Da Redação
As farmácias brasileiras começam a receber, ainda nesta semana, os primeiros medicamentos injetáveis para controle da obesidade e do diabetes tipo 2 produzidos em território nacional. Os produtos, batizados de Olire e Lirux, são fabricados pela EMS, em Hortolândia (SP), e representam a entrada do Brasil na produção de fármacos baseados na liraglutida — o mesmo princípio ativo dos já conhecidos Saxenda e Victoza, antes importados.
Enquanto a Lirux será voltada ao tratamento do diabetes, com dose máxima de 1,8 mg, a Olire foi desenvolvida para controle do peso em pacientes com obesidade, com até 3 mg. O preço estimado das caixas, que podem conter uma, duas ou três canetas, varia entre R$ 300 e R$ 700. A estratégia da EMS é permitir que novos pacientes experimentem o tratamento com um custo inicial menor, facilitando a adesão.
A produção nacional dos medicamentos foi autorizada pela Anvisa em dezembro de 2024 e promete tornar o tratamento mais acessível, em um país onde mais de 41 milhões de brasileiros estão acima do peso e quase 10 milhões têm diabetes tipo 2, segundo dados do Ministério da Saúde. Há expectativa de que, com o tempo, os medicamentos também possam ser avaliados para inclusão em programas públicos de saúde.
Receita controlada e uso supervisionado
Apesar da empolgação, o uso dos novos medicamentos exige atenção. Desde abril, todos os remédios com liraglutida estão sujeitos a regras mais rígidas: a venda só pode ser feita com prescrição médica com retenção da receita, e as farmácias devem registrar cada compra no Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC). A medida foi adotada para combater o uso indiscriminado da substância, que viralizou nas redes sociais como “solução rápida” para emagrecer — muitas vezes, por pessoas sem recomendação médica.
A liraglutida age no hipotálamo, região do cérebro que regula a saciedade e os níveis de glicose no sangue. Estudos indicam que seu uso controlado pode proporcionar perda de 8% a 10% do peso corporal em pacientes com obesidade, além de melhorar significativamente fatores de risco cardiovascular.
“Pode parecer uma redução modesta, mas tem impacto real na saúde do paciente”, explica o endocrinologista Paulo Medeiros. Ele destaca que a fabricação nacional representa um marco importante, por reduzir custos e facilitar o acesso a tratamentos antes restritos a quem podia pagar caro por produtos importados.
Próximos passos da indústria brasileira
A EMS já anunciou que pretende lançar, em 2026, sua própria versão da semaglutida, princípio ativo presente no Ozempic e Wegovy — dois dos medicamentos mais procurados atualmente, cujas patentes estão próximas do vencimento.
Segundo a Anvisa, a ampliação do acesso precisa vir acompanhada de responsabilidade. O tratamento, reforça a agência, deve ser supervisionado por uma equipe multiprofissional — incluindo endocrinologistas, nutricionistas e psicólogos. “Não se trata de um produto estético, mas de um tratamento clínico”, afirma Medeiros.
A popularização desses medicamentos também tem impacto direto sobre o abastecimento nas redes públicas de saúde. O uso sem controle vinha pressionando os estoques do SUS e prejudicando pacientes que realmente dependem das substâncias para controlar doenças crônicas. Por isso, o reforço nas regras é considerado essencial para evitar o desvio de finalidade e priorizar quem realmente precisa.
Com isso, a chegada das canetas Olire e Lirux não apenas marca um avanço da indústria farmacêutica nacional, mas também inaugura uma nova etapa na luta contra doenças metabólicas no Brasil — com mais acesso, mais regulação e, acima de tudo, mais responsabilidade.