SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Eleito para seu quinto mandato à frente da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), Paulo Skaf disse nesta segunda-feira (4) que embora só assuma a presidência em 1º de janeiro de 2026, já quer trabalhar com Itamaraty e governo Lula para estabelecer o que chamou de “diplomacia empresarial”.
“O tarifaço é um problema de momento, problema grave”, disse. “Muitas pequenas e médias empresas vendiam toda a produção para os Estados Unidos. Vamos dar toda atenção, embora meu mandato vá iniciar apenas em 1º de janeiro do próximo ano, tudo o que eu puder fazer como presidente eleito da Fiesp, irei colaborar. Nós não temos tempo, é um assunto que precisa ser resolvido para ontem”, afirmou, em referência à sobretaxa de 50% imposta pelo presidente Donald Trump às exportações brasileiras.
Segundo Skaf, o diplomata Roberto Azevêdo, ex-diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), foi convidado e já teria aceitado assumir o Conselho de Relações Internacionais da entidade. “Ele mora em Nova York e é isso mesmo, o conselho da Fiesp será um conselho global, não ficará apenas no âmbito nacional, brasileiro.”
Na avaliação do presidente eleito da Fiesp, dada a importância do mercado norte-americano para as indústrias brasileiras, ele ainda receberá atenção especial de sua gestão. Equipes da federação deverão buscar maior aproximação com os clientes em outros países para, por meio desse relacionamento, aumentar o volume de vendas e de investimentos.
A abertura de novos mercados também estará na pauta da nova gestão, disse Skaf. “Vamos iniciar com o governo americano e depois estender a todos os outros mercados, para o Brasil vender para todas as partes do mundo.”
Em rápida fala após a confirmação de sua vitória para voltar ao comando da entidade, Paulo Skaf disse que a indústria brasileira vive inúmeros desafios. De um lado, inteligência artificial e novas tecnologias e, de outro, juros altos e alta carga de impostos.
Lembrado como pai do “pato da Fiesp”, o inflável que ocupou a frente da sede da federação da avenida Paulista a partir da campanha “Não vou pagar o pato”, contra a alta de impostos e o retorno da CPMF em 2015, Skaf disse nesta segunda que “os governos precisam parar de ser gastões”, pois isso gera deficit e eleva os juros.
“Nesse momento, não há nada mais importante para a economia brasileira do que a redução dos gastos públicos.”
Ao ser anunciado vencedor, Skaf disse que voltar ao comando da Fiesp não era seu “plano de vida”, mas que um abaixo-assinado pedindo seu retorno o fez reavaliar a decisão tomada em 2021, quando apoiou a eleição de Josué Gomes à presidência da federação. “Fiquei muito agradecido e emocionado. Pensando no Brasil, aceitei.”
A articulação de Skaf para voltar ao comando da Fiesp começou no ano passado, com reuniões com sindicatos que depois apoiaram a chapa encabeçada por ele. Contudo, há quem veja essa movimentação tendo início ainda em 2022, no primeiro ano do mandato do atual presidente, Josué Gomes da Silva.
Nome apoiado por Skaf e também eleito sem concorrência, Josué enfrentou uma rebelião cujo ápice foi a realização de uma assembleia extraordinária que aprovou sua destituição.
Na época, Skaf não falou publicamente sobre a tentativa de destituição de Josué e seus aliados diziam que era injusto atribuir ao ex-presidente qualquer protagonismo na crise, pois, caso a saída se confirmasse, não seria ele o novo presidente.
O ex-presidente da Fiesp teria participado de algumas reuniões e foi procurado por aliados para interceder junto à atual direção. A crise, porém, só começou a arrefecer depois que Skaf entrou em ação. No fim de janeiro de 2023, ele assinou com Josué uma carta conjunta por paz na entidade.
Entre industriais, há preocupação de que a volta de Skaf ao comando da entidade represente nova inflexão política da entidade. Josué é próximo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e chegou a ser convidado para assumir o Ministério da Indústria.
Desde o início do governo Lula 3, ministros como Fernando Haddad, da Fazenda, Simone Tebet, do Planejamento, e o vice-presidente Geraldo Alckmin, que também é titular da Indústria, estiveram em reuniões com a diretoria da Fiesp.
Skaf, durante os anos à frente da entidade, levou a Fiesp mais à direita, com apoio explícito ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).