SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Paulo Skaf concorre nesta segunda-feira (4) a mais um mandato à frente da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) sem oposição e em chapa única.

Em janeiro de 2026, ele assumirá o quinto mandato no comando da federação e, ao fim dele, terá fechado 20 anos liderando a entidade que reúne os sindicatos industriais do maior estado brasileiro, em um momento de pressão sob o setor com tarifaço para exportação e juros altos.

A articulação de Skaf para voltar ao comando da Fiesp começou no ano passado, com reuniões com sindicatos que depois apoiaram a chapa encabeçada por ele. Contudo, há quem veja essa movimentação tendo início ainda em 2022, no primeiro ano do mandato do atual presidente, Josué Gomes da Silva.

Nome apoiado por Skaf e também eleito sem concorrência, Josué enfrentou uma rebelião cujo ápice foi a realização de uma assembleia extraordinária que aprovou sua destituição. Apesar de ter sido apoiado pelo antecessor, o estilo de administração do atual presidente, visto como menos político e mais discreto que o do antecessor, deixou insatisfeitos.

Nos anos Skaf, presidentes e diretores de sindicatos aliados eram frequentemente vistos na sede da federação, na avenida Paulista, em almoços e cafés.

Josué mexeu em cargos na federação, reduzindo a presença e influência dos sindicatos nos conselhos e nas diretorias, tradicionalmente ocupados por pessoas indicadas pelas entidades. A Fiesp tem diretorias, departamentos, conselhos e comitês.

As novas nomeações, bem vistas fora da entidade, desagradaram dirigentes antigos, acostumados a fazer suas indicações e a comandar setores.

Na época, Skaf não falou publicamente sobre a tentativa de destituição de Josué e seus aliados diziam que era injusto atribuir ao ex-presidente qualquer protagonismo na crise, pois, caso a saída se confirmasse, não seria ele o novo presidente.

O ex-presidente da Fiesp teria participado de algumas reuniões e foi procurado por aliados para interceder junto à atual direção. A crise, porém, só começou a arrefecer depois que Skaf entrou em ação. No fim de janeiro de 2023, ele assinou com Josué uma carta conjunta por paz na entidade.

“Concluímos que cabe a nós dar o exemplo de superação de divergências”, dizem Skaf e Josué no documento divulgado à época.

A volta de Skaf à frente da Fiesp pode marcar também uma nova inflexão política da entidade. Josué é próximo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e chegou a ser convidado para assumir o Ministério da Indústria.

Skaf, durante os anos à frente da entidade, levou a Fiesp mais à direita, com apoio explícito ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Para muitos, a Fiesp perdeu representação enquanto ele a comandava por ter misturado a própria imagem com a da federação, que teria virado uma plataforma para suas aspirações eleitorais. Da entrega no Congresso de um abaixo-assinado em carrinhos de supermercado contra a continuidade da CPMF ao exército de patos colocado em marcha contra a então presidente Dilma Rousseff (PT), viu-se, mais que formas de protesto, intervenções midiáticas centradas na figura de Skaf, projetando-o nacionalmente.

O ex-presidente da federação também tem aspirações eleitorais e chegou a ser candidato ao governo de São Paulo pelo MDB em 2018 e 2014. Em 2022, filiou-se ao Republicanos, mesmo partido do governador Tarcísio de Freitas.

Desde sua primeira eleição à frente da entidade, em 2004, Skaf explorou a imagem de alguém que cresceu à margem da elite do setor industrial. Seus críticos gostam de dizer que ele é um “industrial sem indústria”.

Ele não é, de fato, um empresário convencional. Josué Gomes, seu sucessor e agora também antecessor, preside o grupo têxtil Coteminas, fundado por sua família no norte de Minas Gerais. Já Skaf está no setor têxtil por 20 anos e chegou à presidência da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções) e do Sinditêxtil (Sindicato da Indústria Têxtil de São Paulo).

A eleição para a nova diretoria da Fiesp vai até 17h desta segunda, com a apuração de votos começando em seguida. Segundo a federação, o processo é acompanhado por uma comissão presidida pelo ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Sydney Sanches.

Também integram a comissão a ex-ministra do STF Ellen Gracie, o ex-ministro do TSE (Tribunal Superior do Trabalho) Almir Pazzianotto, o jurista Ives Gandra Martins e a desembargadora aposentada do Tribunal Regional do Trabalho Maria Cristina Mattioli.