SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um novo tratamento para câncer de próstata na fase mais avançada, quando há metástase, foi aprovado em junho pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). A terapia combinada de talazoparibe com enzalutamida é indicada para casos em que o tumor continua a crescer mesmo após a realização do bloqueio hormonal.
Segundo oncologistas, até 20% dos pacientes desenvolvem a forma metastática e resistente ao bloqueio hormonal (mCRPC). Outro tipo ainda mais grave é o câncer de próstata com mutação no gene do reparo por recombinação homóloga (HRR), também resistente ao bloqueio hormonal, que atinge cerca de 4% dos pacientes, de acordo com a literatura médica. Essas alterações prejudicam a capacidade de reparação das células, levando à progressão do câncer.
Em 2023, 17.093 homens morreram por câncer de próstata no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde. O número de mortes se aproxima ao do câncer de mama, que matou 19.103 mulheres em 2022, segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer).
Produzido pela Pfizer com o nome de Talzenna, o talazoparibe é um inibidor de enzimas PARP (poli ADP-ribose polimerase).
A enzalutamida, cujo nome comercial é Xtandi, da farmacêutica Accord, é um bloqueador da ação da testosterona e de outros hormônios masculinos (andrógenos). O medicamento vinha sendo usado como base do tratamento padrão de câncer de próstata em casos de metástase, bem como o Talzenna já era usado em tratamentos de câncer de mama e de ovário com a mutação HRR.
Frederico Leal, oncologista no Hospital das Clínicas da Unicamp, diz que cânceres de próstata com essa deficiência celular têm um comportamento mais agressivo e mais propenso à proliferação para outros tecidos corporais, mesmo após a terapia hormonal. “Essas drogas vão provocar a morte de células que estão em proliferação, principalmente as cancerígenas”, diz Leal.
Um estudo de fase 3 publicado em 2023 na revista Nature Medicine mostrou que o uso combinado dos medicamentos reduziu em 55% o risco de progressão da doença e morte em homens com câncer metastático e com mutação no gene HRR, em comparação com o o tratamento com enzalutamida e placebo.
O tratamento não está disponível no SUS (Sistema Único de Saúde). Os medicamentos, vendidos separadamente, custam cerca de R$ 40 mil (Talzenna) e R$ 10 mil (Xtandi) por mês.
Prevenção
O diagnóstico precoce ainda é a arma mais valiosa para o sucesso dos tratamentos, apontam os médicos.
Em um cenário em que o câncer de próstata mata 47 homens por dia no Brasil, a SBU (Sociedade Brasileira de Urologia) chama a atenção para a necessidade de rastreamento e de diagnóstico precoce e recomenda que homens a partir de 50 anos realizem consultas periódicas com um urologista.
Para pessoas que fazem parte do grupo de risco, como pacientes com histórico na família, o ideal é acompanhamento a partir dos 45 anos.
Se descoberto em estágio inicial, é possível tratar o câncer com cirurgia de prostatectomia radical (retirada da próstata) ou radioterapia.
Além do novo tratamento com combinação de medicamentos, casos de diagnóstico tardio ou de avanço da doença podem ser tratados com quimioterapia ou radiofármacos. “A gente tem hoje um arsenal bastante variado para usar contra o câncer de próstata avançado”, diz o oncologista da Unicamp.