Walison Veríssimo
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), provocou novo embate no cenário político nacional ao defender, nesta sexta-feira (1º), uma anistia “ampla, geral e irrestrita” para todos os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 e na suposta tentativa de golpe em 2022. A declaração foi feita durante participação no programa Diálogos O GLOBO, mediado pela jornalista Vera Magalhães, e colocou o chefe do Executivo goiano em rota de colisão com o prefeito do Recife, João Campos (PSB).
Pré-candidato à Presidência da República, Caiado afirmou que, caso eleito, sua primeira medida será o perdão presidencial aos réus das ações que culminaram na depredação das sedes dos Três Poderes, em Brasília. “Quando o Lula ganhou e disse, a primeira coisa que disse foi ‘vou pacificar o país’. É o que eu digo. Se eu assumir o governo, a primeira coisa que vou fazer é anistiar todo mundo. Igual Juscelino fez, e com situações mais graves do que essa, em que realmente havia uma tentativa de derrubá-lo”, afirmou.
Caiado comparou sua proposta à anistia concedida por Juscelino Kubitschek nos anos 1950, quando militares envolvidos em revoltas contra seu governo foram perdoados, e também à Lei da Anistia de 1979, durante a ditadura militar. Para o governador, a medida é essencial para “pacificar” o país e restaurar o equilíbrio institucional.
A fala foi imediatamente rebatida por João Campos. Aos 30 anos, o prefeito do Recife e um dos principais nomes da nova geração da esquerda criticou a proposta e destacou o risco de impunidade. “Tenho visão contrária, não é o caminho. Em relação ao que se trata de anistia do 8 de janeiro, é ter clareza entre quem liderou, planejou e quem foi massa de manobra. Anistia ampla pode construir viés de impunidade. É preciso seguir as leis”, afirmou. Campos destacou ainda que “quem quebrou instituição pública tem que ser punido”.
O debate ocorre em meio a uma ofensiva da oposição no Congresso para aprovar projetos de anistia. Na Câmara dos Deputados, parlamentares já reuniram 259 assinaturas para que a proposta tramite em regime de urgência. No Senado, o projeto de autoria do senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) já acumula mais de 482 mil apoios em consulta pública.
Dados da Procuradoria-Geral da República revelam que, até o momento, 1.198 pessoas foram responsabilizadas pelo Supremo Tribunal Federal por participação nos atos de 8 de janeiro. Destas, 643 foram condenadas e outras 555 fecharam acordos de não persecução penal. As penas aplicadas chegam a 17 anos de prisão, além de multa coletiva de R$ 30 milhões.
A defesa da anistia por Caiado é vista como mais um gesto estratégico de aproximação com o eleitorado bolsonarista. Jair Bolsonaro, que hoje está inelegível até 2030, é um dos beneficiários potenciais da medida. Já João Campos, reeleito em 2024 com 78,11% dos votos válidos, deve assumir a presidência nacional do PSB em 2025 e é cotado para disputar o governo de Pernambuco com apoio do presidente Lula.