NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) – O governo Lula (PT) deve lançar, ainda neste ano, uma nova fase do programa Conhecimento Brasil, desta vez com o intuito de atrair cientistas no exterior, inclusive estrangeiros, para desenvolver pesquisa científica no Brasil. A nova etapa foi adiantada à Folha de S.Paulo por Ricardo Galvão, presidente do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

Ao mesmo tempo, uma parte do programa também será destinada a doutores que fizeram toda a sua formação no Brasil -o foco da primeira fase do Conhecimento Brasil em cientistas brasileiros no exterior tinha sido motivo de críticas.

“Nós estamos tendo uma demanda muito grande, principalmente pesquisadores dos Estados Unidos. Então, nós vamos abrir uma possibilidade. Mas aí não vai ser para jovens, [vai ser] para pesquisadores alto nível mesmo que queiram vir para o Brasil”, afirma o presidente do CNPq, conselho vinculado ao MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação).

Assim como ocorreu na primeira parte do Conhecimento Brasil, os pesquisadores interessados deverão se vincular a universidades e instituições de pesquisa brasileiras. “Em princípio, eles já devem vir para uma estrutura estabelecida. É claro que vai ter mais aporte e recurso, mas não é para ele vir fazer o que quiser. Vai ter que ser a partir de interesses de instituições brasileiras”, diz Galvão.

O presidente do CNPq afirma que tem recebido contatos de pesquisadores especialmente da área de física. “Eles não estão me contatando como presidente CNPq, mas como colega”, diz, referindo-se ao histórico de pesquisa que têm na área -chegou a dirigir o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

A menção aos EUA feita por Galvão diz respeito à situação recente da pesquisa americana, sob o governo Donald Trump, no qual cortes profundos estão sendo realizados, com demissões em agências e paralisação de projetos. Vizinhos mais próximos também são levados em consideração, como a Argentina, que, segundo o físico, vive uma situação difícil de ciência e tecnologia.

Galvão reforça que a ideia será trazer pesquisadores com maiores distinções.

Tanto para o caso de pesquisadores de fora quanto para a fatia do programa relacionada a cientistas que fizeram toda a formação dentro do Brasil serão definidas áreas de pesquisa específicas. O presidente do CNPq não apontou diretamente quais áreas devem ser beneficiadas e afirmou que essa decisão ainda não foi tomada.

Apesar disso, citou áreas do conhecimento nas quais o país estaria precisando de mais investimento, como inteligência artificial, engenharia, tecnologia da informação, medicina e mudança climática. “Em um programa especial, você tem que definir prioridades”, diz Galvão.

Ainda não há uma data precisa para lançamento dessa nova fase do Conhecimento Brasil, mas Galvão afirma que o edital deve ser lançado ainda neste ano, com previsão de início para 2026.

Críticas ao Conhecimento Brasil

Assim que foi lançado, o programa Conhecimento Brasil recebeu críticas de pesquisadores. O cerne delas era, em geral, o fato da tentativa de atração de cientistas brasileiros que estão fora, enquanto, ao mesmo tempo, as condições e os problemas para quem faz pesquisa científica no Brasil permanecem os mesmos.

Apesar disso, a ideia do programa também era vista com bons olhos.

Como mencionado anteriormente, o novo programa terá um braço destinado a quem fez toda a formação no Brasil. Questionado se isso está relacionado às críticas ao Conhecimento Brasil, Galvão afirma que a ideia já estava pronta no momento em que o programa foi lançado.

Ao mesmo tempo, Galvão já enxerga possíveis críticas à nova fase do programa, por causa da restrição a algumas áreas de pesquisa.

“Já estava completamente desenhado. Só não lançamos porque, como começaram as críticas… e, sendo bem honesto, nós não sabíamos qual seria o êxito de trazer para cá. Então, não queríamos lançar duas coisas que, ao mesmo tempo, poderiam dar problema. Mas já estava desenhado e, como tem questão de recursos, nós falamos ‘vamos primeiro concentrar nisso’ e não quisemos fazer nenhuma proposta e não tínhamos todos os dados ainda”, diz Galvão. “Se nós falássemos em áreas, naquele momento eram mais críticas ainda.”

O presidente do CNPq também afirma que para os pesquisadores que estão no Brasil já existem programas de bolsa e pós-doutoramento. “Só que os valores não são altos”, diz.

No novo programa os valores serão bem mais altos, afirma Galvão.

Mais uma vez, os recursos serão proveniente do FNDCT (Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).