SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A polícia israelense libertou nesta sexta-feira (01) o colono Yinon Levi, acusado de matar o ativista e jornalista palestino Awdah Hathaleen. A família da vítima ainda luta para recuperar o corpo de Hathaleen para o funeral.

Awdah Hathaleen foi morto a tiros na noite de segunda-feira, em meio a um confronto entre colonos e moradores da vila de Umm al-Khair, na Cisjordânia ocupada. O palestino ajudou a produzir o documentário No Other Land, vencedor do Oscar.

Imagens feitas no local mostram Levi atirando descontroladamente antes de Hathaleen cair no chão, a alguns metros de distância. Apesar disso, Levi foi libertado na terça-feira por decisão da Justiça e ficou em prisão domiciliar por três dias, medida que terminou nesta sexta-feira (1º). Segundo o advogado dele, o tribunal viu sinais de legítima defesa.

Apesar da libertação de Levi, a família de Hathaleen ainda está lutando para recuperar seu corpo da polícia israelense para que eles possam realizar seu funeral. “É devastador. O corpo dele continua detido e o assassino está livre. A mãe e a esposa dele continuam perguntando onde ele está, quando o corpo vai voltar. Não tenho mais respostas. Digo a eles uma hora, duas horas, mas não sei”, disse Salem Hathaleen, irmão mais velho de Awdah ao The Guardian.

Polícia israelense se recusa a libertar o corpo do palestino até que sua família concorde com 10 condições. As exigências incluem limitar o funeral a 15 pessoas e enterrar seu corpo fora de sua aldeia natal, de acordo com um advogado que representa a família.

Autoridades exigiram que não houvesse cartazes “incitando violência” e proibiram o uso de sistema de som, segundo um documento obtido pelo Guardian. Elas ainda solicitaram um depósito financeiro da família como garantia de que as regras seriam cumpridas. Os familiares se recusaram a assinar o documento. “Quinze pessoas — isso significaria que basicamente metade de seus irmãos e filhos não poderiam nem comparecer”, disse Salem.

Soldados israelenses invadiram a tenda montada para os enlutados em Umm al-Khair na terça-feira, declararam a área “zona militar fechada” e lançaram granadas de efeito moral contra ativistas e jornalistas presentes. O Exército israelense afirmou que as condições eram necessárias para “preservar a ordem pública”, enquanto o irmão de Awdah, Alaa Hathaleen, que presenciou o assassinato, criticou a ação. “Ir ao lugar onde ele foi morto, de onde tiraram a vida dele, e expulsar as pessoas? Isso não é vida, isso vai contra qualquer lei do mundo”.

Mais de 70 mulheres da vila anunciaram uma greve de fome até que a polícia devolva o corpo de Awdeh Hathaleen. Familiares e ativistas dizem que o caso mostra um “sistema de impunidade para colonos israelenses”, em meio à crescente violência contra palestinos. Desde o início da guerra entre Hamas e Israel, em outubro de 2023, ao menos 1.010 palestinos foram mortos e mais de 7 mil ficaram feridos na Cisjordânia por soldados e colonos israelenses.

Na terça-feira, o Ministério das Relações Exteriores da França pediu que Israel responsabilize o autor dos disparos e classificou a violência dos colonos como “terrorismo”. Na quinta, um novo ataque na vila de Silwad, na Cisjordânia, deixou mais um morto. Colonos incendiaram casas e carros, e Khamis Abdel-Latif Ayad, de 40 anos, morreu asfixiado pela fumaça.