SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, afirmou que a crise provocada pelos preços exagerados dos hotéis em Belém pode impactar as negociações.
“Se nós não tivermos todas as delegações em Belém, pode ter um questionamento sobre a legitimidade do que nós negociamos, porque alguns países não terão podido ir por causa de preço de hotel”, disse nesta terça-feira (5) em participação remota durante um evento do Insper em São Paulo.
Corrêa do Lago afirmou que a legislação brasileira dificulta o controle das diárias de hospedagem, mas disse que a presidência da COP trabalha para garantir a participação de todos os países.
“O meu interesse, obviamente, é impedir que os preços dos hotéis interfiram na presença de todas as delegações”, disse. “Se a questão de hospedagem afetar a negociação, evidentemente o presidente da COP tem que estar preocupado com isso.”
A ONU exige a participação de ao menos dois terços dos países nas conferências de clima para validar as decisões tomadas.
Negociadores de 25 países assinaram um documento no qual sugerem que, se os preços de hospedagem exorbitantes no Pará não forem resolvidos, o evento deveria, ao menos em parte, acontecer em outro local.
No texto, os signatários inclusive de nações ricas pedem que condições mínimas de acomodação e custo sejam atendidas, “seja em Belém ou em outro lugar”.
Na última quinta-feira (31), o presidente da COP30 confirmou que alguns países pediram que a cúpula climática não aconteça em Belém e criticou a postura do setor hoteleiro, de cobrar valores muito mais altos do que o normal para a hospedagem no período da reunião.
Corrêa do Lago disse na última sexta (1º) que não há plano B e a conferência será na capital paraense.
Como a Folha revelou, os hotéis de Belém se recusam a explicar os preços cobrados pelas diárias ao Ministério da Justiça.
Nas respostas, há redes hoteleiras concorrentes que apresentam argumentações praticamente idênticas e não informam nada.
Em outro caso, um hotel de luxo construído especialmente para a COP (que contou com R$ 20 milhões de uma linha de crédito especial oferecida pelo governo federal) usou o próprio evento e a falta de capacidade da cidade para justificar diárias de R$ 15 mil, na média.
Procurada, a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis afirmou, por meio do seu presidente no estado, Antonio Santiago, que “certamente [as empresas] estão aplicando uma lei antiga: oferta e procura”.
Corrêa do Lago afirmou que deve publicar a nova carta da presidência da COP na próxima quinta (7).
“A quinta carta é sobre pessoas, de que maneira as pessoas estão integradas nessa agenda [climática], com forte atenção à questão de raças, etnia e, evidentemente, dos povos indígenas”, disse.