RIO DE JANEIRO, RJ, CURITIBA, PR, BELÉM, PA E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Bolsonaristas realizam atos espalhados pelo país neste domingo (3) contra o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes e o presidente Lula (PT).

Manifestações foram programadas em ao menos 20 capitais em todas as regiões do Brasil. Cidades do interior também têm atos, marcados por exaltações ao presidente dos EUA, Donald Trump. O principal protesto, em São Paulo, ocorreu à tarde.

Inelegível e réu no STF acusado de participar de uma tentativa de golpe após perder as eleições de 2022, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não pôde participar porque, desde o último dia 18, tem que cumprir medidas restritivas impostas por Moraes, como usar tornozeleira eletrônica e não sair de sua casa, em Brasília, aos fins de semana.

Ele acompanhou as manifestações de casa e afirmou em mensagem divulgada em lista de transmissão: “obrigado a todos”, “pela nossa liberdade”. Um vídeo mostra o ex-presidente vendo pelo celular o ato em Belém, onde a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) participou.

“Uma diplomacia nanica, provocando os Estados Unidos, desrespeitando a autoridade do presidente Trump, dizendo que ele é um nazista, fascista e queira ser o dono do mundo. As consequências chegam. Irresponsável, mentiroso”, disse Michelle durante discurso em que atacou Lula e o STF.

Parlamentares do PL no Pará foram os primeiros a discursar, com falas contra Moraes, Lula e o governador do estado, Helder Barbalho (MDB).

Impulsionados por parlamentares bolsonaristas nas redes sob o slogan “Reaja, Brasil”, os atos espalhados pelo país foram precedidos de temor de esvaziamento, já que Bolsonaro estaria ausente, assim como Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo, por exemplo. O temor, no entanto, não se concretizou e houve público expressivo, principalmente na capital paulista.

Os atos acontecem quatro dias depois de Donald Trump impor sanções financeiras a Moraes, com base na Lei Magnitsky, e decretar o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros. As medidas são ligadas à pressão pela interrupção da ação penal do STF que julga Bolsonaro por tentativa de golpe e são incentivadas, sobretudo, pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

O governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro (PL), participou do ato em Copacabana, que ocupou dois quarteirões da orla da avenida Atlântica. Castro defendeu Bolsonaro, que está inelegível, como “única opção” para a eleição de 2026.

O deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) puxou gritos de “Magnitsky” e pediu anistia aos presos nos ataques golpistas de 8 de Janeiro.

A Polícia Militar voltou a não fazer estimativa de público, como é usual. Em ato bolsonarista em março, a corporação divulgou um número, mas não explicou o cálculo.

No Rio, parlamentares evitaram menção direta ao tarifaço imposto pelo governo americano ao Brasil, mas o público levou bandeiras dos Estados Unidos e cartazes em agradecimento a Trump.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) chamou Moraes de “vagabundo” e divulgou mensagem de voz do pai saudando o público.

O vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PL) resolveu participar de atos organizados em Santa Catarina. Pela manhã, ele apareceu na manifestação em Criciúma, no sul do estado. Depois, à tarde, seguiu para a capital Florianópolis.

Aliados citam a possibilidade de o vereador sair candidato ao Senado pelo estado catarinense, em 2026.

O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) também colocou uma mensagem de Bolsonaro no celular durante ato em Belo Horizonte. Bolsonaristas se reuniram na praça da Liberdade e discursaram no tom de que o STF é inimigo. Uma faixa estendida no carro de som dizia, em inglês, “Leave Bolsonaro alone” (Deixe Bolsonaro em paz).

Em Brasília, os manifestantes se reuniram próximos à sede do Banco Central, com um carro de som. Como sempre, carregaram adereços verdes e amarelos e a bandeira do Brasil. Também houve bandeiras dos Estados Unidos e de Israel.

Alguns trouxeram faixas contra Moraes, outros contra Lula. Uma série de bolsonaristas trouxeram a frase “Thank you Trump” (obrigado Trump, em inglês), em apoio às atitudes do presidente dos EUA.

Houve ainda diversas manifestações de apoio a Bolsonaro e outros aliados que foram alvo do STF, como Daniel Silveira. Também pediam a anistia, a revogação do IOF, além de fazerem menções positivas à Lei Magnisky. Os bolsonaristas também incentivavam os carros que passavam para buzinar, em apoio ao ato.

Os discursos contaram apenas com personagens do segundo escalão do bolsonarismo, como a deputada federal Bia Kicis (PL-DF) ou o senador Izalci Lucas (PL-DF) —que até 2024 estava no PSDB.

Diante de forte sol no Eixão, principal via da capital federal, os manifestantes também buscaram sombras para se proteger do calor —o ato não chegou a ocupar o equivalente a uma superquadra da avenida.

Procurada, a Polícia Militar do Distrito Federal disse que não divulga estimativas de público para este tipo de evento —o número de pessoas presentes em atos da direita e da esquerda virou motivo de tensão nas últimas manifestações, com diversos cálculos sendo criticados por opositores.

Em Salvador o ato começou às 9h, no Farol da Barra. Deputados também discursam contra o STF, Lula e o governador baiano Jerônimo Rodrigues (PT).

Em Curitiba, o ato pró-Bolsonaro ocupou quase duas quadras do calçadão da Rua XV de Novembro, no centro da cidade. Na estimativa da Polícia Militar, cerca de 7 mil pessoas foram ao local. Manifestantes levaram bandeiras do Brasil e dos Estados Unidos e cartazes com pedidos de “fora Moraes” e “fora Lula”.

O ato começou depois das 14h, com a oração de um pastor e o hino nacional, e terminou pouco antes das 17h. Políticos se revezaram nos discursos em cima de um caminhão de som, com frases como “Supremo é o povo e soberano só o senhor Jesus”, “parabéns presidente Trump” e “Lula ladrão”.

Entre as lideranças presentes estavam o deputado Filipe Barros e o vice-prefeito de Curitiba, Paulo Martins, que recentemente saiu do PL e migrou para o partido Novo. “Lamento não haver senadores aqui hoje. Se o Senado estivesse cumprindo seu papel nada disso estaria acontecendo”, disse Martins, que perdeu o pleito de 2022 para o senador Sergio Moro (União Brasil), ex-ministro de Bolsonaro.

Nas ruas, além do pedido de impeachment de Moraes, os manifestantes também defenderam “anistia já” aos presos envolvidos nos atos golpistas de 8 de Janeiro.

Nas demais capitais da região sul – Florianópolis e Porto Alegre – também houve atos durante a tarde. O governador catarinense, Jorginho Mello (PL), participou da manifestação.

As mobilizações em diferentes cidades, segundo bolsonaristas, seria uma tentativa de tornar mais acessíveis as manifestações e que parlamentares possam ter protagonismo em seus redutos.