SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O CEO da Frooty, marca brasileira com mais de 40% de participação no mercado de açaí -e que exporta entre 150 e 200 contêineres de polpa e creme de açaí por ano para os Estados Unidos-, afirmou à Folha de S.Paulo que as tarifas de 50% impostas pelo presidente norte-americano Donald Trump podem afetar o consumo no exterior.
“É difícil estimar o tamanho da queda, pois depende de quanto será repassado na ponta, mas as vendas nos Estados Unidos podem cair pelo menos 20%”, disse o empresário Fabio Carvalho.
Segundo ele, as tarifas vão gerar um aumento generalizado nos preços de açaí para os consumidores americanos. “Nesse cenário, naturalmente, o consumo cai, pois existem substitutos indiretos à disposição dos consumidores locais como, por exemplo, sorvetes de outras frutas”, comenta.
Ele diz que a sobretaxa impactou igualmente a polpa de açaí (matéria prima) e o creme de açaí (produto acabado), que não estavam na lista de quase 700 exceções feitas por Trump.
“Na prática, continua muito similar produzir o creme no Brasil ou nos Estados Unidos. De qualquer forma, com ou sem tarifa não vamos renunciar à qualidade e composição dos produtos Frooty”, reforça.
Fabio Carvalho acredita que o impacto das tarifas é enorme para o setor. “Estima-se que o mercado americano de creme de açaí é praticamente do mesmo tamanho que o do Brasil. O aumento da tarifa tem potencial de gerar desemprego principalmente no Norte do país, onde muitas famílias dependem da colheita do fruto para sobreviver”, afirma.
A Frooty tem três unidades fabris no Brasil, sendo uma no Manacapuru (AM), uma em Mocajuba (PA) e outra em Poços de Caldas (MG). Seus produtos são exportados para mais de 20 países, incluindo os Estados Unidos, onde adquiriu há poucos anos a marca Makai, uma das maiores do segmento no mercado norte-americano.
“Espero que o governo americano reveja a decisão, pois ela não vai gerar empregos nos Estados Unidos, apenas desemprego no Brasil. Na prática, não faz sentido taxar um produto saudável que em nada altera a balança comercial entre os países”, comenta Fabio.
EXPORTAÇÃO DE AÇAÍ BRASILEIRO ESTAVA NO PICO
Os Estados Unidos são o maior comprador global do açaí brasileiro; cerca de 60% do açaí que sai do Brasil vai parar em solo norte-americano, de acordo com análise da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), com base em dados da Comex.
A entidade afirma que o mercado estadunidense, além de ser grande em consumo, compra quantidade considerável de matéria-prima para processamento, e também exporta produtos à base de açaí para outros países.
O órgão público acredita que, além do aumento do preço aos consumidores, a sobretaxa pode causar a derrocada de uma vertente industrial bastante promissora nos Estados Unidos: as indústrias de beneficiamento norte-americanas, que processam o açaí tanto para mercado interno como para fora.
Nos últimos dez anos, a exportação do produto paraense cresceu mais de 12.000%, ainda segundo a Conab. Passou de 259 toneladas exportadas em 2013 para o recorde de 32 mil toneladas em 2023.
Em 2017, a exportação ultrapassou, pela primeira vez, a casa das 2.000 toneladas. Já em 2019, foram 3.500. Houve um novo salto em 2020: no período de um ano, o crescimento foi de 37%.
Em 2022, a produção exportada de açaí foi de 7.303 toneladas, 9,6% maior que a de 2021; já em 2023 houve o maior salto dentro da série histórica de exportação de açaí, com um volume de 32 mil toneladas e um aumento de mais de 300%.
Depois dos Estados Unidos, segundo a Conab, os principais compradores do açaí brasileiro são União Europeia, Japão, Austrália e Ásia. No Brasil, os maiores exportadores de açaí incluem São Paulo, Pará, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
As frutas não escaparam do tarifaço de Trump. Os Estados Unidos absorveram cerca de 77 mil toneladas, ou US$ 148,3 milhões, de frutas brasileiras no ano passado. A quantidade equivale a 7% do total exportado pelo setor em volume e 12% do faturamento.
Manga, uva e frutas processadas –como o açaí– compõem 90% do total de frutas exportadas ao país norte-americano, segundo a Abrafrutas (Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados).
A entidade afirma que seguirá acompanhado as negociações entre os governos dos dois países com a expectativa de um acordo que mantenha o mercado americano atrativo para as frutas brasileiras.
“A associação também continua apoiando os seus associados na interlocução com os importadores americanos e com o governo brasileiro na busca de medidas que possam mitigar prejuízos”, diz.