RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Florianópolis acumulou inflação de 6,98% no período de 12 meses até junho, segundo um índice local de preços, o ICV (Índice de Custo de Vida). Houve pressão de aumentos em áreas como alimentação e transportes.
A alta em Florianópolis chama a atenção porque supera as taxas registradas em igual período nas 16 capitais e regiões metropolitanas que compõem o cálculo do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). A cidade catarinense não integra a lista.
Dentro do IPCA, Belo Horizonte (5,7%) e São Paulo (5,69%) mostraram os maiores acumulados até junho. A menor variação ocorreu em Aracaju (4,42%).
O IPCA é o índice oficial de inflação do Brasil, embora a coleta dos preços não seja realizada em todas as capitais pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O ICV de Florianópolis, por sua vez, é divulgado pela Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina), por meio do Esag (Centro de Ciências da Administração e Socioeconômicas). O trabalho tem apoio da Fesag (Fundação de Estudos Superiores de Administração e Gerência).
Os responsáveis pelo ICV comparam o índice com o IPCA das outras capitais porque, segundo eles, os dois indicadores seguem a mesma metodologia de cálculo.
No acumulado de 12 meses, Florianópolis vem mostrando uma inflação maior do que as metrópoles pesquisadas pelo IBGE desde janeiro de 2025.
A situação reflete uma combinação de fatores, segundo a economista Bruna Soto, da Fesag, que atua na elaboração do ICV.
Na capital catarinense, o grupo alimentação e bebidas acumulou inflação de 9,7% nos 12 meses até junho. É uma taxa maior do que a registrada por esse segmento na média do Brasil no IPCA (6,66%).
Outra pressão veio do grupo de transportes, que mostrou alta de 10,8% em igual período em Florianópolis. A variação dos preços também superou a média do país no IPCA (5,11%).
O grupo de transportes teve influências na capital catarinense de componentes como gasolina e transporte público, que subiram 16,34% e 11,4%. No Brasil, os avanços foram menores (6,6% e 6,5%).
Municípios de Santa Catarina, incluindo a capital, têm se destacado como polos de atração de migrantes nos últimos anos.
Uma das possíveis explicações é o desempenho do mercado de trabalho -o estado tem a menor taxa de desemprego do Brasil.
A Folha mostrou que Santa Catarina tende a chegar a 2070 com um acréscimo de quase 2,3 milhões de habitantes, conforme projeções do IBGE. Uma das queixas de quem vive em áreas valorizadas é justamente o aumento no custo de vida com a demanda maior por moradia.
O crescimento populacional, aliado a um desempenho aquecido do setor de turismo, pode ter ajudado a pressionar a inflação em Florianópolis, de acordo com Soto.
“Florianópolis é [em parte] uma ilha. Então, geograficamente, é mais limitada do que uma cidade do continente. Foram atraídas muitas pessoas da área de tecnologia, e isso acaba gerando uma pressão na parte de aluguel, de mercado imobiliário”, diz a economista.
Os preços do grupo habitação acumularam alta de 7,68% na capital catarinense nos 12 meses até junho, conforme o ICV. O avanço foi maior do que a média desse segmento no IPCA do Brasil (5,3%).
“Com o turismo, também há uma pressão na habitação. O pessoal vai tentando investir, compra imóveis, e o preço fica mais alto”, acrescenta Soto.
Segundo a Udesc, o ICV é divulgado desde 1968. O índice investiga o comportamento dos preços de 297 bens e serviços consumidos por famílias com renda de 1 a 40 salários mínimos em Florianópolis. É o mesmo público-alvo do IBGE no IPCA.
Em termos gerais, o índice oficial acumulou inflação de 5,35% no país no acumulado de 12 meses até junho. Trata-se de uma variação inferior à do ICV de Florianópolis (6,98%).
Em junho, a cesta básica de alimentos custou R$ 867,83, em média, na capital catarinense, conforme o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).
Apenas São Paulo teve um valor mais alto (R$ 882,76) na pesquisa. O Dieese levanta as informações sobre a cesta básica em 17 capitais.