SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A expectativa do entorno do presidente Lula (PT) acerca de ganhos de imagem imediatos no embate com o americano Donald Trump não se concretizou. Segundo o Datafolha, o petista segue com avaliação estável, tendo seu governo reprovado por 40% e aprovado por 29%.
Os dados foram aferidos nos dias 29 e 30 de julho, em meio à escalada da agressão do republicano ao Brasil, a quem aplicou sobretaxas de importação que chegam a 50%, apesar de ter mantido exceções para proteger setores de sua economia.
O Datafolha ouviu 2.004 eleitores de 130 cidades no país, num levantamento com margem de erro de dois pontos para mais ou para menos.
É nessa banda que ficou a oscilação registrada na aprovação do governo entre o início de junho e agora. Na rodada anterior, Lula tinha 28% de ótimo e bom e os mesmos 40% de ruim e péssimo. O regular passou de 31% para 29%, e 1% não deu opinião.
Quando questionados acerca do trabalho de Lula como presidente, há estabilidade estática de números ante o resultado de junho: 50% o reprovam e 46% o aprovam.
A crise com Trump é altamente política. O americano justificou seu tarifaço principalmente pelo que chamou de caça às bruxas ao aliado ideológico Jair Bolsonaro (PL), o ex-presidente que está inelegível até 2030.
O republicano quis interferir no Judiciário brasileiro, sugerindo que as tarifas poderiam ser revistas se fosse cessado o julgamento de Bolsonaro sob a acusação da trama golpista para ficar no poder após perder a eleição de 2022 para Lula. Aplicou sanções ao ministro do Supremo Alexandre de Moraes, responsável pelo caso.
Lula assumiu um discurso fortemente nacionalista, carimbando como traidores da pátria não só a família Bolsonaro, tentando salvar a pele de seu patriarca, mas os aliados que podem se colocar como opções da direita na disputa presidencial de 2026 o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) à frente.
Passou a usar bonés ufanistas e as redes sociais do Planalto empregaram todo um arsenal de frases feitas e memes. Quando o americano enfim anunciou as exceções do tarifaço, na quarta (30), foi impulsionada a hashtag “Trump arregou”, algo distante da realidade final da questão.
Politicamente, a tática foi elogiada, e Lula colheu aplausos até em publicações no exterior, como o jornal New York Times. Mas os números desta mesma rodada do Datafolha mostrando que 45% dos entrevistados achavam que Bolsonaro era perseguido sugeriam matizes à leitura.
Na vida real, os números do Datafolha mostram que o louro eleitoral pode até vir mais à frente, mas a avaliação do cotidiano da administração é questão diversa.
Lula conseguiu estabilizar seus índices, o que já pode ser considerado por sua equipe como boa notícia, dado que em fevereiro ele havia levado um tombo histórico no Datafolha. Caiu de 35% para 24% de ótimo/bom, atingindo o pior nível de seus três mandatos. Na inversão da curva, o ruim/péssimo foi de 34% para 41%, e nessas faixas as taxas seguem oscilando.
Antecessor e rival de Lula, Bolsonaro marcava a esta altura de seu conflituoso mandato taxas piores: sua reprovação oscilou de 51% para 53% no segundo semestre de 2021.
Uma das principais ameaças percebidas à imagem do governo, a crise dos descontos no INSS parece ter passado pelo trecho mais turbulento. A economia, apesar da manutenção dos juros a 15% e de pressões outras, não viu o deslanchar da inflação e ainda registra níveis inauditos de emprego.
A partir daí, é escolher o ângulo pelo qual se olha o copo com metade da capacidade utilizada. Governistas apontam que há caminhos para melhoria, enquanto oposicionistas dizem que as taxas de aprovação são muito ruins num cenário de controle econômico relativo.
A leniência fiscal com que Lula trata o gasto público poderá até ajudar a turbinar sua campanha à reeleição no ano que vem, mas a conta nesses casos vem depois que o diga Dilma Rousseff (PT), a sucessora que presidiu sobre uma recessão e acabou sofrendo impeachment por falta de apoio congressual.
Para quem mapeia eleitorado, não há diferenças significativas de evolução da aprovação do governo em nenhum segmento vital. Segundo o Datafolha, destacam-se com avaliação mais positiva do que a média os menos instruídos (42% de ótimo e bom) e os nordestinos (38%).
Já a desaprovação maior é vista entre grupos mais associados ao bolsonarismo, como o caso da classe média baixa (62%), os mais ricos (57%), evangélicos (55%), sulistas (51%), mais instruídos (49%) e quem tem de 35 a 44 anos (48%).
A imutabilidade do quadro sugere que, se veio, o proverbial presente de Trump para Lula ou só vai ser aberto no ano que vem ou apenas era ilusório.