SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Japão faz na manhã desta quarta-feira (6), ainda noite de terça no Brasil, uma cerimônia para marcar os 80 anos do bombardeio atômico sobre Hiroshima. Representantes de cerca de 120 países devem marcar presença no evento, que lembra os horrores da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e faz apelos pelo abandono das armas nucleares em um contexto de tensões crescentes no mundo.
A cerimônia teve início às 8h no horário local (20h em Brasília). Em 6 de agosto de 1945, às 8h15, os Estados Unidos lançaram uma bomba atômica sobre Hiroshima. O ataque matou cerca de 140 mil pessoas. Três dias depois, outra bomba atômica atingiu Nagasaki, e mais 74 mil pessoas foram mortas. São os únicos casos na história em que armas nucleares foram usadas contra seres humanos durante uma guerra.
A cerimônia contou com as presenças inéditas das delegações da Palestina e de Taiwan, regiões que não são oficialmente reconhecidas pelo Japão como países. Por outro lado, potências nucleares como Rússia, China e Paquistão não participaram. O Irã, frequentemente acusado de tentar desenvolver uma arma nuclear, confirmou presença.
Às 8h15, o mesmo horário em que a bomba nuclear foi detonada em Hiroshima, um minuto de silêncio foi realizado em memória das vítimas.
“O fato de ainda existirem líderes políticos que querem ampliar seu poderio militar para resolver conflitos, inclusive com armas nucleares, dificulta a construção da paz mundial”, afirmou antes do início da cerimônia o prefeito de Hiroshima, Kazumi Matsui, em referência às guerras atuais.
Ele também criticou recentemente o presidente dos EUA, Donald Trump, que comparou ataques contra o Irã aos bombardeios de 1945. Matsui o convidou a visitar Hiroshima para compreender melhor as consequências humanas de uma bomba nuclear.
Para Toshiyuki Mimaki, copresidente da Nihon Hidankyo, organização de sobreviventes das bombas e vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 2024, a cerimônia deste ano tem importância renovada no contexto das tensões geopolíticas. “É essencial que tantas pessoas venham a esta cidade afetada pela bomba atômica porque as guerras continuam pelo mundo”, afirmou. O grupo defende a abolição das armas nucleares com base nos relatos dos hibakusha, como são chamados os sobreviventes dos ataques.
“Espero que os representantes estrangeiros visitem o Museu Memorial da Paz e entendam o que aconteceu aqui”, acrescentou Mimaki.
A transmissão da memória dos hibakusha é hoje um desafio. A média de idade dos sobreviventes é de 86 anos. Kunihiko Sakuma, 80, que tinha apenas nove meses durante o bombardeio e estava a três quilômetros do epicentro, diz acreditar na continuidade do movimento antinuclear pelas novas gerações.
Após a cerimônia, ele pretende pedir ao primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, que o Japão assine o tratado da ONU de proibição das armas nucleares. Tóquio se recusa a aderir ao pacto, argumentando que ele não é viável sem o apoio das potências nucleares.
No sábado (9), Nagasaki também realizará sua cerimônia anual. Pela primeira vez desde o início da guerra na Ucrânia, a Rússia confirmou presença no evento daquela cidade.