SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Justiça de São Paulo autorizou que o sargento Marcus Augusto Costa Mendes e um cabo da Polícia Militar, envolvidos na morte de um policial civil há cerca de três semanas no Capão Redondo, na zona sul da capital, retornem ao trabalho. A juíza Isabel Rodriguez, da 3ª Vara do Júri do Foro Central Criminal, determinou na última sexta-feira (1º) que eles permaneçam em serviços internos e não se envolvam em atividades operacionais nas ruas.
Eles haviam sido afastados no dia 16 de agosto por determinação da mesma juíza. A decisão, agora revogada, deveria valer por 90 dias.
O sargento Marcus Mendes, que é integrante da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, tropa de elite da PM paulista), atirou quatro vezes contra o policial civil Rafael Moura da Silva, 38, que morreu cinco dias depois.
Imagens da câmera corporal usada pelo sargento mostram que ele estava circulando sozinho a pé pela favela do Fogaréu, até virar um esquina, se deparar com o Rafael e disparar duas vezes. Mesmo após o policial civil ser atingido e gritar “é polícia, é polícia”, foram disparados mais dois tiros. Rafael foi atingido no tórax, e outro agente, de raspão.
Já o cabo Robson Barreto acompanhava o sargento, mas não disparou contra os policiais civis. A juíza havia determinado seu afastamento porque dias antes ele havia se envolvido em uma ocorrência semelhante, com o mesmo sargento, que resultou na morte de um civil. A magistrada havia entendido que as duas ocorrências indicavam um “padrão de conduta temerária que pode colocar em risco a segurança da população”.
O retorno ao trabalho atendeu a pedido da defesa dos PMs. A Justiça deve decidir se eles ficarão em trabalho interno por 90 dias ou até o término das investigações.
Rafael era agente de telecomunicações policial e atuava na Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas (Cerco). No dia em que foi alvejado, 11 de julho, ele estava na favela do Fogaréu, no Capão Redondo, zona sul de São Paulo, local em que equipes da Polícia Militar também estavam.
Silva e os outros policiais civis foram à favela verificar um suspeito de tentativa de latrocínio. Membros da Rota, que entraram por outro acesso, faziam patrulhamento na comunidade.
A Folha de S.Paulo mostrou que os policiais da Rota dirigiram por 20 km com Rafael baleado até o Hospital das Clínicas, na zona oeste de São Paulo.
O caso aconteceu por volta das 17h40 de uma sexta-feira, ou seja, durante o horário de pico em São Paulo. Enquanto Silva seguia para o Hospital das Clínicas, seu companheiro de trabalho Marcos Santos de Souza, 41, atingido de raspão na cintura na mesma ação, foi levado para o Hospital Municipal do Campo Limpo, a cerca de 3 km da rua onde aconteceram os disparos.
Na ocasião, a reportagem procurou a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) para perguntar por que o policial não foi levado para um hospital mais próximo e se os PMs acionaram o Samu, o Corpo de Bombeiros ou o helicóptero Águia para fazer o resgate, como é praxe nesses casos.
A SSP (Secretaria da Segurança Pública) de São Paulo não respondeu e disse que o caso é investigado por meio de inquéritos da Polícia Militar e da Polícia Civil pelo 37º Distrito Policial (Campo Belo).
Segundo a defesa dos policiais, foi acionado o sistema Cross (Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde), que teria indicado a unidade com o tipo de especialista para a demanda. Além disso também teria sido solicitado apoio de viaturas da área para facilitar o trânsito, com a conclusão do trajeto, dizem os defensores, em 20 minutos.
Ainda de acordo com a defesa, Rafael estaria sem identificação e sem colete balístico no momento do encontro. “Embora o resultado seja triste, a tomada de decisão em atirar foi legítima, tanto que os policiais não foram presos em flagrante delito.”
As imagens da câmera corporal não permitem dizer se Rafael usava distintivo no momento em que foi alvejado. Outro vídeo mostra que os policiais civis usavam viaturas caracterizadas.