SANTOS, SP (FOLHAPRESS) – Ataques de gaviões na área urbana de Santos, no litoral de São Paulo, têm levado a prefeitura a realizar buscas por ninhos, filhotes e aves adultas na área urbana do município, inclusive nas proximidades da orla.
Foram registrados ao menos três ataques a humanos nos últimos dez meses e até um drone foi alvo dos animais na maior cidade da Baixada Santista.
“Achei que tinha sido atingido por um skate ou um soco”, diz Victor Alschefsky, 30. Ele, que trabalha com entregas, desceu do carro para ir a um prédio nas proximidades da praça dos Palmares, ponto de encontro de skatistas no bairro Macuco, quando foi atingido.
“Senti um impacto forte. Pacotes voaram e desequilibrei. Ainda pude ver o gavião voltando para a árvore. Consegui filmar”, disse.
Com a orelha esquerda sangrando muito ”ele tirou pedaço da ponta usando a garra”, procurou abrigo na portaria de um prédio e usou papel higiênico para conter o sangramento.
Em uma unidade de saúde, levou ponto na orelha e, apesar de ressabiado, voltou a fazer entregas no mesmo lugar. “Difícil de entender. Eu nem carregava comida e não provoquei o gavião. Minha preocupação é com pessoas mais frágeis, uma criança e um idoso que, com uma queda na hora do susto, podem se ferir ainda mais”, disse.
Na região do Gonzaga, uma dos mais frequentadas da cidade, um turista de 41 anos foi igualmente atacado. Em relato nas redes sociais disse ter achado que se tratava de assalto.
Outro episódio é o de uma mulher ferida sem gravidade em uma rua do Boqueirão. Até um drone de um corretor de imóveis foi alvo de gavião na mesma região neste ano.
A espécie identificada nos casos é a Parabuteo unicinctus, ave de rapina bem arisca que mede até 55 centímetros. Popularmente chamada de gavião-asa-de-telha (ou gavião-escuro), é comum não só em Santos, mas também em municípios como São Paulo e Rio de Janeiro.
“Essa é uma espécie que se adaptou ao ambiente urbano, inclusive no alto de prédios, porque sofreu redução de suas áreas naturais”, disse o biólogo Eric Comin, 46.
Ele lembra que a ave desempenha funções ecológicas relevantes. “Como predador, impede que outras populações, como a de ratos e pombos, aumentem fora do normal. Isso contribui para o equilíbrio do ambiente.”
Matar animais silvestres, como gaviões, é crime ambiental com detenção prevista de seis meses a um ano, além de multas. “Jamais se deve pensar em fazer isso. E vale acrescentar que eles já sofrem muito com o estresse da rotina urbana na qual precisaram se inserir, onde o barulho de buzinas e outros é constante. Aliás, morrem por esse estresse”, afirmou.
EVITEM A APROXIMAÇÃO
A Prefeitura de Santos informou que o Grupamento Ambiental da GCM (Guarda Civil Municipal) “está fazendo buscas por gaviões em locais citados pela população para verificar se o comportamento agressivo das aves com humanos está relacionado à presença de ninho e filhotes”.
Recomenda, ainda, que as pessoas evitem se aproximar das aves e não deixem restos de alimentos nas proximidades dos locais de incidência, “pois atraem presas [ratos, pombos] e, consequentemente, ampliam a oferta de alimentos para os gaviões”.
Quando há o registro de uma situação de risco com gaviões, a Polícia Ambiental também é acionada pela prefeitura para avaliar o animal e o contexto e, se houver necessidade, encaminhá-lo ao Cetras (Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres) do governo estadual. Episódios do tipo podem ser comunicados pela comunidade à GCM (pelo telefone 153) e à Polícia Ambiental (190).