SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A obra de construção de um piscinão de combate às enchentes na área do Centro Esportivo Arthur Fridenreich, na Vila Alpina, zona leste da capital paulista, tem sido motivo de preocupação dos moradores. Eles não contestam a necessidade de soluções para o problema dos alagamentos na avenida Professor Luiz Ignácio Anhaia Mello, mas criticam a solução dada: um piscinão construído onde era uma área verde, com chão de terra.
Iniciado em novembro do ano passado, o piscinão tem um custo inicial total de R$ 166,6 milhões e a conclusão da obra está prevista para agosto de 2026. Segundo a prefeitura, o equipamento tem 13 mil m2 de extensão, com 15 metros de profundidade e capacidade para o armazenamento de até 134,5 milhões de litros de água, o equivalente a 54 piscinas olímpicas.
Na época, a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) informou que a infraestrutura atual do parque será reconstituída, sem prejuízo para o funcionamento do centro esportivo, que conta com campos de futebol, pista de corrida e áreas de lazer. A prefeitura estima que 500 mil pessoas serão beneficiadas pelo novo piscinão.
Em nota, afirma que a escolha do local para o piscinão reduz “os impactos sociais e financeiros, já que se trata de uma área pública, ou seja, sem necessidade de desapropriações”. “O projeto do novo piscinão possui Termo de Compromisso Ambiental (TCA) e respeita toda a legislação vigente. Para preservar ao máximo a área verde local, um plano específico foi elaborado e resultou na redução de 65% da supressão de árvores (de 295 para 102), aumento de 547% do número de exemplares preservados (de 23 para 126) e o transplante de 80 árvores, inicialmente não previsto”, afirma.
Um grupo de moradores se uniu nos últimos meses para cobrar explicações e promessas da prefeitura. Um dos integrantes do grupo, o professor de yoga Fernando Salvio, 42, diz que a construção já removeu pelo menos 400 árvores, algumas delas de grande porte. “Lá existia até uma seringueira e muitas dessas árvores foram cortadas”, afirma. Ele teme que árvores de maior porte não sejam replantadas ou não sejam substituídas por outras igualmente grandes.
“A arborização dessa região é longe da ideal e aqui temos um corredor verde, que atrai diferentes aves, como tucanos, gaviões e falcões, além de ser frequentada por mamíferos silvestres, como os saruês, além de outros bichos”, afirma.
Para a prefeitura, “os moradores do entorno do reservatório já contam com uma área de preservação ambiental de 57.752 m² onde está o parque ecológico Profª Lydia Natalizio Diogo, que será mantido e oferece, além de espaço verde, lazer para a população”. Destaca ainda que, na região da Subprefeitura Vila Prudente, há ainda o bosque Figueiras e a área verde Tokuchica Mika, além de 145 praças, 196 áreas arborizadas, 9 jardins de chuva e 8 km de canteiro central na Anhaia Mello. “É importante destacar que, após a conclusão das obras do reservatório, toda a infraestrutura de esporte e lazer do Centro Esportivo Arthur Friedenreich será devolvida à população”, completa.
Salvio lembra que outros piscinões já foram construídos com a promessa de resolver os problemas do bairro, onde mora desde que nasceu. “A gente vê que existem hoje métodos mais modernos de resolver o problema das enchentes, como jardins de chuva, parques lineares e parques alagáveis”, argumenta.
Segundo a prefeitura, “diante da grande proporção dos alagamentos, o reservatório foi a alternativa mais eficaz, uma vez que soluções como parques alagáveis ou jardins de chuva não seriam suficientes para resolver as cheias de forma adequada”.
A permeabilidade do solo é um dos problemas apontados por ele, que cita que o córrego Suzano já passa pela área onde o piscinão será construído. O córrego Mooca, que teve um trecho canalizado para a construção da avenida, na década de 1970, para a construção da avenida. Desde então, as enchentes de repetem. “A gente tem um vale, que recebe a chuva das áreas altas dos bairros no entorno e não tem capacidade de vazão”, afirma.
Um exemplo citado por ele é o piscinão Guaramiranga, com capacidade de 850 mil m3, entre o rio Tamanduateí e o córrego Mooca. Inaugurada em 2017, quando o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB, então no PSDB) era governador, e João Doria (na época no PSDB, hoje sem partido), o prefeito de São Paulo, a obra foi construída pelo governo estadual e passou a ser gerida pela prefeitura. No mesmo mês em que o piscinão foi inaugurado, a região foi atingida por uma enchente de grandes proporções.