SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Aliados de Jair Bolsonaro (PL) comemoraram os atos de domingo (3) convocados contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal) e em defesa do ex-presidente, em que viram militância ativa.

Havia temor de que as manifestações, que ocorreram por todo o país, pudessem estar esvaziadas, seguindo a tônica das anteriores, e talvez pior, por causa do recente tarifaço de Donald Trump a produtos brasileiros.

Mas a avaliação é de que o comparecimento foi melhor do que esperado —e o presidente americano, inclusive, foi exaltado por apoiadores nos atos.

Isso ocorre, na avaliação desses aliados, ao momento de fragilidade pelo qual Moraes está passando. De acordo com eles, antes havia um temor maior de ir a atos para criticar o magistrado.

Agora, o bolsonarismo se sente mais empoderado após as sanções financeiras impostas ao ministro por Trump por meio da Lei Magnitsky. Este foi um dos principais motivadores para a militância ir para a rua, segundo interlocutores do ex-presidente.

Moraes foi o principal alvo dos atos. O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) disse, na avenida Paulista, que estão lutando para que, um dia, o magistrado “esteja atrás das grades”.

No Rio de Janeiro, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) chegou a chamar Moraes de “vagabundo”.

“[Bolsonaro é] Um homem honesto, um homem honrado, um homem patriota e um homem invejado por esse vagabundo do Alexandre de Moraes”, disse no carro de som, pouco antes de fazer uma ligação com seu pai ao vivo.

No telefonema, Bolsonaro se limitou a dizer: “Obrigado a todos. É pela nossa liberdade, nosso futuro, nosso Brasil. Sempre estaremos juntos”. O áudio foi transmitido para o público pelo microfone.

A ausência de Bolsonaro na manifestação se deve às medidas cautelares impostas a ele por Moraes. O magistrado apontou risco de fuga, em meio à atuação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) junto a autoridades dos Estados Unidos.

O ex-presidente acompanhou de sua casa, em Brasília, as manifestações por telefone, com alguns poucos auxiliares.

Interlocutores do ex-presidente temiam ainda que sua ausência pudesse levar a um desfalque ainda maior nos atos, como mostrou a Folha de S.Paulo. Mas, para eles, a avaliação é de que as medidas cautelares fortaleceram o discurso de injustiçado entre seus apoiadores, que se viram motivados a participar dos atos.

Por outro lado, se em atos anteriores ficou demonstrada uma espécie de frente ampla da direita, com participação de políticos do centrão e governadores de direita, nesta ocorreu o contrário. Estiveram nos carros de som apenas parlamentares do PL e do Novo.

Nenhum dos governadores de direita tidos como presidenciáveis compareceu, mesmo que em suas capitais houvesse manifestações. O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, marcou um procedimento de saúde para o domingo.

Já Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, disse em evento do jornal O Globo que já tinha reunião marcada, e que discorda com o momento da manifestação. Seu argumento é de que é preciso negociar para evitar ou reduzir o tarifaço de Trump.

As ausências foram cobradas pelo pastor Silas Malafaia, aliado do ex-presidente, que organizou o ato em São Paulo.

Sem citar nomes, ele questionou a ausência de políticos cotados para substituir Bolsonaro na eleição de 2026 e afirmou que eles não estiveram presentes por “medo” do STF.

“Cadê aqueles que dizem ser a opção no lugar de Bolsonaro? Era para estarem aqui, minha gente. Sabe o que fica provado? Que até aqui Bolsonaro é insubstituível”, disse Malafaia.

O pastor também afirmou que presidenciáveis teriam “arrumado desculpas” para não comparecer. “Vão enganar trouxa. Eu não sou trouxa. Estão com medo do STF? Por isso não chegaram até aqui? Arrumaram desculpa. Por isso, minha gente, que 2026 é Bolsonaro”, completou

No palco, ao lado de Malafaia, estavam Nikolas, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), o vice-prefeito Coronel Mello Araújo (PL), o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, o deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL), a vereadora Zoé Martinez (PL) e o deputado estadual Lucas Bove (PL).

Sóstenes cobrou os partidos de centrão e centro-direita, que, apesar de criticarem o governo Lula (PT), também fazem parte dele. Inclusive, cujos dirigentes estiveram presentes em atos passados de bolsonaristas.

“PP, União Brasil, PSD, Podemos. Sei que nesses partidos têm muitos patriotas. Está na hora de largar a canoa furada do desgoverno e vir para a oposição de vez. A esses partidos, eu digo, não adianta largar em março do ano que vem, é agora, em agosto”, disse.

Entre integrantes do governo federal, as manifestações passaram despercebidas —alguns ministros de Lula sequer lembravam dos atos marcados para esse domingo.

À Folha de S.Paulo, o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), lembrou do tarifaço e disse que a principal batalha política será de resgatar “a defesa do Brasil”.

“Vergonha defenderem Trump num momento como esse, de ataque ao povo brasileiro, às empresas brasileiras. O Lula de manhã falou abertamente em resgatar a bandeira do Brasil, esse é o centro da nossa disputa política. A defesa do Brasil contra os traidores da pátria”, disse.