SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um aceno de boas-vindas à linha 17-ouro. O recado no luminoso branco e amarelo acima da porta no interior do vagão sinaliza a proximidade do fim de mais de uma década de espera. Os dois primeiros trens do monotrilho, em testes na zona sul de São Paulo, devem circular com passageiros, em operação assistida, a partir de março de 2026.

Prometida para ser construída em apenas três anos e inaugurada para a Copa do Mundo de 2014, a linha suspensa de metrô, orçada atualmente em R$ 5,8 bilhões, colecionou uma série de atrasos e contratos rompidos até os trens começarem a rodar recentemente nas primeiras avaliações.

Na operação assistida anunciada para março próximo, o monotrilho vai circular com passageiros aos fins de semana, ou com horário reduzido. Depois, o processo deve ganhar escalas progressivas até o funcionamento comercial pleno, previsto para o terceiro trimestre de 2026.

A operação assistida será conduzida pela concessionária ViaMobilidade, empresa do grupo Movida (ex-CCR), que fará a gestão da linha.

Com 6,7 km de extensão, serão oito estações, sendo uma delas junto ao aeroporto de Congonhas, na zona sul paulistana.

A Folha acompanhou na noite da última quinta-feira (31) parte dos testes com 1 dos 2 trens já montados no pátio Água Espraiada, no Campo Belo, zona sul.

Ao todo, serão 14 composições produzidas sob medida na China pela BYD –duas delas desembarcaram recentemente no porto de Santos e devem chegar nos próximos dias à capital paulista.

As avaliações são feitas sempre entre 22h e 3h30 da madruga seguinte para não atrapalhar os trabalhos na obra da linha.

Além de profissionais do Metrô, engenheiros da fabricante chinesa viajam nos testes, divididos em duas etapas.

Na primeira, o trem se movimenta apenas por meio de carga de baterias internas até a estação Vereador José Diniz, passando pelas paradas Washington Luís e Brooklin. O trecho de 1,6 km, com velocidade máxima de 12 km/h (na maior parte do tempo não superou os 6 km/h), levou pouco mais de 30 minutos para ser percorrido na última quinta.

O trem da linha 17-ouro é o único no mundo com baterias recarregáveis, diz o Metrô, e que tem autonomia para até 8 km, ou seja, o suficiente para percorrer toda a linha 17, caso necessário.

Na segunda, já em fase energizada da linha (ou seja, sem o uso das baterias), a composição, de 60 metros de comprimento e cinco vagões, circula entre as estações Campo Belo, Vila Cordeiro e Chucri Zaidan –apenas os engenheiros acompanharam essa etapa no dia da reportagem.

“São testes dinâmicos, onde se acelera o trem a até 80 km/h (sus velocidade máxima) e depois há uma frenagem para checar seu desempenho”, afirma o engenheiro Marcelo Tobias, chefe do Departamento de Implantação de Sistemas e Material Rodante do Metrô, sobre a segunda etapa das atuais viagens.

Os trens são totalmente automatizados, ou seja, sem operador, assim como ocorre na linha 15-prata, também monotrilho que opera sobre pneus (são 80 em cada composição, no caso da linha 17).

Na viagem acompanhada pela reportagem, entretanto, duas pessoas operaram o trem. A primeira fez as manobras iniciais, a partir do painel de controle em uma das pontas, e a segunda, do outro lado, conduziu até a via elevada, em uma subida de 6°C, semelhante a uma montanha-russa em baixa velocidade.

O monotrilho é equipado com tecnologia CBTC (controle de trens baseado em telecomunicação), mas mudanças de vias, por enquanto, são feitas manualmente.

Os primeiros ensaios a partir do pátio Água Espraiada foram em trens vazios. A partir daí serão quatro estágios com sacos de areia, que vão aumentando o peso, para simular o comportamento com passageiros.

A viagem feita pela Folha foi no primeiro deles, chamado de AW1 (25% do peso total suportado), em que os sacos de areia são colocados, principalmente, à frente dos assentos onde ficarão sentados os usuários no futuro. Os vagões estavam parcialmente revestidos com plástico preto para não sujar. Foram acionados avisos sonoros de proximidade de estações.

Com bancos de plástico sem revestimento, o trem tem largos corredores para permitir a circulação de passageiros –a capacidade é para pouco mais de 600 pessoas. Existem painéis informativos no interior.

Só há guarda-corpo do lado de dentro do trilho, por onde saem passageiros em caso de emergência. Assim, quem tem medo de altura deve evitar viajar perto das janelas esquerdas, pois as vias ficam de 12 a 15 metros do chão e não há mureta de proteção — o Metrô garante que o sistema é totalmente seguro.

Com luzes que podem mudar de cor no assoalho, não foi difícil achar lá embaixo pessoas com celulares mirados para cima gravando a novidade.

Quando projetada, a linha 17-ouro, questionada por especialistas em relação à eficácia no uso de monotrilho para transporte público em massa, a ideia era facilitar o deslocamento a Congonhas. Pois o aeroporto da zona sul paulistana finalmente está conectado a uma parada de metrô.

Construída do outro lado da avenida Washington Luís, a estação Aeroporto de Congonhas será ligada ao local homônimo por meio de um túnel de 65 metros de comprimento. A passagem está em fase final de acabamento e com parte das escadas rolantes em funcionamento, conforme constatou a reportagem na sexta-feira (1º).

O acesso é no térreo de Congonhas, próximo às escadas de embarque e desembarque. As portas automáticas estão instaladas, mas, por enquanto, abrem e fecham manualmente.

Mesmo com metrô e aeroporto fechados durante a madrugada, o túnel ficará aberto ao público 24 horas por dia para que as pessoas possam atravessar de um lado a outro da avenida. A passarela metálica sobre a Washington Luís será retirada.

No canteiro da avenida, o Metrô está fazendo uma intervenção viária onde será construída um ponto de ônibus.

Segundo o engenheiro Fábio Soares, responsável por obras civis do Metrô, em breve deve ser construído um bicicletário na estação e uma ciclovia. “Vai ligar com a via para bicicletas na avenida Jornalista Roberto Marinho”, afirma.

Atualmente, a estação está na fase de complemento na instalação elétrica, de vidros, elevadores e acabamento. Como nas novas paradas de metrô e trens em São Paulo, não terá bilheterias –as passagens serão compradas em máquinas de autoatendimento.

A meta é terminar toda a parte civil e de sistemas (elétricos e comunicação) da linha 17-ouro até dezembro, o que inclui a estação Aeroporto de Congonhas.

Ao todo, os trabalhos estão cerca de 85% concluídos, diz o Metrô. As portas de plataforma, por exemplo, estão instaladas nas estações à espera de ligação.

Mas a impressão é que há muita obra pela frente ainda, pois existem de partes de pilastras a itens de acabamento espalhados pelos canteiros. “Mas esse cenário muda todo dia”, diz o engenheiro Marcelo Tobias.