SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar está em queda nesta segunda-feira (4), com os investidores recalibrando apostas sobre ao política monetária do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) após dados de emprego virem mais fracos do que o esperado.

O tarifaço do presidente Donald Trump também segue no radar. As novas sobretaxas devem entrar em vigor nesta semana, segundo decreto do republicano.

Às 14h15, a moeda norte-americana caía 0,49%, cotada a R$ 5,517. Já a Bolsa avançava 0,14%, a 132.633 pontos.

O “payroll” (folha de pagamento, em inglês) de sexta-feira segue ditando o negócios nesta sessão. O relatório indicou que foram abertas 73 mil vagas de trabalho, ante expectativa de 110 mil, e que a taxa de desemprego subiu de 4,1% para 4,2%.

Além disso, houve uma revisão dos dados do mês de junho. Em vez de 147 mil vagas, como reportado anteriormente, foram criadas apenas 14 mil.

Os números menores do esperado e as revisões para baixo fomentaram apostas de que há espaço para um corte de juros pelo Fed no próximo encontro, em setembro. Segundo dados da LSEG, operadores agora precificam 93% de chance de uma redução de 0,25 ponto percentual no mês que vem.

A taxa de juros está na banda de 4,25% e 4,5% desde o final de 2024 e vem sendo mantida neste patamar por conta da incerteza que ronda a economia norte-americana, de acordo com declarações de diretores do Fed.

A autoridade monetária dos EUA trabalha com um mandato duplo, isto é, baliza as decisões de juros com base nos dados do mercado de trabalho e da inflação. O objetivo é alcançar o pleno emprego e levar a inflação à meta de 2% ao ano.

“O relatório de julho transmitiu uma mensagem dupla: criação de empregos mais fraca do que o esperado no mês, junto de revisões significativas para baixo. Dada a ênfase de Jerome Powell [presidente do Fed] nos desenvolvimentos do mercado de trabalho, essa divulgação fortalece o argumento a favor de um corte de juros em setembro”, disseram analistas do BTG em relatório. O próximo relatório do payroll deverá ditar se haverá ou não um corte no próximo encontro.

Quanto maiores as taxas de juros nos Estados Unidos, mais o mercado tende a direcionar investimentos para lá, já que os retornos ligados à renda fixa norte-americana ficam mais atrativos -o que fortalece o dólar. O inverso também é verdadeiro: sinalizações de queda nos juros levam os operadores a retirar recursos dos EUA e direcioná-los a outros ativos, o que enfraquece a moeda.

A divisa dos EUA tinha queda globalmente: o índice DXY, que compara a força do dólar em relação a seis outras moedas fortes, caía 0,4%, a 98,74 pontos.

Ter um dólar mais fraco é um dos interesses de Donald Trump, segundo o economista André Perfeito, tendo em vista que o déficit em transações correntes dos EUA está “muito elevado há tempo demais”.

“A moeda norte-americana, sendo a de reserva mundial, tem uma demanda cativa que evita que ela se deprecie com dados ruins no setor externo. De tempos em tempos, os presidentes dos EUA tem que ‘aparar as arestas’ do dólar. Isso aconteceu com Nixon em 1973, com Reagan em 1985 e agora com Trump”, afirma.

O déficit em transações correntes fechou em US$ 1,2 trilhão em 2024. “Para comparação, o PIB do Brasil foi de US$ 2,2 trilhões, ou seja, o déficit dos EUA ‘compraria’ metade do Brasil. Nem os EUA são tão grandes para deixar as coisas desse jeito por muito tempo”, diz Perfeito.

A estratégia de Trump é mais “direta” que a dos demais presidentes norte-americanos: ocorre através do tarifaço, que tem elevado a incerteza em torno da solidez da economia dos Estados Unidos e desviado investimentos do mercado de lá.

O republicano assinou uma medida na noite de quinta-feira impondo tarifas de 10% a 41% sobre dezenas de países e mudando o início do tarifaço para dia 7 de agosto.

O texto afirma que alguns parceiros comerciais, “apesar de terem se envolvido em negociações, ofereceram termos que, em meu julgamento, não resolvem os desequilíbrios em nosso relacionamento comercial ou não se alinharam com os EUA em questões econômicas e de segurança nacional”.

O Brasil será sobretaxado em 50%, a maior tarifa até o momento. Apesar disso, o país se beneficiou de uma isenção para cerca de 700 produtos exportados aos EUA.

O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve tentar ampliar a lista de exceções para poupar mais empresas. Os negociadores esperam que as tratativas se arrastem por um longo período.

Uma das apostas é na abertura de um canal de diálogo do ministro Fernando Haddad (PT), da Fazenda, com o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent. Essa ponte poderia permitir, em outro momento, uma ligação entre Trump e o presidente Lula.

Em evento em Brasília, Lula disse que há limites na negociação e demonstrou preocupação com a relação diplomática entre os dois países.

“O governo tem que fazer aquilo que ele tem que fazer. Por exemplo, nessa briga que a gente está fazendo agora, com a taxação dos Estados Unidos, eu tenho um limite de briga com o governo americano. Eu não posso falar tudo que eu acho que eu devo falar, tenho que falar o que é possível, porque eu acho que nós temos que falar aquilo que é necessário”, disse.

“Não queremos confusão. Quem quiser confusão conosco pode saber que nós não queremos brigar. Agora, não pensem que nós temos medo”, reforçou.