SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Surpreendidos com a prisão preventiva de Jair Bolsonaro (PL) na segunda-feira (4), aliados do ex-presidente correram para se solidarizar nas redes sociais e avaliar as manifestações de integrantes do seu grupo político –a fidelidade a Bolsonaro é um teste constante no seu grupo político.

O presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, por exemplo, foi alvo de críticas; enquanto Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, que estava na mira de aliados por ter faltado à manifestação de domingo (3), foi elogiado pelo rápido posicionamento por vídeo.

O entorno de Bolsonaro também fez da medida do STF um mote para reforçar a tese da perseguição que vinham defendendo até aqui. Eles alegam que o episódio demonstraria que Bolsonaro é vítima. Dentro desse quadro, eles dizem temer pelo quadro de saúde do ex-presidente.

Seus aliados dizem estar preocupados com o quadro intestinal dele, que piorou na semana passada, com episódios de soluços. Melhorou no final de semana, mas há temor de que volte agora, com estresse da prisão preventiva.

Mais além, eles acham que Bolsonaro pode desenvolver uma depressão preso em casa, a espelho do que ocorreu em 2022, quando perdeu a eleição. O ex-presidente gosta de viajar e se cercar de apoiadores, tinha hábito de casa e escritórios cheios.

Agora, apenas quem vive na casa pode frequentá-la. Os demais necessitam de autorização de Moraes para ir vê-lo. Há dúvida sobre se funcionários da Presidência, aos quais ele tem direito por ser ex-presidente, poderiam frequentar a casa -auxiliares avaliam peticionar ao STF para tirar essa dúvida.

Em outra frente, ele tem recebido apoio de parlamentares, que agora tentam fazer enfrentamento no Congresso, e de políticos, por meio de manifestações públicas.

A primeira nota do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, foi alvo de críticas reservadas e públicas. “ESTOU INCONFORMADO!!!!! O QUE MAIS POSSO DIZER?”, disse, em caixa alta, depois da notícia sobre a prisão domiciliar.

Interlocutores de Bolsonaro acharam a nota sem sentido, demonstrando medo de se posicionar de forma crítica ao STF. O deputado Gustavo Gayer (PL-GO) respondeu à publicação, classificando-a como “imbecil”.

“Que nota mais imbecil é essa???? Pelo amor de Deus”, disse, no X.

Após as críticas, Valdemar deletou a publicação e fez uma nova, maior. “A ordem de prisão do presidente Bolsonaro, um dia após as manifestações populares (as quais bolsonaro nao compareceu), soa como vontade de calar uma boa parte da população brasileira que, de forma pacífica, conforme autoriza a constituição, foi às ruas protestar, como permite um regime democrático”, disse.

O texto falava ainda que a medida “acirra os ânimos” e passa “sentimento de exagero no curso do inquérito, mesmo antes de qualquer condenação”.

Uma ala dos interlocutores de Bolsonaro celebrou a mudança de tom, mas outra ainda achou insuficiente.

“Não direciona para os erros do STF e de Alexandre de Moraes”, disse o pastor Silas Malafaia.

Ele também foi crítico ao tom adotado pelo governador Tarcísio de Freitas. “Vou te dizer, se ele [Tarcísio] fizer uma manifestação e dar nomes claros, elogio ele. As subjetividades dele têm que dar nome aos bois nessa hora crucial, onde Alexandre de Moraes passou de todos os limites”, queixou-se.

Apesar da crítica do pastor, o vídeo divulgado pelo governador de São Paulo, em que classifica a prisão como absurda, foi elogiado por interlocutores de Bolsonaro. Ele vinha sendo fritado após faltar ao ato do último domingo – e não publicar nada a respeito da manifestação.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), por exemplo, classificou como “erro estratégico grande” a ausência de governadores de direita –Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, Ratinho Jr (PSD), do Paraná, e Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, também não compareceram.

Mas a reação na segunda-feira arrefeceu os ânimos. Foi vista como rápida e no tom correto. Embora não cite diretamente o STF ou Moraes, Tarcísio criticou a decisão e indicou que seria antidemocrática.

“A prisão de Jair Bolsonaro é um absurdo. A verdade é que Bolsonaro foi julgado e condenado muito antes de tudo isso começar. Uma tentativa de golpe que não aconteceu, um crime que não existiu e acusações que ninguém consegue provar”, disse.

“Vale a pena acabar com a democracia sob o pretexto de salvá-la? Será que não está claro que estamos avançando em cima de garantias individuais? Já passou da hora das instituições tomarem iniciativas para desescalar a crise”, completou.