BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – Karol Nawrocki, 42, é historiador, mas adicionou “boxeador” ao currículo depois que a campanha eleitoral revelou seu passado de torcedor violento. Nesta quarta-feira (6), em Varsóvia, acrescentou ao perfil profissional um papel mais complexo, o de presidente da Polônia, em conflito aberto com o primeiro-ministro do país, Donald Tusk.

Entre os diversos casos de polarização política na Europa, o polonês é um dos mais peculiares. Tusk, um político de centro e pró-União Europeia, busca desfazer oito anos de estragos institucionais do PiS, o partido de Andrzej Duda, o presidente que passa a faixa para Nawrocki após dez anos no poder.

Ainda que parlamentarista, o sistema político polonês permite ao presidente propor e vetar legislações, dando peso excepcional ao cargo. Nesse cenário, Tusk enfrenta como premiê não apenas a oposição hostil no Parlamento, mas também o mandatário eleito. Foi assim com Duda, será assim com Nawrocki, candidato independente apoiado pelo PiS, estendendo uma disputa que já dura dois anos, desde que Tusk voltou ao cargo após um período de oito anos em que os poloneses flertaram com a autocracia.

Além de uma guinada conservadora, a Polônia sofreu uma reforma antidemocrática do sistema judiciário que Tusk prometeu reverter na campanha eleitoral de 2023. O país chegou a ser enquadrado no artigo 7 da União Europeia por afronta ao Estado de Direito e perdeu milhões de euros em repasses. O premiê já conseguiu desbloquear os recursos e conta com a tolerância de Bruxelas enquanto não completa o reequilíbrio institucional.

Tusk falava também em resgatar políticas sociais, como aborto e direitos da comunidade LGBTQIA+, mas analistas aguardam certo pragmatismo nas relações dele com Nawrocki. A ideia seria mostrar que a paralisia política precisa entrar na conta do presidente. Este, por sua vez, promete ser mais ativo que o antecessor, propondo, por exemplo, isenção fiscal para uma maior parcela da população, bandeira histórica do PiS.

“Não permitirei que o sr. Nawrocki, uma vez empossado como presidente, sabote politicamente o governo”, declarou Tusk na semana passada, em referência ao déficit crescente do país, 6,6% do PIB em 2024, o maior da zona do euro.

A crise é apenas política, no entanto. A quinta economia da Europa recebe bons prognósticos do mercado, e o primeiro-ministro devolveu o país ao patamar mais elevado do debate público europeu. O cenário doméstico, por outro lado, é complexo. Além da derrota de seu candidato, o prefeito de Varsóvia, Rafal Trzaskowski, Tusk também se vê acossado pelo crescimento da ultradireita, com bandeiras xenófobas ainda mais radicais que o populismo conservador do PiS.

Com uma aprovação que beirava os 32% durante a campanha eleitoral, em junho, Tusk agora vê 50% da população pedindo sua renúncia.

Um dos principais focos da impopularidade é justamente a questão imigratória. Pressionado pela oposição, o governo adotou um controverso controle de fronteiras, estendido nesta semana até outubro. Segundo Tusk, o sistema só pode ser relaxado se a vizinha Alemanha interromper sua política correspondente, em vigor desde 2023 e intensificada neste ano pela gestão Friedrich Merz.

Alegando que os alemães estavam expulsando imigrantes irregulares para o país, grupos de extrema direita começaram a parar carros na fronteira por conta própria, em iniciativa tão perigosa como ilegal.

Nawrocki, que classifica Tusk como “o pior primeiro-ministro desde 1989”, ou seja, desde a queda do comunismo, deve se alinhar ao adversário político pelo menos em um item importante da agenda polonesa, que condiz com seu perfil nacionalista: a oposição incondicional à Rússia, ameaça existencial e histórica para boa parte dos países do Leste Europeu.

Sem experiência administrativa e alinhado a Donald Trump, o historiador pugilista promete manter a tensão política da Polônia ao menos até 2027, quando ocorrem as próximas eleições parlamentares.