SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um ano após o início da cobrança da “taxa das blusinhas”, as compras de pequeno valor de outros países recuaram ao menor patamar desde 2021, em uma consequência do encarecimento dos produtos adquiridos em plataformas de comércio internacional, em especial da China.

Dados do Banco Central mostram que, no primeiro semestre deste ano, as importações intermediadas por facilitadoras de pagamento somaram US$ 4,6 bilhões, uma queda de 13,6% na comparação com o mesmo período do ano passado.

Desde agosto de 2024, as compras de valores até US$ 50, antes isentas, passaram a ser taxadas em 20%. Para as importações de valores entre US$ 50 e US$ 3 mil, os importados de pequeno valor pagam uma alíquota de 60%. Sobre qualquer valor, incidem ainda o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de 17% a 20%, dependendo do estado.

“Muitos produtos diferentes, que você não encontra no Brasil, continuam entrando. Mas com uma taxação total que fica em 40%, você começa a aproximar mais e nivelar a competição com produtos disponíveis no mercado brasileiro”, aponta Alberto Serrentino, sócio da Varese Retail.

A compra de produtos de plataformas chinesas disparou no Brasil nos anos seguintes à pandemia, em um reflexo da digitalização da economia. De 2021 até junho deste ano, foram comercializados US$ 43,3 bilhões em produtos importados de pequeno valor, segundo os dados do Banco Central.

O grande salto nas compras veio em 2022, quando US$ 13,1 bilhões em produtos foram importados, um crescimento de 131,7% na comparação com o ano anterior.

Foi nesse momento que o Ministério da Fazenda decidiu colocar uma lupa sobre as encomendas internacionais feitas através de grandes sites de comércio eletrônico da China. Em agosto de 2023, instituiu o Remessa Conforme, programa que certifica empresas de comércio eletrônico para que o consumidor pague os impostos antecipadamente.

O forte ritmo de crescimento das compras internacionais já havia sido freado mesmo antes disso, na primeira metade de 2023, pela fiscalização mais intensa da Receita Federal. “Desde o ano retrasado, começou a haver um arrefecimento na demanda e naquela curva agressiva de crescimento que vinha acontecendo desde a pandemia”, afirma Serrentino.

Ele aponta que esse movimento se intensificou desde o ano passado, com o efeito da taxação de produtos de até US$ 50 reduzindo a atratividade dos produtos comprados em outros países.

“Isso com certeza afetou a demanda, até o hábito dos consumidores de se engajarem com muito mais frequência em compras internacionais”, diz Serrentino.

Fernando Hidalgo, presidente da ABComm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico), avalia que o aumento nos preços dos produtos importados através das plataformas colocou mais ênfase na importância do prazo de entrega.

“O que fazia as pessoas esperarem mais para a entrega do produto era o preço. Depois da taxação, mesmo se o preço for um pouco maior, as pessoas optam por receber o produto primeiro”, afirma. “Se a diferença de preço não é tão grande, o prazo acaba sendo o fator que desequilibra o jogo.”

De acordo com Hidalgo, mesmo com a queda na importação, dados da ABComm mostram que houve crescimento de 10% do faturamento do ecommerce total no ano passado, o que aponta que o consumidor passou a comprar mais itens de vendedores locais.

Os especialistas apontam que foi a baixa renda a mais afetada pela taxação. Dados da Amobitec, associação que representa empresas de mobilidade e tecnologia, mostram que nos primeiros oito meses de implementação da taxa de 20%, o volume de compras internacionais realizadas pelos consumidores das classes C, D e E caiu 35%. Foram 14 milhões de pessoas que deixaram de importar via sites de comércio online.

Dados coletados pelo Santander mostram que, no terceiro trimestre de 2024, quando a taxação de itens de até US$ 50 começou, as vendas de vestuário cresceram 6% em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo dados do IBGE. Enquanto isso, na mesma comparação, as vendas da Riachuelo avançaram 11%, as da Renner, 12%, e da C&A, 19%.

Outro lado dessa tendência, afirma Serrentino, é que as plataformas chinesas de comércio passaram a fortalecer os vendedores locais. “Mais de 90% da venda do Shopee já é feita localmente, e a Shein e a Temu, por exemplo, começaram a recrutar vendedores locais para incrementar gradualmente o percentual de vendas locais e não depender somente do cross border”, diz.

Enquanto as importações se reduziram, a arrecadação disparou. Dados da Receita Federal mostram que no ano passado, a receita com o imposto de importação de remessas internacionais somou R$ 2,7 bilhões, um crescimento de 40,7% na comparação com 2023.