SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A guerra aérea no conflito entre a Rússia e a Ucrânia atingiu um nível recorde em julho, após quase três anos e meio da invasão promovida por Vladimir Putin. A introdução de novas tecnologias, como um modelo de drone a jato de Moscou, complicou ainda mais a vida das defesas de Kiev.
Segundo dados publicados nesta sexta (1) pelas Forças Armadas da Ucrânia, os russos lançaram 6.245 drones e 198 mísseis contra o vizinho no mês passado no mesmo período de 2024, haviam sido 426 armamentos empregados.
Os números diferem dos divulgados também nesta sexta no X pelo presidente Volodimir Zelenski, que denunciava como “vil e criminoso” o ataque da véspera contra Kiev, que com 31 mortos foi o mais violento do ano até aqui.
Zelenski falou em 3.800 drones e 260 mísseis. Em relação aos aviões-robôs, provavelmente ele se referia àqueles com cargas explosivas, enquanto os dados militares incluem as iscas desarmadas usadas para saturar as defesas aéreas. Sobre os mais mortíferos mísseis, não há explicação acerca da discrepância, natural em tempos de guerra.
Segundo a Força Aérea, 61% dos mísseis foram abatidos ao longo de julho, ante 89% dos drones. Mas os estragos em solo foram grandes da mesma forma, e segundo a contagem assumidamente imprecisa feita pela ONU, 232 civis morreram nos ataques, outro recorde sombrio. Nesta sexta houve um respiro relativo, com 73 drones lançados, que mataram 3 pessoas e feriram 37.
Na mão contrária, os ucranianos também bateram seu recorde mensal de lançamento de drones contra a Rússia, com 3.008 armamentos abatidos em julho, segundo dados do Ministério da Defesa em Moscou, que não divulga dados gerais. Os estragos, contudo, são em escala bastante menor do que os registrados no vizinho.
Kiev quer mudar o cenário incrementando não só a produção de drones, campo em que sempre foi pioneira, mas também de mísseis balísticos. Analistas militares russos temem que, em questão de meses, Zelenski possa lançar um inédito ataque com derivados do modelo Netuno contra Moscou, que até aqui se defende bem contra drones de longo alcance.
O cenário de aumento da violência na guerra, como a Folha de S.Paulo havia mostrado no mês passado, acompanhou a volta de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos em janeiro. O americano aproximou-se do Kremlin, mas sem sucesso em obter uma trégua lançou um ultimato, que vence em sua nova versão daqui a uma semana.
Na noite de quinta (31), Trump disse achar “nojento o que os russos estão fazendo”, em relação às mortes em Kiev. Reiterou que, se Putin não topar uma trégua, sofrerá novas sanções americanas. Até aqui, Moscou dá de ombros publicamente à ameaça.
O americano também promete incrementar o envio de defesas aéreas para Kiev, por meio de um esquema no qual os europeus pagam a conta, mas este é um processo lento e que vem sendo ultrapassado pelos improvisos e avanços na tecnologia militar.
NOVO DRONE DIFICULTA VIDA DE KIEV
A novidade de julho nos céus ucranianos foi a chegada de um novo tipo de drone de ataque a jato russo. Ele é uma variante do onipresente Gerânio-2, por sua vez uma versão refinada do modelo iraniano Shahed-136, que ficou tão famosa que virou sinônimo de robô kamikaze na guerra.
O ministro do Interior ucraniano, Ihor Klimenki, disse ao site TSN que um número incerto desses drones estava na onda de ataques da quinta, que envolveu 300 aviões-robôs e 8 mísseis.
A suspeita é de que o novo aparelho seja uma versão da segunda geração dos Shahed, a 238, que emprega um motor a jato miniaturizado. Ele carrega a mesma carga bélica do modelo a hélice, 50 kg de explosivos, e tem alcance similar, de 2.000 km.
Mas sua velocidade chega a 600 km/h, ante 180 km/h do Shahed-136/Gerânio-2, e ele pode voar bem mais alto. Com isso, nas telas de radar eles são confundidos com mísseis de cruzeiro subsônicos, obrigando o emprego de defesas antiaéreas mais sofisticadas e caras.
As iscas desarmadas já causavam problemas semelhantes, mas ao menos eram gastos com elas disparos de canhões e metralhadoras para alvos de baixa altitude. Já um míssil ar-solo do tipos alemão Iris-T usado pela Ucrânia custa até US$ 1 milhão a unidade, enquanto o ainda mais sofisticado PAC-3 usado pelas baterias Patriot americanas sai por US$ 4 milhões.
Enquanto isso, os Shahed da geração a hélice saem em média por US$ 25 mil, e estima-se que os a jato custem talvez o dobro. A conta não fecha, assim como a quantidade: Moscou hoje produz 2.000 Shahed-136 por mês, e pretende fechar o ano com mais de 4.000 mensais.