SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A pintura, entre o experimental e a tradição, é o eixo da exposição “Silêncio da Tradição: Pinturas Contemporâneas”, em cartaz no Centro Maria Antonia da USP. Com organização do crítico de arte Rodrigo Naves, a mostra reúne obras de pequeno formato que, entre figuras e abstrações, colocam a pintura como um campo de tensão e dão continuidade à história da arte.
São obras de 12 artistas com produção recente, na maioria ligados ao ateliê de Paulo Pasta, um dos principais nomes da pintura brasileira contemporânea. As peças foram selecionadas a partir de um grupo de estudos conduzido por Naves ao longo de meses, em que artistas e críticos se reuniam semanalmente para discutir história da arte e os rumos da linguagem pictórica.
O diálogo entre tradição e contemporaneidade pode ser visto em trabalhos como os de Beatrice Arraes e Guilherme Gallé. Arraes desloca procedimentos da xilogravura para a pintura, invertendo o gesto de subtração do entalhe em um movimento de adição pictórica. Ao representar cenas do sertão cearense, próximas à tradição da pintura de paisagem nordestina, constrói novos imaginários a partir da experimentação formal.
Já nas pinturas de Gallé, a composição se dá por camadas espessas de tinta, criando um jogo visual entre planos sobre a superfície da tela. “Em diálogo com a obra de Eleonore Koch, o artista opera no limite entre figuração e abstração, construindo imagens que evocam paisagens sem, de fato, representá-las”, diz o curador Gabriel San Martin, que assina o texto crítico da exposição.
Para ele, existem ainda ecos das soluções formais de Pasta nos anos 1980, especialmente na maneira como Gallé lida com o volume, criando a sensação de profundidade mesmo onde não há.
“Era fundamental que esses artistas tivessem alguma familiaridade com a tradição da pintura”, afirma. “Não para repetir fórmulas, mas para evitar cair em maneirismos. Conhecer o que veio antes ajuda a tensionar o presente com mais força.”
Para San Martin, o “silêncio da tradição” do título se refere à dificuldade da produção recente em dialogar com os ganhos da arte do passado. “Esses trabalhos são, em grande parte, respostas a esse silêncio, tentativas de ressignificá-lo”, diz. A exposição também propõe uma revalorização da crítica de arte e da interlocução entre artistas e pensadores, práticas que, segundo ele, foram esvaziadas nos últimos anos.
“No passado, havia relações produtivas entre artistas e críticos, como Waltercio Caldas e Ronaldo Brito, em que um abastecia o trabalho do outro em igualdade. Hoje, com a crítica retraída e a curadoria ocupando um lugar de poder, perdemos parte desse diálogo. Por isso o processo de construção desta exposição foi tão valioso”, afirma.
A programação conta ainda com encontros entre artistas e críticos, como o que reuniu Paulo Pasta e Lorenzo Mammì. Os próximos debates ocorrem no dia 23 de agosto, às 11h30, com Antonio Gonçalves Filho, Gabriel San Martin, Matheus Lopes Quirino e Taisa Palhares; e em 27 de setembro, no mesmo horário, com Alberto Tassinari e Rodrigo Naves.
O SILÊNCIO DA TRADIÇÃO: PINTURAS CONTEMPORÂNEAS
Quando Ter. a dom., das 10h às 18h; Até 28/9
Onde Centro MariAntonia – Rua Maria Antônia, 294, SP
Preço Grátis