SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A polícia de Israel libertou o colono israelense acusado de matar o ativista e jornalista palestino Owdeh Hathaleen, enquanto continua se recusando a entregar o corpo da vítima à família para realização do funeral. As informações foram publicadas nesta quinta-feira (31) pelo jornal britânico The Guardian.

Consultor do documentário vencedor do Oscar “Sem Chão” (“No Other Land”, em inglês), Hathaleen foi baleado e morto por Yinon Levi, o colono agora solto, na Cisjordânia ocupada na segunda (28), segundo afirmaram à agência de notícias Reuters cinco pessoas que disseram ter testemunhado o ataque.

Segundo a reportagem do Guardian, Levi foi liberado da custódia por um tribunal na terça (29) e colocado em prisão domiciliar por três dias, prazo que termina nesta sexta (1º), quando ele poderá voltar a circular livremente. Segundo o advogado do colono, a corte considerou que havia provas que sustentavam suas alegações de legítima defesa e, assim, determinou a libertação.

Alaa Hathaleen, primo da vítima, filmou o caso com seu telefone. Ele disse que Owdeh “estava longe e não estava fazendo nada” no momento em que foi baleado. A gravação mostra uma discussão acalorada entre um grupo de pessoas que gritam em árabe e um homem que segura uma arma. Este, então, dispara para o ar e em direção à multidão. Gritos são ouvidos e pessoas podem ser vistas correndo.

O Exército israelense disse em comunicado divulgado na terça que “terroristas atiraram pedras contra civis israelenses perto de Carmel”, um assentamento próximo à vila de Umm al-Khair.

Os militares afirmaram ainda que um civil armado reagiu atirando contra aqueles que jogavam pedras. Disseram também que o Exército estava ciente de relatos de pessoas feridas.

“É devastador. O corpo dele [Owdeh] continua detido, e o assassino está livre. A mãe e a esposa dele continuam perguntando onde ele está e quando o corpo vai voltar. Não tenho mais respostas. Digo a eles que será em duas horas, mas não sei”, disse Salem Hathaleen, irmão mais velho da vítima, ao Guardian.

Ainda segundo a publicação britânica, um advogado disse que a polícia não liberaria o corpo de Owdeh até que sua família concordasse com dez condições, incluindo limitar o funeral a 15 pessoas e enterrá-lo fora de sua aldeia natal.

Mas a família recusou as condições. “Quinze pessoas -isso significa que nem todos os filhos e irmãos poderiam comparecer [ao funeral]”, disse Salem. Esse tipo de restrição, que tem o objetivo de impedir que funerais se tornem manifestações, é frequentemente imposta pelas autoridades militares israelenses, que controlam a Cisjordânia ocupada.

Os palestinos que vivem no território estão sujeitos à lei militar israelense. Os colonos, entretanto, respondem à lei civil -uma distinção que é apontada por grupos de direitos humanos para afirmar que Israel comete apartheid.

Levi, que já havia sido alvo de sanções impostas pelo então presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e posteriormente removido da lista pelo governo de Donald Trump, pode ainda enfrentar acusações formais, embora nada tenha sido anunciado até o momento.