BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu na trama golpista de 2022, classificaram sua prisão domiciliar, decretada nesta segunda-feira (4) pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), como revanche, vingança e sinal de que o país vive um estado de exceção.

O presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, divulgou uma nota em letras maiúsculas: “ESTOU INCONFORMADO!!!!! O QUE MAIS POSSO DIZER?”

Ao decretar a prisão, Moraes menciona o fato de Bolsonaro ter, por meio de ligações telefônicas, se dirigido a manifestantes dos atos bolsonaristas deste domingo (3) e, além disso, o fato de que as mensagens dele foram reproduzidas em redes sociais.

Desde o dia 18 de julho, por decisão de Moraes, o ex-presidente está proibido de usar redes sociais próprias e de terceiros e de sair de casa à noite e aos fins de semana, o que impossibilitou sua presença nos protestos.

Uma saudação dele aos manifestantes foi feita, por exemplo, por meio de ligação ao filho Flávio Bolsonaro (PL-RJ), no ato do Rio de Janeiro. O senador chegou a postar um vídeo com esse registro em suas redes sociais e depois apagou por orientação de advogados.

“Eu não vi problema nenhum, durou 15 segundos. Mas vai saber o que sai da cabeça de Alexandre de Moraes. […] Não fui só eu que publiquei, é um vídeo público nas redes sociais”, disse Flávio à CNN.

Ele afirmou ainda que é preciso “botar um freio” em Moraes e que a ordem de prisão domiciliar teve o objetivo de “satisfazer essa necessidade [de Moraes] de mostrar quem é que fala mais alto no país”.

Flávio ainda defendeu o impeachment de Moraes no Senado e culpou o ministro pelo tarifaço de Donald Trump. “A bagunça que o Brasil está hoje é porque o Senado não age. Enquanto não for expurgada essa pessoa que está fazendo mal para a Suprema Corte, fazendo mal para a democracia, fazendo mal para o nosso país —a taxa Moraes está aí para mostrar como ele está fazendo mal para o país— a gente vai continuar nisso.”

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que também fez uma ligação de vídeo para Bolsonaro durante o ato, é mencionado na decisão de Moraes. Em vídeo divulgado em suas redes, ele chama a prisão de “ditadura confusa”.

“Ele [Moraes] me cita na decisão. Eu falo no dia da manifestação: ele [Bolsonaro] não pode falar, mas ele pode ver. E aí ele vê. […] Se uma outra pessoa filma ele e posta nas redes sociais, aquela pessoa é responsabilizada e ele também, como assim?”, questiona.

Nas redes, diversos deputados bolsonaristas passaram a publicar “vingança não é justiça” e “abuso de poder”.

Aliados de Bolsonaro também relacionaram a ordem de Moraes ao que entendem como uma resposta política à mobilização social a favor da anistia do ex-presidente —em São Paulo, o público do ato foi de 37,6 mil pessoas, segundo contagem do Monitor do Debate Político do Cebrap e da ONG More in Common.

Para o líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), a “ditadura foi declarada”.

“Agora o trancam dentro da própria casa, como um criminoso. Sem crime. Sem julgamento. Sem defesa. Isso não é justiça, é vingança política! Hoje, a história registrou: acabou a democracia no Brasil. Não há mais instituições, há tiranos com toga”, escreveu nas redes sociais.

Para o líder da oposição na Câmara, deputado Zucco (PL-RS), a prisão domiciliar “é um ato político, não jurídico”. “A democracia está em risco. O Brasil vive um estado de exceção”, publicou.

“O Brasil vive um Estado de exceção. Isso é um fato, e o mundo vê. É inadmissível o que está acontecendo no país”, afirmou o líder do PL no Senado, Carlos Portinho (RJ). “A luta agora é pelas cinco assinaturas que faltam para o pedido de impeachment [de Moraes] protocolado no final do ano passado. Nunca estivemos tão próximos”, declarou.

“Estou indignada, mas não estou surpresa”, afirmou a senadora Damares Alves (Republicanos-DF), ex-ministra do governo Bolsonaro. “Já esperávamos que ele fizesse isso. Mas, Bolsonaro, fica firme. Aguenta mais um pouco. O Brasil está acordando, o mundo está acordando”, declarou.

Presidente do PP e ex-ministro de Bolsonaro, o senador Ciro Nogueira (PI) afirmou que se trata de um dia triste. “A prisão domiciliar do presidente Bolsonaro, antes mesmo do julgamento, é um fato jurídico com que ninguém pode concordar. Ainda acredito que a Justiça irá prevalecer no final”, escreveu em seu perfil no X, antigo Twitter.

“Essa prisão a prestações que ele [Moraes] está aplicando no Bolsonaro, e que não surpreende ninguém, está aviltando a figura do juiz e do Judiciário brasileiro”, afirmou o senador Esperidião Amin (PP-SC). O senador disse que o ministro não é imparcial.