PARATY, RJ (FOLHAPRESS) – A primeira mesa da Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, desta sexta-feira (1º) emocionou o público ao reunir três poetas de renome e de gerações diferentes que leram trechos de suas obras e discutiram a natureza política da poesia e a crescente produção poética por mulheres, ainda cercada por estereótipos machistas.

“Faz pouco mais de um século que as mulheres têm acesso regular à alfabetização. Portanto, se a gente olhar nos termos da duração da história, é um fenômeno maravilhoso essa quantidade de mulheres fazendo poesia”, disse Alice Ruiz, compositora, tradutora e poeta premiada com o Jabuti por seus livros de poema “Vice-versos” e “Dois em Um”.

“Os rapazes que me desculpem, mas, em matéria de quantidade e de qualidade, acho que já estamos ganhando”, brincou Ruiz, que foi casada com Paulo Leminski, autor homenageado desta edição da Flip, com quem teve três filhas.

A curitibana estava acompanhada das poetas cariocas Claudia Roquette-Pinto, que teve seus primeiros cinco livros compilados no lançamento “A Extração dos Dias”, e Marília Garcia, vencedora do Prêmio Oceanos pelo livro de poemas “Câmera Lenta” e que lançou neste ano o livro de ensaios “Pensar Com as Mãos”.

Na mediação, o jornalista Fernando Luna usou trechos das obras de cada uma delas numa divertida apresentação e entrosou as autoras ao propor perguntas com referências cruzadas.

Garcia contou que o primeiro livro que ganhou quando ingressou no mundo editorial, antes mesmo de se descobrir poeta, foi de Roquette-Pinto “Foi uma das primeiras poetas contemporâneas que eu li”, afirmou.

Roquette-Pinto, por sua vez, explicou que, para sua geração, Ruiz é uma das pioneiras que “vieram na frente, rompendo, abrindo caminho para a gente poder chegar onde está. “É uma corrente de vozes e visões e construções e dicções que vão sendo transmitidas da boca do mestre para discípulos.”

Ela lembrou do tempo em que recebia elogios do tipo “você escreve poesia que nem homem” e a produção literária de mulheres era segregada nas livrarias e bibliotecas em espaços indicados como “literatura feminina”. Antes disso, o mediador abriu o debate evocando os efeitos da homenagem a Leminski em Ruiz.

“É a primeira vez que vou responder à pergunta sobre a emoção sem ser rabugenta”, disse ela. “É porque normalmente se pergunta sobre emoção só para mulheres, mesmo quando o assunto é trabalho”, explicou-se, ressalvando que a ocasião era, de fato, excepcional.

“Além do próprio talento do Paulo, eu e minhas filhas temos trabalhado para sua obra não fique esquecida no tempo. E ver o trabalho dele e o nosso surtindo efeito, dando frutos, é uma felicidade. Acho que esse negócio de estar vivo se justifica por estes momentos”, disse, lamentando o fato de Leminski não ter vivido para esta consagração. “Mas quem mandou ele ter pressa e ir embora cedo?”

Ruiz ainda declamou algumas de suas letras de músicas mais famosas, como “Socorro”, gravada por Gal Costa e Arnaldo Antunes, e contou que ela e Leminski costumavam ser os primeiros leitores das produções literárias de um e de outro.

“Eu sou muito exigente com quem eu amo, e não deixava barato para o Paulo. Quando ele me mostrava alguma coisa mais ou menos, eu dizia, cara, não precisava de você para fazer isso”, disse, para deleite do público que lotou o auditório. “Uma maravilha um espaço deste lotado de pessoas interessadas em poesias de mulheres às 10h da manhã.”

FESTA LITERÁRIA INTERNACIONAL DE PARATY 2025

Quando Até 3 de agosto

Onde Centro Histórico de Paraty

Preço De R$ 39 a R$ 135 por mesaIngressos e mais informações flip.org.br