SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O impasse sobre a cessão de três áreas da União trava o início da ampliação da estação Água Branca, na zona oeste paulistana, cujo projeto busca transformar o local na maior concentração de linhas de trens e metrô do país.
Com dez plataformas, a nova estação irá receber a linha 3-vermelha do metrô e fazer integração com a 6-laranja, 7-rubi, 8-diamante e 9-esmeralda, do trem metropolitano, e os futuros trens intercidades para Campinas e Sorocaba, além de estar na passagem de trilhos próprios para composições de carga.
A expectativa era começar as obras ainda neste semestre e inaugurar a primeira fase, ou seja, a “caixa” do prédio principal, até outubro do ano que vem, quando deve começar a funcionar o primeiro trecho da linha 6.
Mas para isso é preciso destravar um impasse com o governo federal. Junto à estação há áreas pertencentes à SPU (Secretaria de Patrimônio da União). Em um desses locais, por exemplo, existem três galpões locados para uma empresa privada de logística que, pelo projeto de reformulação, serão demolidos.
A gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) está há cerca de quatro meses em tratativas com o governo Lula (PT) para disponibilidade das áreas ou mesmo a venda ao governo paulista.
Questionada sobre o andamento dos trâmites, a Secretaria de Patrimônio da União confirma que há um processo em análise na superintendência da pasta em São Paulo, sem citar um data para repasse, se houver.
“Os prazos para a conclusão das análises e posterior cessão dos imóveis podem variar de acordo com a área pretendida e dependem de suas especificidades e do regramento próprio aplicado”, diz trecho da nota.
Em um dos ofícios enviados à SPU, a Secretaria de Parcerias em Investimentos do governo estadual diz que as áreas são imprescindíveis para a reformulação da estação. Também fala em urgência na liberação.
Essas áreas, oriundas da antiga RFFSA (Rede Ferroviária Federal), são necessárias, por exemplo, para reposicionamento de linhas, como a 8-diamante, que irá dividir trilhos com a 9-esmeralda.
Orçado em cerca de R$ 1,3 bilhão, o projeto da estação é tocado pela TIC Trens, concessionária que também será responsável pela trem entre São Paulo e Campinas, e pela gestão da linha 7 do trem metropolitano, a única com parada na Água Branca atualmente.
Ao seu lado está sendo construída a estação de mesmo nome da linha 6-laranja com 82% das obras prontas, é uma das mais adiantadas do novo ramal metroviário. Elas serão interligadas.
A estimativa é de 73 mil m² de área construída, distribuídos em quatro níveis, com 56 escadas rolantes e 16 elevadores.
Os planos para reformular a estação nasceram há cerca de um ano, afirma André Isper, presidente da Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo), órgão responsável pela regulação do transporte estadual.
Até então, o TIC para Campinas estava previsto para ter seu ponto de partida na Barra Funda, estação imediatamente à frente, onde atualmente chegam e partem trens da linhas 3, 7 e 8.
“Conforme fomos aprofundando o programa de expansão da malha metroferroviária e estudando alternativas para um novo hub, decidimos fazer um trabalho maior na Água Branca, onde há espaço e que fica a menos de 1 km da Barra Funda”, afirma Isper.
O local também prevê uma área de alimentação e a construção de um estacionamento.
Ainda não há no estudo a expectativa de quantas pessoas deverão passar pelo local. Durante todo o último mês de junho, cerca de 183 mil usuários da linha 7-rubi circularam pela estrutura atual, segundo a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).
O projeto prevê extensão até a Água Branca, via superfície, da linha 3-vermelha do metrô (ainda sem prazo), a partir da Barra Funda, e da fusão das linhas 8 e 9.
O trabalho envolvendo as duas linhas, na prática, começou a partir da recente aprovação de um aditivo de R$ 1 bilhão no contrato com a ViaMobilidade, empresa responsável pela gestão dos dois ramais ferroviários, para troca do sistema de comunicação
O atual circuito de via começou a ser trocado em junho pelo ETCS (European Train Control System, ou sistema europeu de controle de trem, na tradução) de nível 2, com contadores de eixos. Isso vai padronizar a circulação de trens em linhas distintas, o que não acontece hoje. Será o primeiro na América Latina.
O prazo para troca do sistema de comunicação é de cinco anos, quando os trens devem parar e sair da nova estação.
“O aditivo veio justamente conversando com esse projeto da Água Branca, para a gente criar interoperabilidade entre as linhas, tornando-as, de fato, um sistema único”, diz Andre Costa, diretor da ViaMobilidade para os dois ramais.
A partir da implementação do novo sistema, a 8 e 9 continuam existindo como linhas férreas distintas, mas o serviço terá uma configuração mais ampla.
“Poderemos ter um trem da linha 9 indo para Água Branca e outro para Barueri. Ou saindo da Água Branca, indo até Itapevi”, afirma o executivo, sobre possibilidades de ligação da região central de São Paulo com cidades da região metropolitana.
Na prática, isso significa que a linha 9 vai se dividir em duas em parte do trajeto um trecho vai seguir o caminho atual, enquanto outro vai para a Água Branca, na via compartilhada com a linha 8.
Para isso, será necessária a construção de um novo viaduto junto à marginal Pinheiros próximo ao CDP (Centro de Detenção Provisória) de Pinheiros, em uma área conhecida como Pulo do Carneiro.
Atualmente, a linha 9-esmeralda liga Osasco, na Grande São Paulo nessa ponta há projeto de expansão a Barueri, até a estação Medes-Natal, na zona sul paulistana. A partir do novo viaduto, ela fará uma bifurcação para a zona oeste paulistana, compartilhando trilhos com a linha 8, que terá remanejamento entre as estações Barra Funda e Lapa, permitindo que o ramal acesse a Água Branca.
“O passageiro que chegar de Campinas ou Sorocaba terá condições ir para qualquer região da cidade em um único trem a partir da Água Branca. Isso vai mudar a dinâmica até de lotação de outras estações”, afirma Pedro Moro, CEO da TIC Trens.
O expresso para Sorocaba é previsto para ficar pronto em 2031. O de Sorocaba encerrou consultas públicas em junho.
Para chegar até estação atualmente é preciso esperar do outro lado de uma cancela pela passagem do trem, cujo trilho divide espaço com seu acesso.
Foi o que fez no último dia 24 a diarista Vera Rosa Rodrigues, 45, moradora de Cajamar, que pega o trem da linha 7 de segunda a sexta para trabalhar em São Paulo. Antes de chegar à plataforma, ela passa por um paredão grafitado na entrada, com imagens desgastadas de Ayrton Senna.
“Aqui é tranquilo, as pessoas são atenciosas. Será que vão acabar com essa paz?”, afirma ao ser informada dos planos ambiciosos para dar lugar à centenária estação, nascida em 1867, por causa da ferrovia SantosJundiaí, e reformada em 1985. O local conta hoje com 3.160 m² de área construída.