MACEIÓ, AL (FOLHAPRESS) – A mulher agredida com mais de 60 socos dentro do elevador de um condomínio no bairro de Ponta Negra, zona sul de Natal (RN), pode ter sequelas por causa da extensão das fraturas no rosto, de acordo com o cirurgião-dentista responsável pelo caso.
A cirurgia ocorreu no Hospital Universitário Onofre Lopes, da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), vinculado à rede Ebserh, na última sexta-feira (1º). Ainda não há previsão de alta.
“Diante de um trauma desta magnitude, não dá para afirmar que a paciente está livre de sequelas. Para isso, será monitorada nos próximos meses para definição do que será realizado”, afirmou Kerlison Paulino de Oliveira à Folha de S.Paulo.
Segundo ele, a mulher já consegue falar, embora tenha algumas limitações. “No entanto, permanecerá com dieta pastosa por um período mais longo do que o habitual, devido à severidade do caso. Iremos evoluindo lentamente na dieta até que possa ingerir alimentação mais consistente.”
A cirurgia estava prevista para durar entre 4h30min e 5h, mas se estendeu para 7h. Foram encontradas fraturas cominutivas, ou seja, fragmentos presentes nas regiões atingidas, o que dificulta as fixações ósseas com placas e parafusos. “A estrutura precisa ficar rígida o suficiente para a obtenção do melhor resultado”, disse Oliveira.
“O procedimento foi realizado com o objetivos de reestabelecer forma e função da face. Foram utilizadas placas e parafusos para reconstrução das áreas atingidas”, complementou, afirmando que as lesões foram na maçã do rosto direita, na órbita, no maxilar e na mandíbula, além de uma fratura nasal.
O ataque foi gravado por uma câmera de segurança do edifício. O vídeo mostra o momento em que o ex-jogador Igor Eduardo Pereira Cabral, 29, desfere um primeiro soco na mulher. Ela cai no canto do elevador, e ele começa uma sequência de golpes.
O vídeo mostra que são ao menos 35 segundos com o rapaz desferindo socos na vítima sem parar. Após o ataque, a vítima se levanta com o rosto todo ensanguentado, a porta do elevador se abre e ela sai cambaleando. O agressor ajeita o chinelo no pé e sai na sequência.
Em depoimento à polícia, Igor declarou que sofreu um “surto claustrofóbico”. Ele está preso desde o dia 26. Nesta segunda-feira (4), ele escreveu uma carta na qual pede perdão pelo ocorrido e diz que sua conduta estava “influenciada por um contexto de uso de substâncias e instabilidade emocional”.
“Lamento profundamente que minha conduta, influenciada por um contexto de uso de substâncias e instabilidade emocional, tenha contribuído para essa situação. Embora as circunstâncias ainda estejam sendo apuradas, sinto a necessidade sincera de expressar meu pedido de perdão a todos que, de alguma forma, foram afetados”, afirmou ele.
Igor complementou, ainda, que houve “dor angústia e sofrimento, especialmente para Juliana, sua filha, sua família, bem como para os meus pais e demais entes queridos”, salientando que não tem a intenção de justificar ou minimizar o impacto dos fatos. Disse que espera que “Juliana consiga encontrar força para seguir em frente, com serenidade, coragem e paz”.
“Enfrento o momento atual com humildade e esperança de que, com o tempo, todas as partes envolvidas possam encontrar caminhos de cura, reflexão e recomeço.”
A Polícia Civil informou que foi concluído o inquérito do caso e que ele já foi enviado ao Ministério Público e à Justiça. A pasta indiciou Igor sob suspeita de tentativa de feminicídio e reforçou a necessidade de manutenção da prisão preventiva “diante da gravidade dos fatos, da periculosidade do indiciado e da necessidade de proteção à integridade física e psicológica da vítima”.
Igor foi transferido na última sexta-feira (1º) para a Cadeia Pública Dinorá Simas, no município de Ceará-Mirim. A defesa de Igor havia solicitado uma cela individual por questões de segurança, mas não teve o pleito atendido, porque a cadeia não tem cela individual.
Nessa mesma noite, ele afirmou ter sofrido um ataque por policiais penais, que teriam o colocado em uma cela isolada, algemado e nu, o agredido com murros, chutes, cotoveladas, além de uso de spray de pimenta. Eles teriam dito que ele havia “chegado ao inferno”.
Conforme a Seap (Secretaria da Administração Penitenciária), o caso está sendo investigado pela Polícia Civil e pela Corregedoria do Sistema Prisional.
Juliana relatou à Folha de S.Paulo na última semana que as discussões foram iniciadas por causa de ciúme após Igor ter visto, no celular dela, mensagens em que ela se comunicava com um amigo dele.
Ela também disse que ele já havia apresentado comportamentos agressivos anteriormente. O relacionamento durava dois anos, entre “muitas idas e vindas”.
“Ele não gostou. Jogou meu celular na piscina porque queria mostrar a um amigo que estava conosco. Eu saí de perto para evitar o conflito. Ele foi para o meu bloco, subiu para pegar as coisas dele e eu subi pelo outro elevador para encontrar ele lá. Quando subimos, eu o notei agressivo”, iniciou ela.
Ela conversou com a reportagem por mensagem de texto, pois estava com a dicção comprometida pelas lesões.
“Eu não quis sair do elevador porque achei que ele fosse me agredir e, no corredor, não tem câmeras. Ele queria me convencer a sair de lá. Foi aí que ele disse que eu ia morrer e começou a me bater sem parar”, complementou.