SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Lula abaixa o tom com Donald Trump mas não muito. O sonho (ou pesadelo) do pleno emprego, a China quer tomar café brasileiro e o leilão pelos cérebros na IA e outras notícias do mercado nesta segunda-feira (4).
MUITA CALMA NESSA HORA
Há momentos na vida em que você percebe que incendiou demais uma situação e ela está prestes a sair do controle. Seja uma briga de trânsito, discussão conjugal ou comandando um país, todos estão sujeitos a ter que pisar no freio.
O presidente Lula sentiu a pressão. Ontem, ele disse que há limites na negociação com os Estados Unidos para a suspensão da sobretaxa de 50% imposta às exportações de produtos brasileiros para o país comandado por Donald Trump.
Não posso falar tudo que eu acho que eu devo falar, tenho que falar o que é possível, porque eu acho que nós temos que falar aquilo que é necessário”, afirmou o brasileiro;
Não queremos confusão… segundo Lula. Ele voltou a dizer que está tranquilo em relação à economia, mas reconheceu que existe um problema diplomático com os americanos.
Na última sexta-feira (1º), Trump disse que o presidente brasileiro pode ligar quando quiser.
Setores do governo apontam risco de o presidente ser desrespeitado pelo americano, mas não descartam a conversa.
🎹 Ficou pianinho? Não exatamente. O chefe do Planalto abaixou o tom contra os EUA, mas não parou de alfinetá-los.
Ele extrapolou os limites, porque ele quer acabar com o multilateralismo, disse sobre Trump.
🇺🇲 Do lado de lá os consumidores americanos começam a sentir os efeitos do tarifaço. As empresas iniciaram o movimento de repassar para as prateleiras os custos adicionais que a guerra comercial acrescentou aos produtos.
↳ Em um primeiro momento, a maioria escolheu absorver o aumento dos encargos. Agora, segundo especialistas ouvidos pelo jornal The New York Times, começam a ficar sem opções.
Dados do governo mostram que os preços subiram em junho em itens fortemente expostos a tarifas, como móveis para casa, brinquedos e eletrodomésticos.
Não temos interesse em operar negócios com margens de lucro mais baixas, disse Richard Westenberger, diretor financeiro da Carter’s, fabricante de roupas infantis americana, em uma conferência com analistas.
O QUE É PLENITUDE?
Você sabe o que é pleno emprego? No debate macroeconômico, analistas costumam usar o termo para descrever momentos nos quais pessoas dispostas e aptas ao trabalho encontram espaço no mercado.
Há quem diga que o Brasil vive este momento, outros discordam. Vamos aos números.
Como assim? O mercado de trabalho acumula recordes na série histórica do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
No segundo trimestre, a desocupação caiu a 5,8% no Brasil, de acordo com o órgão.
Foi a primeira vez que o indicador ficou abaixo de 6% na série histórica da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), iniciada em 2012.
O chamado nível da ocupação, que mostra o percentual de pessoas de 14 anos ou mais que estão trabalhando, alcançou 58,8%, recorde da série.
↳ Outras máximas foram o total de trabalhadores ocupados (102,3 milhões), a renda média mensal (R$ 3.477), o número de empregados com carteira assinada no setor privado (39 milhões) e o contingente de profissionais por conta própria (25,8 milhões).
Sim, mas o IBGE resiste a definir o momento como um de pleno emprego. Isso porque existem diferentes definições para o termo, a depender de quem o utiliza.
Para o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale, é possível falar em pleno emprego no Brasil.
Segundo ele, a taxa de desocupação vem abaixo da chamada taxa Nairu, que estima qual seria o nível natural de desemprego de determinado local que não acelera a inflação.
🔪 Dois gumes. Como sempre, há pelo menos dois jeitos de observar o fenômeno. Por um lado, é bom que o mercado esteja aquecido e que a maioria das pessoas que deseja trabalhar esteja empregada.
Contudo, há um risco significativo do movimento do mercado de trabalho contribuir para a aceleração da inflação. Para Vale, já é possível enxergar consequências do tipo na métrica de serviços.
Os preços dos serviços acumularam alta de 6,18% nos 12 meses até junho no IPCA, ao passo que o índice geral de inflação foi de 5,35%, segundo o IBGE.
FOI NAMORAR, PERDEU O LUGAR
Quando você ouviu esse ditado pela primeira vez na infância, não imaginou que ele um dia serviria para explicar o comércio global, não? Pois é, o mundo dá voltas.
Os Estados Unidos deram mole, e como achado não é roubado, a China não demorou para ocupar o espaço do país norte-americano no fluxo global do café.
No dia seguinte àquele previsto para o início da sobretaxa de 50% contra exportações brasileiras para os EUA, o país asiático habilitou 183 exportadores brasileiros de café.
↳ Vale lembrar que o café não figura na lista de quase 700 itens isentos das tarifas americanas clique para lê-la na íntegra.
↳ No caso brasileiro, a efetividade dos encargos foi adiada para o dia 7 de agosto.
🤝 Laços fortalecidos. O Brasil enviou apenas 538 mil sacas para a China nos primeiros seis meses deste ano, segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Mas acordos feitos com a rede de lojas de café Luckin apontam crescimento.
Em junho do ano passado, em Pequim, a rede combinou com a ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Atração de Investimentos) que compraria 120 mil toneladas de café do país até 2029. Em novembro, em Brasília, as duas partes ampliaram o acordo para 240 mil toneladas.
👄 Caiu no gosto. O público chinês não era grande entusiasta do café o chá sempre foi campeão de popularidade no país. Recentemente, a bebida amarga vem ganhando mais espaço no cotidiano por lá.
Redes como a Luckin que ultrapassou a americana Starbucks na China crescem.
Houve aumento do consumo per capita de café no país, saindo de 16,7 xícaras por ano em 2023 para 22,22 em 2024. A expectativa para este ano é fechar em cerca de 30.
↳ É muito pouco perto do Brasil: aqui tomamos seis vezes mais café do que o resto do mundo, segundo levantamento da Abic (Associação Brasileira das Indústrias de Café).
Recado dado. A China se colocou à disposição para trabalhar com o Brasil para defender o sistema multilateral de comércio centrado na OMC [Organização Mundial do Comércio].
LEILÃO DE CÉREBROS
uem pegou o hype da inteligência artificial, pegou. Os profissionais especializados no tema são disputados a tapas no Vale do Silício.
Caso emblemático. Nos últimos dias, Matt Deitke serviu de exemplo para todos os pais e professores que querem convencer adolescentes que gostam de tecnologia a se especializar em IA, sob a promessa de construir carreiras meteóricas com salários astronômicos.
O pesquisador de 24 anos é co-fundador da Vercept, uma startup de softwares para inteligência artificial.
Ele foi contratado pela Meta, comandada por Mark Zuckerberg, sob a promessa de ganhar US$ 250 milhões (R$ 1,39 bilhão) ao longo de quatro anos, com um pagamento de até US$ 100 milhões no primeiro ano.
Mirando na Lua. Ele foi contratado para reforçar o recém-fundado grupo de pesquisa da Meta dedicado à “superinteligência”, uma tecnologia que poderia superar o cérebro humano.
Zuckerberg disse que a Meta planeja continuar investindo em talentos de IA “porque temos convicção de que a superinteligência vai melhorar todos os aspectos do que fazemos”.
Viral. A competição entre as big techs por talentos ganhou tração nas redes sociais, que a comparam com a disputa de times esportivos por jogadores no mercado ofertas de salário astronômicas, janelas pequenas para a contratação e um certo estrelismo dos profissionais estão entre os paralelos das duas indústrias.
A influência que os pesquisadores de IA têm na negociação de termos de trabalho só aumentou desde que a OpenAI lançou o ChatGPT em 2022, desencadeando uma corrida pela liderança na tecnologia.
↳ A escassez ajuda: pouca gente tem o conhecimento técnico e a experiência para trabalhar em sistemas avançados de inteligência artificial. Isso porque a IA é construída de maneira diferente do software tradicional.
O resultado tem sido uma nova guerra por talentos, com a remuneração saltando de milhões para centenas de milhões de dólares por ano.