BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro Fernando Haddad (Fazenda) afirmou nesta segunda-feira (4) que vê a possibilidade de Brasil e Estados Unidos chegarem a um acordo relacionado à mineração. Para ele, é possível avançar na pauta bilateral por meio da ampliação das trocas comerciais e também em interesses estratégicos.
“Em se tratando da maior economia do mundo, o Brasil pode participar mais do comércio bilateral. E sobretudo de investimentos estratégicos. Temos minerais críticos e terras raras. Os EUA não são ricos nesses minerais. Nós podemos fazer acordos de cooperação, para produzir baterias mais eficientes. Na área tecnológica temos muito aprender e ensinar”, disse em entrevista à BandNews.
Estudos do governo brasileiro apontam que o aumento da demanda por baterias, por causa dos investimentos globais em transição energética e substituição de combustíveis fósseis, significa maior extração e mineração de minerais estratégicos -particularmente lítio, cobalto, níquel e grafite. De acordo com levantamentos monitorados pelo Executivo, esses materiais podem ter lacunas de oferta até 2030.
O governo Trump já sinalizou que o acesso a itens da mineração será um componente central de sua politica externa e tem demonstrado isso na relação com diferentes países, como Ucrânia, China e o próprio Brasil. No mês passado, o encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos, Gabriel Escobar, afirmou que o governo americano tem interesse nos materiais críticos em solo brasileiro.
Haddad mencionou a possibilidade de um acordo dessa natureza quando disse ser necessário despolitizar o debate com os EUA e negociar no âmbito comercial. Ele defendeu que há forças políticas querendo que o país seja governado por quem quer entregar riquezas nacionais -citando inclusive as terras raras, conjunto de 17 elementos usados em uma gama de setores (como o da indústria bélica).
Em outro momento, Haddad disse que os EUA precisam aumentar a presença no Brasil e transferir conhecimento. “Há soluções de benefício mútuo que estamos perseguindo não agora, mas desde que o presidente Lula tomou posse”, disse.
“Estamos há mais de dois anos sentados com as autoridades americanas, dizendo a eles ‘vocês têm que voltar a investir na América do Sul, vocês estão se retirando da América do Sul, vocês têm que voltar a investir, voltar a gerar emprego, transmitir tecnologia. Para nós é importante a integração do continente americano. Então, a presença de vocês é bem-vinda, é necessária'”, afirmou.
Haddad também afirmou que o Pix é uma solução brasileira que pode ser exportada a outros países. “É uma tecnologia desenvolvida ao longo de pouco mais de dez anos e que hoje é referência mundial. Nós não somos o único detentor dessa tecnologia. Há alternativas, mas o Brasil largou na frente em moeda digital. Então, para quem está com medo de cripto, para quem está com medo de desdolarização, nós temos uma tecnologia que pode interessar, pode interessar muito ao mundo”.
O ministro tem tentado uma conversa com Scott Bessent, secretário do Tesouro americano, apesar da dificuldade de agenda. “O secretário Bessent concentra uma quantidade enorme de acordos, são dezenas de países sob sua responsabilidade. Até semana passada ele estava na Europa […] e disse que antes de voltar aos EUA teria muita dificuldade de ter janela para uma reunião ainda que virtual comigo. Desde a semana passada, sexta-feira, eles manifestaram interesse de talvez nesta semana marcar essa reunião”, disse.
Enquanto as tentativas de negociação prosseguem, o Brasil também deve anunciar oficialmente um programa para socorrer empresas impactadas pelo problema. De acordo com o ministro, o pacote conterá medidas de crédito e poderá ter um impacto primário nas contas públicas, embora considerado por ele como pequeno.
O ministro afirmou que o programa conterá diferentes medidas, embora não tenha como grande foco produtores de commodities -já que esses produtos, disse, poderão ser facilmente redirecionados a outros mercados. Mesmo assim, citou a possibilidade de compras governamentais resolverem a falta de compradores no curto prazo. Segundo ele, as medidas de crédito serão companhias que produzem artigos sob medida para a indústria americana.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, o plano em elaboração pelo governo para minerais estratégicos se arrasta mesmo com a crescente demanda estrangeira pelos materiais. Representantes da gestão de Donald Trump têm demonstrado insatisfação e apontado que o tema é mais um ingrediente de desconforto na relação com a gestão Lula (PT).
O ritmo contrasta com a urgência adotada por outros países na obtenção e no processamento de minerais críticos, aqueles essenciais para equipamentos de alta tecnologia, como nióbio, grafite (grafeno), níquel e terras raras, e cuja falta pode causar graves impactos econômicos.