SÃO PAULO, SP E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Bolsonaristas voltaram a protestar em diversas cidades do país, neste domingo (3), com pedidos pela anistia de Jair Bolsonaro (PL), réu acusado de golpismo, e ataques ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e ao presidente Lula (PT).

O principal ato, em São Paulo, começou à tarde sem a presença do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) —que marcou um procedimento médico para a mesma data.

No carro de som, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, o pastor Silas Malafaia e o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) estiveram entre os destaques.

Bandeiras com exaltação ao presidente dos EUA, Donald Trump, foram uma das marcas da manifestação, assim como gritos de “fora, Moraes”.

O próprio ex-presidente, no entanto, não pôde participar dos atos pois, desde o último dia 18, tem que cumprir medidas restritivas impostas por Moraes, como usar tornozeleira eletrônica e não sair de sua casa, em Brasília, aos fins de semana.

As ausências de Bolsonaro e de Tarcísio, assim como a dispersão de atos pelo país, acenderam um alerta entre os bolsonaristas de que os protestos pudessem ser esvaziados, temor que não se concretizou.

O público estimado na avenida Paulista foi de 37,6 mil pessoas, em contagem realizada pelo Monitor do Debate Político do Cebrap e pela ONG More in Common às 15h33, no auge do protesto, a partir de fotos tiradas por drones e sistemas de inteligência artificial.

Na última manifestação, em 29 de junho, o público medido foi de 12,4 mil. Em abril, em outro ato, foram contabilizados 44,9 mil manifestantes. Já em fevereiro do ano passado, no mesmo local, o monitor estimou 185 mil pessoas na manifestação em defesa de Bolsonaro.

Os atos deste domingo foram impulsionados pelas medidas anunciadas por Trump, na quarta-feira (30), por influência de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), para pressionar o STF a livrar o ex-presidente no julgamento da tentativa de golpe.

A aplicação de sanções financeiras a Moraes, pela Lei Magnitsky, animou bolsonaristas e foi exaltada pelos manifestantes, já o tarifaço, menos lembrado pelos aliados do ex-presidente, provoca desgaste por atingir a economia do país.

Bolsonaro acompanhou as manifestações de casa e afirmou em mensagem divulgada em lista de transmissão: “obrigado a todos”, “pela nossa liberdade”. Um vídeo mostra o ex-presidente vendo pelo celular o ato em Belém, onde a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) participou.

Com o uso de redes sociais também proibido, o ex-presidente tampouco pode gravar um vídeo ou discursar. As medidas cautelares foram impostas a Bolsonaro no âmbito das investigações que apuram a atuação de Eduardo nos EUA.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), no Rio, e Nikolas, em Belo Horizonte, onde o deputado também foi à manifestação, divulgaram áudio de Bolsonaro pelo celular. Em São Paulo, Eduardo Bolsonaro participou por chamada de vídeo, e foi feita uma chamada de vídeo também para Bolsonaro, que viu o público, mas não falou nada.

O pastor Silas Malafaia usou sua fala, na avenida Paulista, para criticar os presidenciáveis da direita que não compareceram. Além de Tarcísio, outros governadores —Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Romeu Zema (Novo-MG) e Ratinho Junior (PSD-PR)— estiveram ausentes, ao contrário do ato de abril. No Rio, o governador Cláudio Castro (PL) participou.

O pastor afirmou que presidenciáveis teriam “arrumado desculpas” para não comparecer. “Vão enganar trouxa. Eu não sou trouxa. Estão com medo do STF? Por isso não chegaram até aqui? Arrumaram desculpa. Por isso, minha gente, que 2026 é Bolsonaro”, completou.

Durante a tarde, o governo paulista divulgou que o procedimento médico de Tarcísio, uma radioablação por ultrassonografia, ocorreu sem problemas e que ele receberia alta à noite. Cotado para substituir o inelegível Bolsonaro na corrida presidencial de 2026, Tarcísio tenta se equilibrar entre a lealdade ao bolsonarismo e o verniz de moderação, o que lhe causou arranhões na imagem na crise do tarifaço.

O prefeito Ricardo Nunes disse à Folha de S.Paulo que a manifestação teve como objetivo pedir “tranquilidade e paz” e que o governador fez falta. “Ele precisou fazer uma cirurgia, vou visitá-lo daqui a pouco. Se tivesse condições, estaria aqui. Ele faz falta”, declarou.

Ao chegar ao protesto em São Paulo, Nikolas também falou sobre a ausência de Tarcísio. O deputado afirmou que o governador não estava presente por motivos de saúde e que esteve em todas as outras manifestações. “O importante são as pessoas que estão aqui. Eu acho que está maravilhoso”, afirmou.

Nikolas pediu a prisão de Moraes, a quem chamou de “violador de direitos humanos”. Dirigindo-se ao ministro, o deputado disse “você sem a toga não sobra nada” e mencionou as sanções aplicadas pelos EUA. “Eu posso usar cartão de crédito. Posso usar as redes sociais e ainda usar pente de cabelo.”

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB) também foi citado por Nikolas. “Quero dar nome aos bois. Presidente Hugo Motta, agora é hora de separar os meninos dos homens. Não brinque com a vida das pessoas presas. Paute a anistia”, declarou.

Em seguida, se dirigiu ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), anunciando que aliados do ex-presidente elaborarão um novo pedido de impeachment contra Moraes nesta semana.

“O senhor vai receber, esta semana, o trigésimo pedido de impeachment de Alexandre de Moraes.[…] Senadores do Brasil, ou vocês expurgam os ministros do STF, ou nós vamos expurgar vocês nas eleições.”

No fim de semana, políticos bolsonaristas usaram os motes “Brasil acima do STF” e “Brasil com Bolsonaro” nas redes sociais para chamar apoiadores.

Sob o slogan de “Reaja, Brasil”, as manifestações ocorreram em diferentes cidades simultaneamente, marcando uma diferença para a estratégia que vinha sendo adotada nesses protestos desde que Bolsonaro retornou ao Brasil em 2023. A ideia é tornar mais acessíveis as manifestações e que parlamentares possam ter protagonismo em seus redutos.

Bolsonaristas querem um calendário de manifestações, visto como a única reação possível de apoio ao ex-presidente, que será julgado pela trama golpista no STF provavelmente no mês que vem.

As principais demandas são “anistia ampla, geral e irrestrita”, por meio do projeto de lei que está na Câmara, e o impeachment de Moraes, via Senado —duas pautas hoje consideradas improváveis de prosperar no Congresso.