PARATY, RJ (FOLHAPRESS) – A escritora Ana Maria Gonçalves disse na tarde desta sexta-feira (1º), na Casa Folha, na Flip, que deve haver “uma leva” de livros novos dela em breve -mas escolheu dar mais detalhes sobre apenas um deles, que vai tratar da menopausa.
Mais nova imortal da Academia Brasileira de Letras, Gonçalves não publica desde “Um Defeito de Cor”, de 2006. Desde então, o sucesso da obra só cresceu, e, recentemente, ficou em primeiro lugar em uma lista da Folha com os melhores livros de literatura brasileira do século 21.
Com a repercussão cada vez maior do romance, também só aumentou a expectativa por novos livros da autora. Haveria algo no prelo?
“Vai vir logo. Eu escrevo uns quatro ou cinco livros ao mesmo tempo. Quando trava um, eu parto para outro e vou pulando entre eles. É possível que agora saia uma leva de algumas coisas”, afirmou. “Entre elas, uma coisa que estou começando a divulgar, que é um livro sobre a menopausa, uma das coisas mais modificadoras que aconteceram na minha vida. Quando entrei, não tinha ideia do que era aquilo. Achava que estava com mil doenças.”
Ela explicou que, depois da repercussão de “Um Defeito de Cor”, começou a sentir a responsabilidade de não poder falhar; e isso acabou travando sua escrita.
“Agora já estou tranquila reivindicando não o lugar de fala, mas o lugar de falha, entendendo que a literatura não necessariamente melhora com o tempo; posso já ter escrito meu melhor livro. E vou escrever os outros sem esse peso. Mas vou dar o meu melhor”, afirmou.
Gonçalves lembrou que escreveu “Um Defeito de Cor” sem que ninguém soubesse o que estava fazendo. Depois do livro, começou a ter a sensação de estar sendo observada por cima do ombro enquanto trabalhava, numa cobrança de que repetisse o feito.
“Há essa responsabilidade de ter que acertar. Quando [uma pessoa negra] acerta é algo individual ou excepcional, somos colocados nesse lugar. Quando você erra, falam ‘tinha que ser negro’. Cai nos ombros de todo mundo.”
Em uma Casa Folha lotada, Gonçalves contou que também chegou a travar enquanto escrevia o livro sobre a menopausa. Mas que conseguiu novo fôlego ao descobrir a menopausa das orcas.
“Voltei a escrever a partir do que se sabe disso. Os cientistas começaram a pesquisar por que havia bandos de 15, 50 ou cem orcas e por que essa diferença. Viram que os bandos maiores tinham mais orcas na menopausa. Temos muito a aprender com as orcas. Elas param de ter filhos quando as filhas começam a tê-los. E a partir daí passam a gerenciar o bando”, disse.
Com mediação do jornalista Walter Porto, editor de livros da Folha, a escritora também lembrou sua eleição para a ABL. Ela é a primeira mulher negra em quase 130 anos de história da instituição, fundada por Machado de Assis, e foi questionada sobre por que resolveu se candidatar.
“Eu me interesso pelo tanto que há para fazer ali dentro. Uma academia que não representava [o Brasil] e ainda não representa. É uma porta de entrada. Quero que eu seja a primeira, mas não a única”, disse.
A escritora, que ocupa a cadeira que foi do gramático Evanildo Bechara, diz que tem o interesse em produzir discussões sobre outros registros do português -como o “pretuguês” do qual falava a intelectual Lélia Gonzalez.
“O professor Bechara dizia que precisamos ser poliglotas na nossa própria língua. Isso para mim é um sinal muito bonito.”