SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A guerra nas avenidas, a gangorra da fusão entre Marfrig e outros destaques do mercado nesta quarta-feira (6).

**JABUTIS ESCONDIDOS NO QUINTAL**

Você sabe o que é um jabuti? Nesse caso, não estamos falando do réptil. “Jabuti” é um jargão político usado para descrever benefícios escondidos em um projeto de lei sobre um assunto distinto, que acabam sendo aprovados sem que se dê muita atenção a eles.

Um levantamento da Folha de S.Paulo encontrou jabutis em projetos de lei na área da energia, que, se aprovados, beneficiariam os grupos dos empresários Carlos Suarez e irmãos Batista.

COMO ASSIM?

Na prática, o texto em discussão obriga que o brasileiro pague mais na conta de luz para consumir eletricidade gerada a partir de empresas das quais eles são acionistas. A proposta ainda deixa a matriz energética do país mais poluente, ao aumentar o uso de usinas termelétricas.

Os trechos foram vetados por Lula (PT) na sanção da lei das eólicas em alto-mar (offshore), mas os parlamentares têm a palavra final e podem agora transformar em lei o conteúdo dos textos. Vamos aos detalhes.

[1] Suarez

Em um trecho, os parlamentares propõem que o país seja obrigado a contratar energia de usinas a gás natural no Nordeste. São 1.250 MW (megawatts) de eletricidade –equivalente a quase uma hidrelétrica de Teles Pires, décima maior do país.

O texto afirma que a eletricidade nesse caso deve ser gerada em estados “que não possuam na sua capital ponto de suprimento de gás canalizado”.

Acontece que as duas únicas capitais nordestinas sem suprimento de gás são Teresina (no Piauí) e São Luís (no Maranhão). E adivinhe só, nos dois casos, as companhias estaduais com monopólio da distribuição do gás têm como sócio indireto Suarez.

[2] Irmãos Batista

Em outro trecho que pode ser aprovado pelos parlamentares, é determinada a compra de energia de determinadas termelétricas a carvão até 2050.

Entre elas, a de Candiota (no Rio Grande do Sul) –controlada pela Âmbar Energia (do grupo J&F, dono da empresa de carnes JBS e controlado pelos irmãos Joesley e Wesley Batista). O grupo comprou o ativo da Eletrobras no segundo semestre de 2023.

**DELIVERY WARS**

De um lado, a 99Food retornando ao Brasil com recompensas agressivas para lojas e entregadores. Do outro, a gigante chinesa Meituan querendo trazer entregas com drones para o país. O iFood, atual líder do mercado de delivery brasileiro, percebeu que era hora de reagir.

A empresa da mochila vermelha anunciou ontem investimentos diretos de R$ 17 bilhões no país entre abril deste ano e março de 2026, acima dos R$ 10,3 bilhões investidos pela plataforma em 2024 e dos R$ 13,6 bilhões no ano fiscal que ia até março de 2025.

INVESTIMENTOS NO QUÊ?

Ações para impulsionar o tráfego na plataforma, aumentar a recorrência de compras no aplicativo e ampliar os segmentos de atuação da empresa.

Parte dos recursos ainda será voltada para a disponibilização de crédito a restaurantes parceiros e a clientes para uso no aplicativo, segundo o executivo.

DILEMA SEM RESPOSTA

A empresa não deu soluções aos impasses de regulamentação com seus principais colaboradores: os entregadores.

O CEO afirmou que as contribuições à Previdência Social, da forma como foram propostas no PLP 12 (projeto de lei complementar), são o grande impasse para a regulamentação da categoria.

O PLP 12 prevê ganho mínimo para os profissionais, contribuição ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) de 7,5%, transparência no algoritmo e cria a categoria de trabalhador autônomo por plataforma.

A proposta, no entanto, não inclui o setor de duas rodas como o delivery de motos e bicicletas, abrangendo apenas os que trabalham com transporte de passageiros. O motivo foi justamente a falta de consenso da categoria sobre ganho mínimo e INSS.

Motoboys protestaram contra o iFood em frente ao evento que a plataforma organizou na capital paulista. A manifestação quer a aprovação do chamado PL do Breque, o projeto de lei 2.479, do deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), que tem apoio de outros partidos.

A proposta prevê um piso de remuneração para os entregadores —a categoria pede que ele seja de R$ 10 por delivery de até 4 km.

**VAI OU NÃO VAI?**

A fusão entre duas das maiores produtoras de carnes do Brasil parece mais uma gangorra, ora parece que tudo dará certo, ora parece que vai por água abaixo.

O mais novo revés nessa história é que o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que inicialmente havia aprovado a incorporação da BRF pela Marfrig, agora deve frear o negócio.

A Marfrig é um dos maiores produtores de carne bovina do país, enquanto a BRF é especializada em carne de frango e embutidos —a segunda empresa nasceu da fusão entre a Perdigão e a Sadia em 2009.

REBOBINANDO A FITA

O frigorífico anunciou em maio que engoliria todas as ações da BRF que ainda não detinha —ele já possuía 50,49% de participação na empresa.

No dia seguinte ao anúncio, foi confirmado o primeiro caso de gripe aviária em uma granja comercial no Brasil, um tiro na culatra de quem achou que estava investindo todas as fichas na lucratividade do mercado do frango brasileiro.

PEDINDO DE JOELHOS

Em junho, pouco menos de um mês depois do anúncio do acordo, o Cade aprovou sem restrições a incorporação da BRF pela Marfrig —em um movimento um tanto inesperado, uma vez que a compra cria um titã no mercado da carne, que já carece de competição.

Sim, mas… o presidente interino do Cade, Gustavo Freitas de Lima, colocou um freio na fusão e, no momento em que as companhias aprovaram a incorporação total das ações, o negócio só poderá se concretizar após o julgamento do caso pelo plenário.

Isso porque a maioria dos conselheiros do órgão antitruste deve homologar um despacho do presidente, assinado na semana passada, que decidiu submeter a fusão a uma nova apreciação do colegiado.

A revisão da aprovação vem depois que a Minerva, outra produtora de carne bovina, abriu uma representação contra a aprovação do Cade.

**NA LANTERNA**

A China mudou de estratégia: esqueceu móveis, roupas e eletrodomésticos e agora está de olho em um trio bem mais moderno. Veículos elétricos, painéis solares e baterias de íon-lítio tornaram-se a prioridade de Pequim.

COMO CHEGAMOS AQUI

Desde o início dos anos 2000, um conjunto de incentivos e políticas levou a China à vanguarda do mercado dos produtos listados, ainda que a maioria das tecnologias verdes tenha sido inventada nos EUA.

[1] Carros elétricos

Foi a dominância dos americanos e dos europeus na fabricação de carros a combustão que levou o país asiático a tentar outro caminho. Por volta de 2010, o ministro de ciência e tecnologia da China, Wan Gang, começou a pressionar o país a se expandir para elétricos.

Entre 2010 e 2023, a China implementou um enorme banco de subsídios para incentivar a adoção desses veículos .

No ano passado, os EUA venderam 1,2 milhão de elétricos, enquanto a China vendeu 6,4 milhões.

[2] Baterias de íon-lítio

Um cientista da americana Exxon criou a primeira bateria funcional do tipo na década de 1970. Elas começaram a se popularizar vinte anos depois em laptops e celulares —mas os chineses entraram de cabeça no investimento nelas para a fabricação de carros elétricos.

Ao mesmo tempo, o país investiu no processamento de minerais críticos como cobalto, níquel e grafite —adicionando estabilidade à complexa cadeia de suprimentos de baterias.

Em 2021, a China começou a exigir que as empresas adicionassem de 10% a 30% de armazenamento de bateria à rede para cada gigawatt de energia eólica ou solar que entrava em operação. A produção de baterias disparou.

[3] Painéis solares

Durante décadas, eles foram uma criação distintamente americana. Quando os EUA reduziram o investimento na tecnologia, a Alemanha, o Japão e a China correram atrás de absorver engenheiros e cientistas experientes e continuar o desenvolvimento da tecnologia.

Até agora, a China investiu US$ 50 bilhões em nova produção de energia solar, e o país agora responde por cerca de 80% da cadeia global de suprimentos do setor.

**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**

Sem comprinhas na Shein. Depois da promulgação da “taxa das blusinhas”, em 2024, as importações de itens de pequeno valor caíram ao menor patamar desde 2021.

McLanche de Ouro. O preço dos hambúrgueres nos EUA atingiram o nível mais alto em uma década. A causa apontada pelos especialistas? O aquecimento global.

Tudo bem ou tudo mal? Depois de descobrir o maior campo de petróleo em 25 anos na bacia de Santos, a BP anunciou que demitirá 6.200 funcionários neste ano.

Abre-te sésamo. A OpenAI, criadora do ChatGPT, está lançando modelos abertos de IA para competir com o DeepSeek, da China.