SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Eddie Murphy talvez seja o ator cômico do cinema americano mais identificado com os filmes de ação. Ele dispara igualmente balas e piadas em sucessos que geram franquias. Aos 64 anos, ainda se sente à vontade para mais um exemplar do gênero, “A Última Missão”, produção para streaming do Prime Video.

Na década de 1980, ele se tornou astro atuando como uma usina de deboche ao lado de parceiros policiais mais velhos. Em “48 Horas” (1982), Reggie Hammond era um condenado à prisão que se aliava ao detetive interpretado por Nick Nolte para solucionar um caso, e ele enlouquecia o parceiro. Depois, em “Um Tira da Pesada” (1984), fez o papel de Axel Foley, um policial negro num bairro de brancos ricos que infernizava os vilões e seus próprios colegas.

“24 Horas” teve uma continuação de igual sucesso, e “Um Tira da Pesada” virou franquia de quatro longas. Tudo leva a crer que “A Última Missão” pode ter o mesmo destino, porque na tela a química é ótima entre Murphy e seu parceiro, vivido por Pete Davidson.

“Logo que terminamos as filmagens tivemos conversas sobre isso. Por que não uma sequência? Em audições-teste, as pessoas amaram o filme. E eu também tive uma química muito boa com Eva Langoria”, diz Murphy, se referindo à atriz famosa por sitcoms, como “Desperate Housewives”, que faz a mulher de seu personagem, Russel Pierce.

No dia do aniversário de casamento, após prometer chegar cedo em casa para comemorar, Pierce tem um novo parceiro em seu trabalho de transportar montanhas de dinheiro em um carro-forte. Travis Stolly é um novato, totalmente trapalhão, que no fim de semana foi seduzido por uma mulher sem saber que ela é chefe de uma quadrilha que tirou dele informações para assaltar o carro-forte na estrada.

A primeira metade do filme é uma perseguição alucinada, um “Mad Max” cheio de humor, com a dupla tentando fugir dos bandidos que chegam em carros velozes. No meio da história, há uma grande virada no roteiro, praticamente transformando a segunda parte em outro filme. As prévias da crítica americana elogiam bastante.

Murphy explica por que aceitou o projeto. “Pelo roteiro, sem dúvida. Normalmente, você recebe um roteiro e ele ainda passa por vários outros estágios antes de chegar a uma versão definitiva. Você já sai dando palpites, ‘muda aqui’, ‘muda ali’, e isso é normal. Mas este roteiro era sólido e já tinha o ritmo da narrativa. Eu pude imaginar visualmente o filme inteiro enquanto lia o que estava escrito. Acredito que 90% do que você vê na tela já estava ali desde o início.”

Provavelmente a maior surpresa para os fãs, acostumados a ver Murphy sempre como o sarcástico, o dono das piadas, é assistir a um personagem ranzinza, tenso, deixando as maluquices para o colega Pete Davidson. Mas ele não admite que seu personagem não tem humor.

“Não! Russell é engraçado! Travis tem o humor mais selvagem, ele é o cara totalmente desencaixado do mundo. Eles são diferentes. Travis é solteiro, dorme com a mulher que quiser. Meu personagem é casado, já sossegou. Ele é alto e branco, eu sou preto e mediano. E há um abismo de gerações. Acho que o humor vem da oposição dos dois, então Russell também faz humor.”

Ele abaixa a guarda ao aceitar que a idade traz mudanças. “Precisa ser diferente. Eu envelheci. Eu faria ‘48 Horas’ do mesmo jeito hoje? Não. Seria mais fácil eu ficar com o personagem do Nick Nolte. Seria a voz da razão, o cara mais velho. Em passei dos 60, não? Ninguém quer um touro bravo com 64 anos.”

Murphy já se acostumou com repetições de papéis motivadas pelo sucesso. São quatro filmes como Axel Foley, dois como Reggie Hammond, dois como o dr. Doolittle, o veterinário que fala com os animais, dois como Sherman Klump, de “O Professor Aloprado”, e vai agora para a quinta dublagem do burrinho na animação “Shrek”.

“É fácil voltar a um personagem se você realmente tiver algo diferente para fazer com ele. É preciso levar em consideração o tempo todo que o público já conhece o personagem, não vai aceitar a mesa piada nem atitudes conflitantes como o que ele já viu antes.” Ele dá o exemplo da continuação de “Um Príncipe em Nova York” (1988), produzida 33 anos depois.

“No esboço de roteiro para esse segundo filme, o personagem tinha se separado da mulher e aí coisas novas aconteciam. Mudamos, porque eu achei que era impossível fazer desse jeito, porque o primeiro filme terminou em clima de conto de fadas. Se ele e a mulher se separam, onde foi parar o ‘felizes para sempre’? O público não iria aceitar. Você nunca pode menosprezar seu espectador.”

A ÚLTIMA MISSÃO

– Quando Em cartaz no Prime Video nesta quarta (6)

– Classificação 14 anos

– Elenco Eddie Murphy, Pete Davidson e Keke Palmer

– Produção Estados Unidos, 2025

– Direção Tim Story