subsequente temor de uma escalada tarifária entre os EUA e o Brasil. Investidores também reagiram à ata da mais recente reunião do BC (Banco Central) e a dados da economia dos Estados Unidos.

Réu em processo sobre a trama golpista no final de seu governo, Bolsonaro teve a prisão domiciliar decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), na última segunda-feira (4).

O magistrado afirmou que o ex-presidente descumpriu determinação anterior ao aparecer em vídeos exibidos por apoiadores durante manifestações no domingo (3).

Horas depois da prisão domiciliar ser decretada, o governo Donald Trump disse condenar a decisão de Moraes e que responsabilizará aqueles que ajudarem em “condutas sancionadas” do ministro.

O posicionamento foi feito por meio de post no X (ex-Twitter) na página do Escritório para o Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado, que trata da diplomacia americana.

A decisão de Moraes promete acirrar os ânimos no âmbito doméstico. Integrantes do governo Lula (PT) admitiram, sob reservas, a possibilidade de a decretação da prisão domiciliar de Bolsonaro irritar o presidente Trump na proximidade da adoção das sanções anunciadas por ele contra o Brasil.

O Brasil será sobretaxado em 50%, a maior tarifa anunciada até o momento, a partir desta quarta (6). Apesar disso, o país se beneficiou de uma isenção para cerca de 700 produtos exportados aos EUA.

Enquanto isso, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) continua buscando ampliar a lista de exceções ao tarifaço de Trump para poupar mais empresas.

Uma das apostas é na abertura de um canal de diálogo do ministro Fernando Haddad (PT), da Fazenda, com o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent. Essa ponte poderia permitir, em outro momento, uma ligação entre Trump e o presidente Lula.

Nesta terça, o presidente Lula disse que não pretende ligar para Trump porque “ele não quer falar”, embora o republicano tenha dito na sexta (1°) que Lula poderia falar com ele para discutir as tarifas. “Ele pode falar comigo quando ele quiser.”

Ainda no cenário doméstico, as tarifas dos EUA sobre o Brasil também foram abordadas em ata divulgada nesta terça pelo BC. No documento, o colegiado da instituição diz acreditar que o tarifaço imposto pelos Estados Unidos às exportações brasileiras tem impacto relevante sobre setores, e que o Copom (Comitê de Política Monetária) deve ter cautela na condução da política de juros.

O colegiado reforçou que o cenário externo está “mais adverso e incerto” em função da política comercial do governo Trump.

O Copom disse acompanhar com atenção os potenciais impactos das tarifas sobre a economia real e sobre o comportamento dos ativos financeiros e afirmou que terá como foco os reflexos do cenário externo sobre a inflação doméstica à frente.

Para Marcos Moreira, sócio da WMS Capital, a ata sinaliza que os juros brasileiros podem se manter no patamar atual por mais tempo. “Isso tende a prender o capital no país e atrair fluxo de capital estrangeiro”, afirma.

Na última quarta (30), o Copom decidiu manter inalterada a taxa básica de juros em 15% ao ano –maior patamar em 19 anos–, interrompendo o ciclo de alta da Selic.

No cenário internacional, dados do ISM (Instituto de Gestão de Fornecimento) revelam que a atividade do setor de serviços dos Estados Unidos ficou inesperadamente estagnada em julho.

Segundo o órgão, o PMI (Índice de Gerentes de Compras, na sigla em inglês) não manufatureiro caiu de 50,8 em junho para 50,1 no mês. O resultado aponta para o enfraquecimento do emprego no setor de serviços norte-americanos.

Economistas consultados pela Reuters previam que o PMI de serviços subiria para 51,5. Uma leitura acima de 50 indica crescimento no setor de serviços, que responde por mais de dois terços da economia.

O dado reforça uma desaceleração da economia americana indicada pelo payroll (folha de pagamento, em inglês) americano de sexta-feira. O relatório apontou que foram abertas 73 mil vagas de trabalho em julho, ante expectativa de 110 mil, e que a taxa de desemprego subiu de 4,1% para 4,2%.

Além disso, houve uma revisão dos dados do mês de junho. Em vez de 147 mil vagas, como reportado anteriormente, foram criadas apenas 14 mil.

Para Rubens Cittadin, operador de renda variável da Manchester Investimentos, “os dados revelam uma economia menos aquecida do que o esperado e indica um espaço maior para corte de juros no EUA”. O Fed, banco central americano, volta a se reunir em 16 e 17 de setembro.